quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

Paisagem com um quê de saudade indizível

já basta de tanta
gente sem finalidade
caminhando nas ruas
já basta da enormidade do nada

cada vez mais me impressiona
- não, já não me impressiona mais -
as caras opacas, sem qualquer lampejo
de significação.ou dignidade

seres amorfos
por dentro, visivelmente
- não quero conversa com 99,99% da humanidade
- nem esses querem comigo, o que já é um bom propósito

fiquemos assim
eles lá,
eu aqui,
calmamente bebendo meu drink
até a consumação,
deles ou minha

Uma conversinha no almoxarifado...



“Não tenho nada de errado, Wilburn. Sou perfeitamente capaz de lhe dar uns tabefes”.

“Deixe disso, Fred. Não falei dessa maneira. Você olhou pelo lado torto”.

“Quando você falou foi pra sacanear. Conheço bem pessoas de sua laia, Wilburn”.

“Não falei por mal quando disse ‘me dê uma mão, aqui’. Estou com problema na contabilidade, é só. Queria uma ajuda”.

“VOCÊ É UM TREMENDO CANALHA, WILBURN! UM GRANDESSÍSSIMO FILHO-DUMA-PUTA!”.

Daí Wilburn partiu pra cima de Fred, que só tinha um braço e não teve como se defender.

Uma ansiedade que me anima


se ela vier é porque quis
estarei aqui esperando no apartamento
o gato passará no patamar da janela
anunciando sua chegada
mandarei que ele desça

então, eu me levantarei
abrirei a porta e uma cerveja
e esperarei sua chegada
aguardarei um pouco mais
e fecharei a porta
se ela não vier...

sempre fui avesso a esperas
mas, por ela, farei um esforço
mas depois de dez minutos
voltarei a colocar meus pés
sobre a mesa de centro
coçarei meu saco
e abrirei outra cerveja
talvez não nessa ordem

Tenha fé, meu filho amado



Ruby tirou com cuidado o pássaro ferido da caixa. Tinha uma asa quebrada. Ele o encontrara num jardim a três quarteirões, se debatendo. Um gato já vinha em sua direção, quando Ruby o tirou do chão. O gato parou e pareceu dizer "ei, cara, esse lanche é meu". No caminho, Ruby o colocou numa caixa de sapato jogada no lixo.

Em casa, Ruby colocou uma tala e enfaixou a asa do animal. Depois, foi procurar umas coisas no fundo da estante. Voltou com um bom pedaço de isopor e os troços. Pegou o pássaro e o colocou sobre o isopor. Prendeu o corpo da ave com um pano ligado a alfinetes. Com o pássaro imobilizado e piando, Ruby com o alfinete que sobrara começou cuidadosamente a furar seus olhos.

segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

...

o cheiro do vinho tinto no copo americano
venha a dama com bafo de menta
e o ventilador de cabo espantando o bolor
sobre a tábua corrida uma barata vai
"Ei, camarada, o que que faremos esta noite?"
"Que tal olharmos a lua cheia?"
"Dusquene, você não sairá deste sofá, e sabe disso?"
"Talvez possamos continuar bebendo o velho vinho..."
"Estamos bebendo desde às cinco..."
"Baby, não força, que tal mais um trago?"
"Que tal ficarmos daqui, vendo uma fresta da lua?"
E ficamos, assim, nisso
Ela e eu... e foi bom, muito bom

domingo, 13 de janeiro de 2013

...

há muita aspereza em tudo
e quase não vemos além da crosta
e a vida anda no seu normal
e quase não vemos nada de realmente
proveitoso
as pessoas vão e vêm porque o homem
é um ser inquieto
e nessa inquietude, tumultua, perverte, mata

terça-feira, 8 de janeiro de 2013

Toma-se no cu a toda hora

Quanto acordamos
Quando mijamos
Quando falamos
Quando arrotamos
Quando bebemos
Quando cagamos
Quando esquecemos
Quando lembramos
Quando...
Quando...
Quando...

Aprenda, camarada,
VIVER É TOMAR NO CU!


Quero você agora e toda

enquanto ela dorme

EU POSSO BEBER, PORRRRRRRRRAAAAAAAAAAAAAAAAA!


Enquanto há esperança, na sombra o rato dorme

o caminho que percorremos
a bebida que tomamos
o grande monturo que é a vida
de cada um e de
todos

um monte de coisas
erradias
como ratos no soalho
vento forte batendo
nas persianas
dos janelões esquecidos
abertos no 13º andar

o mundo é ISTO!
grande SHAKES que disse
que a vida é um emaranhado de sons e fúria
sem razão alguma

VIVAMOS, ENTÃO, ESSE ROLO DE BOSTA
CON-FOR-TA-VEL-MEN-TE

You


Você,
que pensa que será grande daqui a alguns anos,
que pensa que realizará seu sonho sob água matinal,
que permanecerá sempre tentando,até o esgotamento,
que sobre derrotas nada falará, justificando-as todas,
que fará uma merda atrás da outra

Você,
que buscará no álcool qualquer coisa de humano, e ficará vencido,
que procurará qualquer coisa sob o solar da lua morta e nada encontrará,
que desmontará a maquete antes mesmo do primeiro tijolo cozido,
você, homem, você, você mesmo, que dormirá com os porcos, no trajeto,
e que clamará aos céus pelo aniquilamento

Você,
que imaginará ter um tesouro sob a pedra,
que vomitará bílis e desejos ao lado da gorda mesa,
que espantará pombos como bichos humilhantes,
e se servirá do último drinque no copo americano,
você, homem, você, você mesmo, que é da América,
nua, escura, úmida, calorenta, bela
como uma stripper

Você,
que perderá os culhões sob as fachadas luminosas dos supermercados,
que antecipará o pagamento da empregada por pena e asco e insinceridade,
que dormirá sob as estrelas em uma noite clara de vigília bêbada,
que deixou para trás todo o legado de 50, 60 e 70,
que esperará somente viver um pouco mais mais,
para que o urso ainda tente abocanhar o peixe,
ou algo, assim, idiota e totalmente humano,
assim é, homem, assim