sexta-feira, 29 de abril de 2011

enquanto ela ainda dorme...

estamos muito sós a qualquer hora
mesmo com quilos de ideias na mente
mesmo com o rugir da estupidez planetária
mesmo com essa bagagem de vida
mesmo com tudo isso – e um pouco mais

preciso desse isolamento?
preciso mesmo é da sala do apê iluminada,
dos móveis práticos, maleáveis,
de uns tira-gostos me esperando,
umas latas de cerveja no congelador,
preciso um pouco disso tudo

bom mesmo é voltar para casa
ver Gill dormindo tranquila
ronronando seu ronco
de gata em lençol
de linho

terça-feira, 26 de abril de 2011

Uma manhã de verão esplendorosa sobre as rochosas

- Desce daí, Bulford.

- Eu vi a LUZ, Duc. Eu vi!

- Tudo bem, mas sai do parapeito dessa porra de ponte e vamos tomar uns drinques.

- Ela surgiu bem na minha frente,Duc. Uma luz clara como o sol. Quase me cegou.

Bulford sorriu mostrando os poucos dentes podres. Olhar vidrado.

- Certo, rapaz, agora desce daí e vamos conversar. Quero saber tudo sobre a luz, mas frente a frente com você. Realmente preciso de orientação na minha bosta de vida.

- Então, você que ser um seguidor da LUZ!

- Quero, quero muito.

- Então, sobe aqui, Duc.

- O caralho, você desce.

Bulford exultou. Havia conseguido seu primeiro discípulo.

Quando o mendigo pisou no chão, apliquei-lhe um direto no rosto, mas sem pegar forte.

- Seu merda filho-duma-puta. Tenho menos de quinze minutos pra chegar na porra do trabalho. Tenho de enfrentar esse calor de deserto e, como se o cu do meu dia não fosse suficiente, ainda preciso tirar você da buceta dessa ponte do cacete. Seu cu!

Bulford, massageando o rosto, ainda meio grogue, com uma voz enrolada disse:

- Mas Duc, você não quer mais seguir a luz? Ser meu discípulo?

Ele viu que eu não estava pra brincadeiras.

- Cê você falar mais uma vez desse caralho de luz, eu é que lhe empurro dessa droga de ponte.

Bulford me olhou atônito. Avançou devagar para a ponte. Deu uma olhada lá pra baixo.

- É bem alta, né?

Então eu me arrependi do soco que lhe dei. Não gosto de coisas fáceis.

- É, bem alta. Vamos. Eu lhe pago uns drinques no Salina's.

segunda-feira, 25 de abril de 2011

No more, Blackbird

nem sempre vou bem comigo mesmo
geralmente isso acontece a maior parte do dia
e quando não tem qualquer bar por perto
a coisa fica realmente tensa

vejo tanta gente medíocre passeando com os seus carrões
gente que nunca leu Bukowski, Fante, Kerouac, Corso
gente de grandes bundas gordas arrotando o último
benefício ganho
gente podre
em si
gente

nem sempre acontece de eu querer sair à rua
- isso sempre ocorre, geralmente quando acordo
mas há a obrigação do trabalho insosso,
envolto no dia abrasivo, solar

meus pés doem,
meus ossos doem,
o estômago, os rins, o pâncreas,
as articulações cansadas do mesmo moto continuum
de 27 anos

tudo somado hoje
não dá sequer uma sombra de homem,
que se mescla a pessoas satisfeitíssimas
com suas novas aquisições e empregos fáceis,
igual entre os parvos

por que não desviamos o olhar uns dos outros?

seguimos porque seguimos,
por necessidades aparentemente inadiáveis,
acordamos nesta manhã cinzenta
nesta cidade cinzenta
que é ...

vemos novamente esses rostos
cheios de insignificância no metrô.
ansiamos por uma revelação,
em meio a toda essa horda,
e que jamais virá

por que tudo isso?
para que tudo isso, meu Deus?
tanta gente abarrotada e inútil
em vagões fedendo a gente

não gosto de gente
sou antissocial por natureza
não gosto de que gostem de mim,
que falem comigo
não quero realmente que gostem de mim
isso me faz comum,
comum demais,
me faz mal

já vi sujeitos desesperançados
entortarem a viga
por não encontrar saída
- ah, essa ponte tão convidativa...

mas eu não sou um deles.
se cheguei até essa marca de cal
quero ver a linha de chegada.
só preciso de um pouco mais de coragem

mas não quero
que me apoiem,
que me incentivem,
que torçam por mim.

deixem que eu calce meus sapatos sujos
vista a camisa mal passada...
enfim, que eu levante,
simplesmente só,
meu fardo
nesta manhã
particularmente cinza

sábado, 23 de abril de 2011

Coisas que saem de mim e não sei onde colocar

1

muitas vezes os homens merecem as mulheres que têm, pois eles mesmos se fazem cornos.

2

não adianta procurar o sentido de sua mísera existência. Shakes já disse que a vida é feita de som, fúria e barulho... esqueceu-se da cerveja.

3

quando uma mulher quer destruir um homem, camarada, não há nada que a impeça.

4

foder é bom... mas não quando se está bêbado. Prefira nestes casos apenas ficar bêbado.

5

não é preciso ter prevenções com mulheres de peitos grandes. Elas e seus melões sabem muito bem o que querem. Não é mamãe?

sexta-feira, 22 de abril de 2011

Sem título

todos temos problemas
os russos têm problema com a bebida
o Oriente Médio com as ameaças terroristas
os norte-americanos com a obesidade populacional
e também com o pesadelo do terror
os japoneses com terremotos e tsunamis

e eu aqui parado,
cervela na mão,
lendo todas as tragédias cotidianas
com a porra dessa mosca
fazendo cócegas
na sola do meu pé

quinta-feira, 21 de abril de 2011

Ei, cara, vá para o inferno... e leve sua mãe

Eu não ando legal, mano
Não brinque comigo
Não ando bem nessa selva de pedra
Realmente não estou confortável

Eu deixei de fumar há onze anos
E por isso ando nervoso,
facilmente irritável

Hum.... Huuummm...
Mas aquela dona de peitos imensos
Aquilo está me deixando easy
É, legal,

Isso, e o uísque,
A minha fé nos homens é mínima, risível
Mas não a maldita sorte dos diabos
Quem sabe? Vamos apostar um pouco...
Leve

Muitos são a pior imagem de si mesmos
ééé -
e não podem ir mais fundo,
pois já estão nele
até o umbigo
ou em um nível
mais acima
cheirando bosta