sábado, 4 de junho de 2011

Os 30 melhores poemas de Otto Dusquene, até agora - por ele mesmo (30)

Sempre acho a morte onde mais espero

duro é aguentar a obviedade
99% do que as pessoas dizem não são aproveitáveis
as vidas de milhões não são aproveitáveis, são cracas no asfalto quente
e a esperança de que tudo pode melhorar é um engodo maníaco
e a maior dificuldade é que as pessoas não enxergam isso
e acham suas vidas magníficas, plenamente toleráveis

faz duas décadas que não compro um livro sequer
porque sei que não há um autor que preste,
que possa me dizer, de uma maneira diferente,
aquilo que já assimilei nos meus 47 anos de estrada

antes, bem antes, li o suficiente para saber que agora não existe mais nada
só frouxidão, câncer e linhas mortas
nas bibliotecas públicas

mas tenho que seguir de algum modo: então escrevo para mim
é um mecanismo particular para escapar do vagalhão de bosta
da doentia alegria, da fé insana, da estupidez espectral
do mundo

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