segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

Cavalos ou.... o que vier de lambugem

Malcom tinha uns dentes separados. "Ei, Dusquene, tive um sonho doido, cara". "Que foi?", "Um páreo de bucetas!". Malcom riu seu sorriso de dentes grossos e separados. "Como é?" "Isso que cê ouviu. Um páreo de xoxotas. As bucetas largaram para ganhar o grande prêmio". "E qual era?" "Uns caralhos tesos na horizontal na linha de chegada. Já imaginou..." "Não, não imaginei". Malcom ria, feliz: "Algumas xoxotas tinham os lábios finos. Outras tinham uns grossos que nem dedo de alcatra, Duc. Demais não?". "É". "Umas eram louras, outras rapadas. Uma ruivas. Outras escuras e peludas como um Pé Grande". Malcom gostava realmente daquilo. "Sabe quem levou o páreo?" "Tá, diz, quero ouvir a merda toda". "Piriquitinha, uma azaronaça. Ganhei 350 mangos". Sai. Era demais até pra minha bebedeira. Malcom continuou na corrida, rindo, um vencedor.

domingo, 26 de fevereiro de 2012

Você

você é a pessoa mais fabulosa
que aconteceu em minha vida
não existe outra mulher, nenhuma
as brigas são lembranças espetaculares
a troca de palavrões,
a vida caminhada junta,
e a falta de tempo para nós mesmos,

mas você me faz a vida mais leve,
faz com que eu acredite
no pote de ouro
mais na frente,
que tenho visto...

você é o meu amor, você é a beleza,
você é Guernica ao contrário, baby

sábado, 25 de fevereiro de 2012

ninguem bebe mais ali

a vida é uma coisa miserável, uma teia
e nós somos as moscas que caímos nos fios,
e a Aranha, o destino que nos vem devorar
ou nos enrolar para comer mais tarde,
na janta

eu não quero ter amizade com pessoas mais velhas do que eu
ontem, soube da morte de mais uma mosca,
um sujeito perdido pro diabetes e pra bebida,
morreu deprimido, indo e vindo de internações,
trancou-se por fim no quarto,
uma coisa bem triste,
e se foi

minha válvula de escape é escrever sobre tudo isso,
sobre essa droga toda sem sentido algum, sem motivo para ser,
sobre o fim inexorável e patético,
que nos espera, sem ansiedade,
sem compaixão alguma,
nenhuma

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

Baratas, meu mundo delas não sai

As baratas do almoxarifado são legais. Eu me apeguei a algumas delas. Edgar é o cara das costas pretas, tem uma asa fraturada, a esquerda. É dobrada pra cima. Creio que ele a bateu no pouso, não sei. Buster é quase do tamanho de Edgar, mas é pálido como uma beluga. Buster tem classe, caminha pisando leve, como Fred Astaire, mas é velho de casa. Conheço ele a uma porrada de meses. Ele gosta de aparecer no meio da noite, um pouco depois de Edgar. Edgar geralmente fica entre a segunda e a terceira prateleiras. Buster não, sempre na quarta, juntamente com ela, a minha favorita. Molly é a menorzinha e se esconde realmente bem no final das caixas de papelão. Só lá pelas 22h, quando estou realmente sozinho, na vigília, que ela aparece, devagarinho. Põe a cabeça pra fora. "Oh, é você Molly, hoje trouxe uns farelos de biscoito de coco. Taí. Não sei se vai gostar. Buster não quis. Está de dieta. Mas é melhor que a velha mazeina". A coisa ia assim, eu e meus animais de estimação. Sempre disse pra Edgar ficar atento. "Pare de se aventurar na segunda, fique na terceira. Os caras podem te ver na caminhada". Não deu outra. "Porra, que merda é essa Dusquene? Aqui tá cheio de bicho". Não deu tempo pra nada. Buff descarregou toda a raiva de séculos em Edgar. Depois olhou pra mão, contendo Edgar pulverizado. "Bosta", disse. Limpou meu pobre amigo em seu macacão. "Bosta, não. Ele se chamava Edgar". Buff não entendeu. "A barata que cê matou, desgraçado", eu disse. Buff me olhou. Apontou o dedo pra mim. "Cê é doido cara, ou passa tempo demais aqui nesta caverna". Depois da tragédia, Buster e Molly regularam mais as saídas. Passei a colocar as refeições somente às 23h.

domingo, 19 de fevereiro de 2012

Esta noite a lugar nenhum

eu não irei a lugar nenhum esta noite
com essa lua, esse tinto, a camisa manchada
imprestável como seu dono
minha dona já dorme
e eu bebo na garrafa, na sala,
olhando uma lua cheia inacreditável,
pernas escoradas numa outra poltrona

três da madrugada,
me sinto deslocado, alienígena, feliz enfim,
baixo os olhos até o dorso vazio do asfalto,
calma em tudo, o mundo perfeito,
sem ninguém, sem trânsito algum,
só o semáforo piscando à meia distância amarelo,
para o nada, o nada

"Dusquene, é você?"
"Eu? Quem?"
"Estou falando da lua. Quer dar uma volta? Ver a Europa de cima".
"Obrigado. Prefiro ficar neste tinto. Além disso,
está meio complicado por lá. Prefiro continuar lhe admirando daqui".
"Entre em contato quando precisar, sim".
"Tudo bem, camarada".

Olhei a garrafa, ainda tinha um quarto.
Emborquei...
Que lua, fdp! - pensei

sábado, 11 de fevereiro de 2012

Enquanto na veneziana aberta do meu pobre ser

1
Qualquer um pode ser um idiota. A burrice não tem proprietário único.

2
As mulheres têm a propriedade de fazer os homens tremendamente infelizes, quando fazem disso a razão de suas vidas.

3
Escrever é confissão.

4
O escritor não precisa de páginas em branco, ncessita ter vivido, pelo menos um pouco.

5
Me disse Rose:
"Dusquene, quando você prestar, você não escreverá porra alguma que preste".
É, você sacou o lance, Rose.

6
Não se engane, camarada,
Você está tremendamente só.
Não se deixe enganar...

7
Bill fugiu com Lilly
E que merda eu tenho com isso?

8
Ninguém sabe o dia de amanhã
Mas muitos não sabem nem o de hoje,
o que fazer de suas pobres vidas

9
O fim é o fim, amigo.
Tente adiá-lo, se você conseguir, me ligue.

10
Abraço do Otto

terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

O caralho que eu acredito que venha de mão aberta

Maddox Firgen resolveu que era hora de acabar com aquilo. Vinte por dia era demais. Foi falar com Frank, o cafetão. "Não estou aquentando. Estou toda assada, lá embaixo parece um vulcão, preciso de um tempo". "Como é? E quem vai pagar as suas contas? EU? EUZINHO AQUI!?" "Mas, Frankie, preciso dar um tempo, para recuperar a ... e o ... Cê entende?" "Entendo droga nenhuma. Reduza para 15. É só". "Não dá, tem que cair pela metade". "Tá. 10". "Vamos deixar por 5, Frankie. A pele está sangrando de tanto atrito". "Porra, tudo bem, 5". "Por um mês e meio". "Um mês e meio?!" "É". "Caralho, tá bom". "Depois mantemos nessa média, de 5". "O que? Tá bom, mas CHEGA!" "Frankie, você é um doce de criatura".

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

Eu que estava só e agora nem tanto

quando eu não tiver mais nada que pensar
pensarei nela
quero que seja dela
a minha última lembrança

essa mulher,
só essa mulher
é o que importa,
apesar de tudo isso

ela ainda uiva seus gritos insanos
mas sei bem o que ela é
e o quanto ela me serve
e o quanto sua lã
me esquenta o coração

é, camarada, ela me faz querer ser
- como disseram naquele filme -
um homem melhor, um pouco,
somente o suficiente
para que ela ainda me tolere
ou até mesmo, quem sabe?,
me ame, levemente