segunda-feira, 30 de abril de 2012

Sob a marquise, o gelo

quando sentamos
na mesa de um bar
temos que lembrar
das possibilidades
e não remoer derrotas
estas já pagamos caro,
ou perdemos a mulher,
ou mijamos fora com o chefe,
ou chutamos o cão

mas, que diabos!,
quem nunca fez
uma cagada da grossa na
porra da merda dessa
vida ordinária

Bill pedia desculpas
de hora em hora,
até que a chefia cansou
das desculpas de Bill e
mandou ele pra rua

é assim que funciona o esquema
todos nós seremos despejados um dia,
ou pela mulher, ou pelo maioral da ocasião,
ou pelo cachorro, ou por Deus,
não importa

e sentaremos
num bar qualquer
cerzindo nossos traumas
familiares, nossa incapacidade,
antevendo o inferno que virá
quando dobrarmos a primeira esquina,
logo em frente






...

O mundo perdeu a inocência com
a Segunda Grande Guerra
Os anos 40 do Século 20
encerram um importante ciclo
da história humana

isso é evidente,
guerras não podem ser feitas
mais em escala global

com as bombas que temos
iríamos à quarta com tacapes,
como já disseram

desde a criação das Nações Unidas
o mundo aparentemente é
mais seguro

o que estamos perdendo no Ocidente
é a nossa liberdade individual,
cada vaz mais devassada e pública,
a guerra agora é também interna,
mas fria, como antes

Diálogo casual no fórum

"Por acaso, você gosta de pornografia?"

"Eu só escrevo sobre..."

"Seus escritos são cheios de lodo e pus"

"Normalmente os homens são feitos disto"

"Entenda, Sr. Dusquene, sua situação é muito delicada no momento"

"Diga logo que estou fodido, meritíssimo. Sem meias palavras"

"O senhor está fodido, sr. Dusquene"

"Qual é a novidade?"

"Como?"

"Acordo fodido, cago fodido, bebo a borra do café fodido. Trabalho fodido. Volto pro apê fodido. Só fodo quando estou com Gill"

"Quem?"

"Minha mulher"

"Ah... Bem, por hora está dispensado, sr. Dusquene. Volte a este tribunal quando for intimado. Mas antes..."

Deixei uma dedicatória para o juiz no meu último livro de poemas, que ele me apresentou. Continha os poemas mais indecentes que produzi até hoje.

Deixei o tribunal e fui ao Finnegan's tomar um trago.

Todo mundo gosta de uma sacanagem.

sábado, 28 de abril de 2012

Gatos em noites quentes

gatos nos telhados...
o sexo deles
é uma briga insana,
visceral,
puro dentes, garras
e raiva.

fazem o troço
como deviam fazer
homens e mulheres.
com frenesi
e desespero,
como faca,
rilhando a campa
da noite.

e a lua, vendo tudo aquilo,
todas as fodas –
as nossas e as deles –
deve pensar
"os gatos são melhores...
podem não ser os dominantes,
mas sabem o que e como fazer”

Otto Dusquene

Por que não antes?

ela não veio como eu esperava
mas em uma curva da existência
quando não havia mais credo,
esperança

quando veio, pensei ser tarde
que minha mediocridade
não se encaixava em sua beleza
esplêndida

quando surgiu, o que me restava
dizer? Mostrar?
O que fazer para ocultar
minha insignificância?

são mulheres assim
que tornam os homens melhores
que fazem os homens duvidar do nada
antever possibilidades,
mas "por que só agora?"

ela veio me resgatar
do abandono
sedar a dor
secar meus olhos
dar algum sentido
a tudo

veio simplesmente,
trazer uma palavra calma, cuidar de mim,
"chegar de beber, Duc, vem dormir, querido"

SORTE! Meu amor recluso...

Não jogo há um mês. As pedras me ludibriaram. Estou puto. Dei um tempo. Não adianta forçar a barra quando a Sorte – ou algo parecido com ela – não colabora. Como já comentei, faço uma aposta leve, por diversão. Uma vez ou outra arrisco uns trocados a mais. Nada desesperador. Não quero perder o sonho com isso.
O país não tem me favorecido. Os imbecis estão por aí coçando o saco e ganhando dinheiro. Cada coçada, dois mil. Como conseguem? Eu ainda encontro a porra dessa fórmula esquecida num balcão de farmácia, sei lá. É de impressionar como coisas boas acontecem a pessoas medíocres. Não precisam mexer um músculo e os bolsos já estão cheios de grana – não sei se obtida de maneira lícita ou ilícita, isto é com cada um.
Sempre tive algo semelhante à fé. Uma certeza, talvez. Certo otimismo escondido e indesculpável. Embora desanime no curso da obra, não sou daqueles que jogam a toalha no primeiro ou segundo round. Sou curioso. Quero ver como a coisa vai terminar.
Só estou dando um tempo.
Um dia, quem sabe, a Sorte entrará por aquela porta e sentará no meu colo.
“Ah, Dusquene, que bom que desta vez será com você”.
“Baby, eu nunca te vi, mas sempre te amei”, direi eu, original, passando o braço em sua cintura.

Vá, agora

Vai, não tema
você só tem um
motivo para seguir
em frente: você

Foda-se
quem não lhe der força
vai, tente, encare
a vida com garra,
camarada

Sempre existirão
f.d.p. no caminho
você queira ou não

Mande-os à merda,
esqueça-os, siga, vá,
caminhe sobre eles,
sem medo

Só há um sonho,
o seu, e ninguém
fará com que ele aconteça
por você, ninguém

Não faça planos,
apenas vá e realize,
tome a carga,
para cima, sempre,
adiante, mano

antes que venha
a noite e
tudo se apague
e fique triste
demais para que
você pense
em viver





sexta-feira, 27 de abril de 2012

Um terço da Humanidade em caos

1
Sexta-feira. Tempo dos amadores.

2
As pessoas deveriam passar 90% do tempo de boca fechada.

3
Todo idiota é um convicto.

4
Nenhuma mulher decente casa.

5
Vinho quente é uma afronta aos deuses.

6
O melhor quadro do mundo é a mulher nua. Bem, nem todas. Nem todas mesmo.

7
"Dusquene, você nasceu para ISTO, rapaz".

8
Duro é pisar no chão, enfrentar o ramerrão durante 29 anos.

9
Trabalho é coisa para vencidos.

10
Sorte aí, Dusquene. É, pelo menos dizer algo positivo a mim mesmo, engana.

Escadas rolantes fazem mal aos olhos

Sou obrigado a ver dezenas de bundas murchas, ignóbeis, toda vez que subo uma escada rolante. Por isso, deveriam ser proibidas. Não as bundas, mas essas escadas. Não quero vê-las (as bundas), mas elas ficam enfileiradas e em ascensão na minha frente. Não há como não notar. Temos que cuidar dos nossos olhos assim como cuidamos dos genitais. Podemos sujá-los às vezes, mas não toda hora. E escadas rolantes sempre oferecem um espetáculo constrangedor.

O formato é variado. Existem os de bunda chapada ou reta, de bunda meia bomba, de bunda meia-taça (em que os pomos caem de repente e ficam ali, pendurados, como massa desprendendo) e os bundões - ou quase isso. Há também o bundão cavalar, megalômano, indecente. Tem de ser de ferro a privada para aguentar um desse tipo.

Todos os dias na volta do metrô sou forçado a me deparar com essa tragédia móvel. Mas há um consolo. Algumas mulheres têm atrás o que muitas vezes lhes falta na frente. E disso eu gosto.

quinta-feira, 26 de abril de 2012

Tudo nessa porra que voa pela janela

O ramerrão
a coisa toda fedendo
acordar
escovar os dentes
cagar
tropeçar de sono
beber o café ruim
me vestir
ir pro trampo
suar
mijar
pelejar nas planilhas
outra vontade de cagar
passou
comer dois salgados
na lanchonete do subsolo
ver gente, droga
ver gente e mais gente
na volta do metrô
tirar a roupa
o cansaço batendo
ir pro chuveiro
abrir 6 cervejas
num continuum
é
até que não é uma vida das piores
ainda

Um lamentável episódio de minha pobre vida

Um lamentável episódio de minha pobre vida
Foi assim.

O cara do Serviço de Pessoal do Fundo de Pecúlio dos Correios me encarou e pediu que eu preenchesse o formulário de admissão. Era um gordo, empapado de suor no colarinho, os botões da camisa arrebentando.

Comecei.

Nome: Otto Dusquene

Profissão: qualquer uma que me convier (e à gerência).

Endereço: Rua Buckshoes, 135, fundos da Madison (endereço inventado na hora)

Preferências: beber "quentando ao sol". Beber perto do frigobar. Beber simplesmente.

Não gosta de: gente e tudo o que dela decorrer.

Política: não cheira bem.

Por que quer entrar para nossa equipe: estou muito só ultimamente. E preciso de grana.


Você é meticuloso naquilo que faz: depende do que for aquilo. No geral, não.

Hábitos: vide "Preferências"

Por que quer trabalhar no Fundo de Pecúlio dos Correios: vide resposta "nossa equipe".

Gosta de animais? ?! (talvez: de pombos e gatos, quando se misturam)

E a coisa foi nesse marasmo até o fim. Puro soterramento.

Depois de 45 minutos, devolvi o troço pro gordo do Serviço de Pessoal.

Aí aconteceu a merda toda. Mesmo após lerem todas as minhas referências e observações me ligaram numa tarde quente comunicando que eu conseguira a porra do emprego.

quarta-feira, 25 de abril de 2012

UMA LUMUMBA, rei de África

Um microconto do Otto Dusquene

Vicky Lane foi quem me mostrou a estatueta de UMA LUMUMBA na estante de seu apartamento. Era algo como um Buda preto, gordo, de grandes beiços, com orelhas enormes portando grossas argolas. Era feito de granito negro, me disse. Tinha 23 centímetros.

“Ela é afrodisíaca. Quem passa os dedos na boca do LUMUMBA tem uma ereção de cinco horas, dizem”.

“Opa. É disso que eu preciso...”, e fui logo estendendo a mão.

Vicky riu e parou minha mão no ar.

“Calma aí, engraçadinho, como é que EU VOU AGUENTAR as suas cinco horas de ereção”.

“Bem. Se eu roçar levemente os dedos na bocona do UMA talvez eu entese apenas uns 20, 30 minutos... e isso é mais do que suficiente para mim. Não sei se para você...”.

Outra boa risada de Vicky.

“Passe dois dedos apenas”, disse, por fim, séria, meio petulante.

Chamada ao telefone, Bugsy

estamos metidos nisso
até os ossos
essa loucura medonha,
a insensatez de querer
viver não vivendo

trabalhamos em supermercados,
lojas, sapatarias,
escritórios, oficinas,
compramos pastas de dente,
sabonetes, papel higiênico

algo passáveis por fora,
por dentro, umas merdas infames

e seguimos assim
superando os dias, os meses,
como autômatos, presos
na engrenagem crucial,
até o começo do nada

"Dusquene, você não pode escapar,
não vai se safar de modo algum,
não tem conserto, rapaz"

é o fim, o fim apenas,
que vem vindo, devagar



terça-feira, 24 de abril de 2012

...

"Ei Bullford, cê tá dormindo na mesa". "Ahh... Um uísque, aqui". "Cê tava dormindo, Buffy". "Buffy é o caralho! Dormindo uma porra que eu tava..."

"Trepei com Margot num táxi. O cara parou num beco e saiu uns quinze minutos para fumar. Foi a melhor foda da cidade. Custou US$ 45,00... A corrida".

"Aquela vaca ainda vai me tirar o tampo".

segunda-feira, 23 de abril de 2012

Café Alucinado

quero beber
um café alucinado naquela mesa,
onde estão os grandes escritores do meu tempo

não,
quero só olhar para eles,
observá-los na sua escrita espontânea
como a luz nos seixos rolantes dos rios, minando verdadeira vida,
não essa mentira estranha que bilhões de livros contam

meu café alucinado
será assim, eterno, mirando a paisagem na grande planície desértica,
antes da criação, no nada profundo, sem Vegas ainda

só quero observar esses
escritores - os que já se foram - e homenageá-los
com o meu sincero e agradável silêncio

domingo, 22 de abril de 2012

Quando nada que se tem a dizer é o bastante

1
Ser um azarão tem suas vantagens. Você fica na sombra, ninguém espera muito de você.

2
Gente que pensa demais, apodrece.

3
Os anos 80 em diante são anos jogados no lixo.

4
Boonie e Clyde é um divisor no cinema, assim como Kerouac e Ginsberg o são na literatura.

5
Cinema é vertigem.

6
Qualquer um pode escrever... Tente, amigo, tente e verá.

7
Aliás, não tente.

8
Está no sangue do homem ser corrompido.

9
Os yuppies dominaram o mundo, finalmente.

10
Vou só.

Canção

são 3h e 40 da manhã
não consigo dormir de ressaca
então, a voz diz, levante-se homem
e escreva...

mas escrever o quê e por que?
estou esgotado e puto
o ano foi foda
mais um deste e me estrepo

a voz sugere
que tal escrever um poema
com o título "Canção"
todo poeta escreve uma droga dessas
em algum momento
o seu chegou

é,
"Canção"
aí está
valeu pelos cinco minutos
que levei para compor

mas a insônia,
o gosto de metal
na boca
e a voz
ainda estão comigo

Otto Dusquene

sábado, 21 de abril de 2012

Pobres, pobres, livres e pobres

o poema vem imundo
como os becos mais sórdidos da city
sai como um bêbado ao final de uma noitada
vem trôpego, mas verdadeiro

o poema mente como uma puta,
lhe dá o que você implora,
mija morno na sua perna e pisca,
cínico, humano e eterno
como a pobreza
na city

o poema chega morto,
cheirando a séculos e ferrugem,
como o último dos últimos
copos no balcão do bar
mais fétido

é o poema,
o que devem esperar de mim

quarta-feira, 18 de abril de 2012

Nos fundos da Pomerode

"Momy, Bubble não quer me emprestar Fiply". "Dá logo Fiply para ele, Bubble". "Dou não". "Dá, senão eu vou aí e cê sabe que comigo é diferente". "Dou não". "Mooomy!". "Bubble, passa Fiply pra ele. Cê já brincou demais com o gato". "Não. Custei a amarrar ele com a toalha". "Momy, Bubble tá dando choque no gato". "Quando acabar, passe ele pro Frino, Bubble". "Humm. Tá bom Momy". E o rabo pelado do bicho mais uma vez em contato com o fio desencapado.

...

estamos sós nestes dias
como em muitos outros
passamos nas ruas por gente
que não nos dizem nada
que vai só, também

todos adiando o que realmente
querem fazer: beber, morar perto do mar,
queimar as contas, se livrar do cão,
foder a vizinha

e assim vamos morrendo, loucos, conformados
com o que a vida nos pode dar
e recebemos de mãos abertas
e felizes

segunda-feira, 16 de abril de 2012

...

é certo que estaremos todos mortos daqui há 25, 30 anos,
então, vivamos sem frescura, sem essa joça que atrapalha a vida
quero mesmo é mergulhar numa piscina azul clorada e
sair na borda e ver meu drinque preparado na beirada,
ali, pronto, um bom drinque gelado qualquer, avermelhado,
e com uma rodela, ou duas, de lima ou limão, um drinque de classe

lutemos contra a obviedade, contra tudo e todos que fazem
de nossas vidas uma tremenda cratera cheia de estrume seco,
sejamos absolutamente egoístas com as nossas prioridades,
porque são nossas e não são de mais ninguém mesmo, não

estou certo que conseguiremos alguma coisa dessa teimosia,
talvez os punhos queimados pelo ardor dos murros na parede,
não sei bem o que será, mas é preciso tentar, ir, rir, sair e ver,
afinal, certo é que estaremos mortos antes do tempo, bem antes

quinta-feira, 12 de abril de 2012

Tão pouco tempo no mísero vão da porta

aqueles que escreveram
sobre o que passaram na vida
disseram a verdade,
a sua verdade, pelo menos

foram brutos,
honestos, viscerais,
arrebentaram suas mentes
nas pilastras dos edifícios de negócios,
socaram a cara da Morte até os ossos,
fendendo seus vermes amarelos e cretinos,
levados ao chão e pisados

não fizeram LITERATURA,
esse cão sarnento, repugnante,
não se deixaram levar pela NOVIDADE,
essa puta escrota de 67 anos,
cheirando a alho e com corrimento

enfim, foram simplesmente eles mesmos,
nus

A bomba H explodindo em minha cama

1
Qualquer um pode ser um imbecil, basta existir.

2
Mulheres, bebida e sol. O Paraíso, meu chapa, é AQUI e AGORA.

3
Preliminares são coisas de amador.

4
Às garrafas, e que se foda o resto.

5
O mundo é bem melhor quando fecho a porta.

6
Sempre tive muito respeito pelo dinheiro. Ele é que não vai com a minha cara.

7
Sexo é sumo e suor. O mais é merda, poesia.

8
"Eu não gosto de você, Dusquene. Queria te matar".
"Pegue a senha. Entre na fila".

9
Mulher tem que ter seios empinados, pernas longas e anca firme. Menos que isso...

10
Mulher que não se considera um parque de diversões não é mulher.

quarta-feira, 11 de abril de 2012

...

Ainda observo você, baby, como o gato o pássaro
com fome, silêncio, sentindo o fio de sangue
com as garras recolhidas de meu desgosto...
você podendo voar a qualquer tempo
e eu?

O que há, baby? Que há?
vestimos sentimentos como roupas
comemos velhas canções desperdiçadas
para que? por que?
- hoje por obrigação, apenas

Mas, mesmo assim, tudo ainda é muito agradável,
aparentemente, quando não há mais
qualquer expectativa
no horizonte

terça-feira, 10 de abril de 2012

O que digo às ruas empesteadas

os livros que valem a pena ser lidos já foram escritos
temos 30 anos de bobagens penduradas nas estantes
best sellers, biografias (com algumas honrosas exceções),
livros de viagens, noites de cães danados, ensaios...

joguem fora essa droga
que entorpece as mentes que ainda insistem em pensar...

nem tenham estantes para acomodar essa porcaria
utilizem o espaço para colocar um objeto qualquer,
a estatueta do grande UMA LUMUMBA, por exemplo

mas não comprem livros mortos, tolos, impróprios à inteligência
não gastem seu suado (ou, muitas vezes, nem tão suado assim) dinheiro
com esse lixo urbano

sejam homens e mulheres de coragem...

A vizinhança de um andar para o outro

"Poppy, não quer trabalhar mesmo". "Sacuda ele da cama". "Estou bancando até o cigarro do desgraçado. Seis meses que ele está à toa". "Mande ele pro inferno". "Não posso. Poppy dá um trato na minha filha Sally toda noite. Sally não vive sem o pau de Poppy". "E Poppy não vive sem o seu dinheiro..." "É, parece que sim". "Cê tem que tomar uma atitude". "Se eu expulsá-lo de casa, Sally vai junto. Ela vai pra onde for a pica de Poppy". "Porra, o cara deve ser bom na coisa". "É, parece". "Que cê vai fazer?" "Nessa situação, tô fodida". "Imagine Sally como está".

Réquiem

7 bilhões de pessoas sobre a terra
o planeta não aguenta mais,
não dá para alimentar
tanta gente, dizem

eu não acredito nisso,
creio mesmo é que NINGUÈM QUER
alimentar tanta gente,
para que?

que importância geopolítica tem a África?, dizem,
aqueles países miseráveis do leste africano?

o próspero Ocidente...
a elegante Europa, com suas estátuas, museus e monumentos...
a esquálida taça africana...
há gotas de sangue em tudo isso,
manchando a borda da toalha da mesa gorda euroamericana

domingo, 8 de abril de 2012

Homenagem

volto ao moderno
edifício dos Correios
onde o jogo
foi jogado
durante
42 anos
por minha mãe

não em um prédio só,
mas vale como emblema,
lembro até hoje do cheiro
de sua presença,
chegando em casa,
da tranquila paz
desse momento

não fico pensativo,
por ter passado
esse instante,
fico triste apenas,
por saber, agora,
como a vida
nos dá tempo,
como passa devagar,
andaime por andaime,
a direção?
não tenho absoluta
necessidade
de saber

sábado, 7 de abril de 2012

Black bird II

um pássaro negro
habita os corações humanos
e isso é ruim tanto para mim
quanto para você

se vamos juntos, caminhemos com tranquilidade
até que a jornada termine, até que sejamos capazes
de amar um pouco
alguém

mas o pássaro negro quer atenção
bate nas barras da gaiola,
esvoaça, grita,
enlouquece

é a raiva que sentimos, o ódio insano,
é alguma coisa que não deveria estar ali,
não mesmo, mas está

sexta-feira, 6 de abril de 2012

Brilhante cratera da vermelhidão extrema

Blood Mary,
uma piscina, vertigem legal,
uma vida decente, Dusquene,
é o que você merece, camarada,
por todos esses anos no deserto,
convivendo com o escol da mediocridade,
com nada além da pura merda

o que as pessoas fazem de suas vidas
não tem a menor importância,
quando eu não as vejo nas ruas,
sorrindo o riso idiota de sempre,
contando velhas piadas, vomitando
batidas opiniões, gargalhando bêbadas

Blood Mary,
o sol, o surrado calção de banho,
um mergulho gelado, o silêncio de dez segundos,
emergir é para os fracos, viver também é,
em muitos casos

Dusquene,
quando você terá o seu quinhão do sonho?
a areia está escorrendo rápido nos trópicos,
e você continua tentando, tentando inutilmente
algum coisa palpável
que lhe de GRANA

terça-feira, 3 de abril de 2012

He and She

ela é um pássaro voando longe
eu, um cão sarnento de rua
ela se perfuma e vem, magnífica
eu, sou um bêbado nas garrafas
ela é piscina, saúde, protetor solar, mar
eu vou como ninguém mais vai
ela segue firme, segura
eu, com meu andar de pato
ela é felicidade em minha vida
eu, sou um verme sobre a terra
ela é minha verdade, meu caminho
eu talvez seja o monturo escuro
na margem da avenida