domingo, 21 de outubro de 2012

Um dia fenomenal em Kansas

um dia o porre foi tão bruto
que guardei a carteira no congelador
do refrigerador
acordei tonto, tropeçando na cadeiras,
uma dor de cabeça infernal,
fui até o banheiro,
vomitei,
depois vi minhas calças
jogadas no corredor do apê,
o alarme acendeu,
fui direto nos bolsos:
- Cadê a porra da carteira? Oh, meu Deus, não faça isso comigo...
Revirei o apartamento como um insano,
procurando a droga da carteira,
tirei almofadas, botei o rosto nos fundos do
armário, observei se debaixo do tapete tinha algum monte,
olhei até na privada, para ver se não estava entupida,
com a ponta do objeto pra fora. Nada.
Aproveitei e caguei para regular os nervos,
me acalmar, respirar.
- Caralho, fui roubado ou deixei a carteira cair do bolso,
em todo o caso, FODEU!
me lmpei e fui até o refrigerador,
uma cerveja talvez melhorasse as perspectivas,
fui, imaginando os documentos que teria que tirar 2ª via,
peguei a Bud e, não sei o porquê, resolvi olhar o congelador,
E LÁ ESTAVA ELA, A MALDITA DA PORRA DA CARTEIRA!!!
A segurei com fervor, tremendo, como se tivesse
em minhas mãos os pregos da Cruz de Cristo.
Beijei o troço petrificado,
sorvi um longo gole da cerva,
e, relaxado, coloquei  a carteira aberta,
ao sol,
e, bem, tudo voltou a ser a maravilha de antes,
um vida que não era das piores.



sexta-feira, 19 de outubro de 2012

...

A merda é não ter quem fale por você; não meu amigo, a merda é o discurso unitário, doido. Como qualquer discurso, fique prevenido, sempre, é fascista.

Meu ódio ou um pouco mais que isso


Minha antipatia
Não é com você, meu amigo,
Não tenho pessoalmente nada contra sua estampa,
Minha antipatia é com o mundo,
Sou contra aquilo que nele existe e se perpetua

Minha antipatia não tem a nada a ver com você,
Não me interessa saber o que alguém faz da porra de sua vida,
Daquilo que nela existe e fede

Minha antipatia é desprezo puro,
Tangível, inabalável, crescente, meio doido, como a doidice do apostador,
Só os idiotas riem de idiotas, nos bares (hoje rirão juntos),
Prefiro ficar apenas bebendo, conversando com os toleráveis,
Não, não estou também falando de você agora, camarada,
Falo do que vejo e escrevo sobre o que não gosto,
É só

segunda-feira, 15 de outubro de 2012

O que guardo em mim e é um pouco humano


1
Sempre que eu vejo a miséria humana, me surpreendo como podemos ir cada vez mais baixo.

2
Existir não é nenhum problema. O problema é a carga que nos colocam sobre os ombros para isso.

3
Deus não estava de bom humor quando me fez.

4
Sinceramente, sou até um sujeito legal, quando não encontro pessoas.

5
A melhor bebida é sempre a penúltima da penúltima.

6
Foder não é para amadores.

7
Casal que trepa unido, divorcia.

8
Ninguém fica feliz no Natal.

9
No Natal, quem paga o pato é o peru.

10
"Acima de seis, é suruba", me disse Sarah Lee.

Um fato diário de mim mesmo

Os sujeitos ficam sentados no bar, esperando o resultado. Quando o resultado sai, olham as pules e grunem "Que merda! Os números que deram não se encaixam no meu sonho. Não mesmo...". E jogam novamente, na mesma esperança vã de ganharem algum para a bebida, para comprar um charuto do bom, para beber um uísque de responsabilidade.  Vão todos num mesmo prato da balança, que inevitavelmente pende para o prato da banca. Às vezes, sobra um para algum. É a festa. O sopro de Deus no talonário das pules. "Willfred ganhou na milhar. 14 mil. Esse Willfred tem o cu pra lua!". Mas na grande parte (na maioria mesmo!) dos sorteios a banca sagrasse vitoriosa. A banca, meu camarada, é o verdadeiro Deus, que permite que você receba um alento ou vá sofrendo, grunindo e rasgando pules verdes e amarelas pelas calçadas da Pomerode.

domingo, 14 de outubro de 2012


Hanna comeu meia pizza gigante. E disse:  - Mais tarde farei um lanchinho.
Allfie olhou para ela com cara de nojo.

sexta-feira, 12 de outubro de 2012

A hora em que não dormimos sós de nenhum jeito

Bill tomou uma tragada e foi cagar. Millie estava na sala com o pequeno John no colo, pronto para fazer no resto da tarde o papel da boa esposa. Iria fazer o café dentro de 30 minutos. Bill iria comprar pão e leite. Comeriam em comunhão e ficariam felizes como bons americanos. Aí Millie viu uma propaganda chamado a América para conhecer o Hawaii.

- Bill, por que nunca fomos ao Hawaii?

Saindo do banheiro, Billie respondeu:

- Por pura falta de grana, baby.

- Um dia vamos, não vamos?

- Esperemos o Jonhnny crescer? - disse o marido olhando para o final da propaganda na TV sobre o 50º estado.

- Você sempre adiando meus sonhos...

- Porra, agora seu sonho é o Hawaii? Por causa desta bosta de comercial? Ontem não era Paris?

- Era. Mas mudei.

- É... ao invés de cruzarmos o Atlântico, cruzemos o Pacífico...

- Você não gostaria?

- Gostaria é de ver a NFL agora. Sossegado... Com um cerveja na mão, depois da semana que tive nos Correios...

- Pro caralho as suas conveniências, Billie - disse Millie, levantando-se com o pequeno John no colo, que já chorava.

- Quer saber. Cê não sabe que o Hawaii era uma colônia de leprosos, ou coisa parecida. Depois do Elvis ir até lá e dizer "Aloha" é que virou essa merda toda...

Mas já era tarde, Millie já se trancava no único quarto do apê com John.

Ah, o Hawaii.

Conformação

"Cê viu sua mulher transando com o cara e não deu a mínima?"

"Para que? Dizer que me importo?"

"Cê não ama ela?"

"Só, às vezes, quando ela não me constrange..."

...

enquanto ela ainda dorme...


estamos muito sós a qualquer hora
mesmo com quilos de ideias na mente
mesmo com o rugir da estupidez planetária
mesmo com essa bagagem de vida
mesmo com tudo isso – e um pouco mais

preciso desse isolamento?
preciso mesmo é da sala do apê iluminada,
dos móveis práticos, maleáveis,
de uns tira-gostos me esperando,
umas latas de cerveja no congelador,
preciso um pouco disso tudo

bom mesmo é voltar para casa
ver Gill dormindo tranquila
ronronando seu ronco
de gata em lençol
de linho

quinta-feira, 11 de outubro de 2012

Mother, father, sweet home


"Mamãe, aí o gatinho, aí..."

"O gatinho vai atrás de quem, Liza?"

"O gatinho? O gatinho, assim, ó..."

"Não é o cachorro?"

"Não confunda a menina, Eldon"

"Mamãe, o gatinho? É, o gatinho... Aí a gatinha foi..."

"Tá vendo, ela já sabe das coisas"

"E o ratinho, Liza? Onde está o ratinho?"

"O gatinho? Tá ali... O gatinho? É... O gatinho? Aí ele foi... Aí, a gatinha...".

"Pelo visto isso vai até amanhã", disse Eldon, voltando a ler o jornal.

"Deixe a menina, Eldon"

"O gatinho? O gatinho foi... dormiu..."

...

3

Bullgreen encontrou
Genie molhadinha da cintura para baixo
... na piscina

...

2

Megg Lee
foi ao bosque
encontrar o lobo mau
que não quis conhecê-la
por medo da herpes genital

...

1

eu,
esse ponto em meio a milhões,
nesta cidade pavorosa em que pessoas se levantam de suas camas
para fazer alguma coisa que só importa a elas, que somente elas julgam NECESSÁRIA,
e não medem esforços para atingir, bem, isso já é um fator a se levar em conta,
quando formos bater a contabilidade

segunda-feira, 8 de outubro de 2012

...

qualquer coisa é um tiro no saco,
viver é um tiro no saco,
detesto cada vez mais as pessoas,
são repugnantes, em essência,
todas pensando nas suas felicidades,
em ter momentos agradáveis, em viajar
para qualquer canto para conhecer
pessoas agradáveis, beber, descansar
numa espreguiçadeira branca, de neve 

sonhando bolas deletérias
de nada, nada em suas mentes,
como um peixe enfermo num aquário,
tomado pelo lodo grosso e nauseante
das irritabilidades, da falta de humor,
da sensaboria que tomou conta de 
suas vidas, há muito tempo

qualquer coisa que se diga agora é,
sim, um tiro no saco de Deus,
que o velho está cheio dessa droga, 
duvido que não



 


sábado, 6 de outubro de 2012

Cotidiano


encontrar culpados é fácil
mas a situação se complica
quando o ambiente é o mesmo
quando as caras e os corpos
são os mesmos e as expectativas
diminutas

certamente isso não ajuda muito...
enquanto o preço da gasolina não se estabiliza

então,
suamos nossos trocados, tentamos tomar fôlego,
escapar da ARMADILHA, do GRANDE MAL,
do MONSTRO cotidiano do TÉDIO

inventamos histórias, escrevemos,
conversamos, trepamos,
mas nada disso importa muito
até nossa morte

então,
esgotadas todas as chances,
rasgado o pano verde, perdidos os dados,
nos damos por vencidos
e vamos ao primeiro bar para o último drink,
com o pouco de hombridade
que nos resta

enquanto ela ainda dorme...


estamos muito sós a qualquer hora
mesmo com quilos de ideias na mente
mesmo com o rugir da estupidez planetária
mesmo com essa bagagem de vida
mesmo com tudo isso – e um pouco mais

preciso desse isolamento?
preciso mesmo é da sala do apê iluminada,
dos móveis práticos, maleáveis,
de uns tira-gostos me esperando,
umas latas de cerveja no congelador,
preciso um pouco disso tudo

bom mesmo é voltar para casa
ver Gill dormindo tranquila
ronronando seu ronco
de gata em lençol
de linho

Escadas rolantes fazem mal aos olhos


Sou obrigado a ver dezenas de bundas murchas, ignóbeis, toda vez que subo uma escada rolante. Por isso, deveriam ser proibidas. Não as bundas, mas essas escadas. Não quero vê-las (as bundas), mas elas ficam enfileiradas e em ascensão na minha frente. Não há como não notar. Temos que cuidar dos nossos olhos assim como cuidamos dos genitais. Podemos sujá-los às vezes, mas não toda hora. E escadas rolantes sempre oferecem um espetáculo constrangedor.

O formato é variado. Existem os de bunda chapada ou reta, de bunda meia bomba, de bunda meia-taça (em que os pomos caem de repente e ficam ali, pendurados, como massa desprendendo) e os bundões - ou quase isso. Há também o bundão cavalar, megalômano, indecente. Tem de ser de ferro a privada para aguentar um desse tipo.

Todos os dias na volta do metrô sou forçado a me deparar com essa tragédia móvel. Mas há um consolo. Algumas mulheres têm atrás o que muitas vezes lhes falta na frente. E disso eu gosto.

quarta-feira, 3 de outubro de 2012

Um é algo e nunca

qualquer coisa antes das 19h é uma droga,
um desperdício de tempo,
um trabalho repetitivo para gente que geralmente não merece
nem o nosso olhar, misericórdia alguma.

almas de escritório, seres cartorários, almas mortas,
sem assunto, sem verve, sem gana, educadas demais,
aprazíveis demais, manejando suas gorduras e "bom dias".

é, mas depois das 19h há sempre a possibilidade do drinque
no Steffano´s, longe disso tudo e dos prédios quadriculares.





A merda nossa que vaza todos os dias


o diabo é
o ramerrão
a falta de perspectiva
de grana
as solas dos sapatos gastas
as meias furadas nos dedos e nos calcanhares
o sem saco de
comprar meias e sapatos

o diabo é
o sol, o maldito sol rompante,
o café oxidado
na térmica
de quinta
a danação das ruas
a vontade de ver ninguém
a ressaca bruta
o bolor no armário
e o periquito verde
do vizinho
a pane mental, enfim,
a perda de sensibilidade...

Catálogo das mulheres que não tive


ela é sexo puro
um ser alado e portentoso, essa mulher...
suas asas são suas omoplatas
- sempre considerei as omoplatas femininas como asas
em nascimento

ela se volta
um instante e sorri
só assim sinto que nem tudo está perdido
que talvez valha a pena colocar a mão na merda
e revolver o limbo à procura da pérola

só assim
penso que exista vida
pelo menos nela
em seu corpo esguio, louro, branco

então, a minha dureza, meu egoísmo
meu ódio por tudo, a minha falta de fé
em relação à humanidade
quase chegam a desaparecer
quando ela surge na calçada
e logo desaparece
numa maldita
esquina
que não deveria
nunca
estar ali

Sensação de merda no sapato esquerdo


é preciso sinceramente que haja algo melhor que isso,
do que observar esses rostos óbvios, frequentes,
à espera do próximo pagamento,
do próximo telefonema,
da próxima viagem interestadual,
do próximo fim de semana,
do próximo reality show,
para que eu consiga me apossar
das sobras de mim

não quero ter contato com 99% da humanidade
mas estou cercado desses 99%
sou um ser solitário e mal-humorado
não me dou bem com gente
só com cervejas e jogo de números

a cada dia a tensão aumenta
não consigo sequer olhar para seus rostos...

mas sempre há a perspectiva
da próxima viagem interestadual,
do próximo fim de semana,
do próximo reality show,
do próximo telefonema,
para que, enfim, esses 99%, envolvidos pelas novidades,
desapareçam por algumas esplendorosas horas

terça-feira, 2 de outubro de 2012

Entre o mundo perdido que eu não tive apenas

1
150 quilos
e comendo amendoins...

2.
Muita gente que eu olho, me enoja.

3.
Não sou um poço de virtudes.

4.
Viver é paciência.

5.
O mundo não se vê num dia.
Vê sim.
É só abrir a janela do quarto, porra.

6.
Ser humano é a mesma impiedade. Aqui, em Pequim ou em Tegucigalpa.

7.
Beber é um modo apenas.
Um entre tantos...

8.
Qualquer pergunta merece o SILÊNCIO.

9.
Qualquer pergunta é INVASIVA.

10.
"Dusquene, o pato que anda".
O Duc.


Ei, cara, vá para o inferno... e leve sua mãe


Eu não ando legal, mano
Não brinque comigo
Não ando bem nessa selva de pedra
Realmente não estou confortável

Eu deixei de fumar há onze anos
E por isso ando nervoso,
facilmente irritável

Hum.... Huuummm...
Mas aquela dona de peitos imensos
Aquilo está me deixando easy
É, legal,

Isso, e o uísque,
A minha fé nos homens é mínima, risível
Mas não a maldita sorte dos diabos
Quem sabe? Vamos apostar um pouco...
Leve

Muitos são a pior imagem de si mesmos
ééé -
e não podem ir mais fundo no poço,
pois já estão nele
até o umbigo
ou em um nível
mais abaixo
cheirando bosta