segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

Sobre o...

tomasse primeiro o remédio amargo, depois a bala de hortelã
é assim que vai ser
o "abismo fiscal" virá
porque tanto democratas quanto republicanos acham as medidas necessárias

domingo, 23 de dezembro de 2012

Sonho de uma noite incandescente

Ellroy colocou a barba de Noel
tomou um gole de uísque
peidou
Fez "ohohohohoh" no vaso
limpou a punheta 
e foi pro pátio do shopping

A mulher de Elllroy tinha 
largado ele com os dois meninos
ele conseguiu ir levando
bem ou mal as crianças
receberam alguma instrução
um era porteiro em um grande hotel
o outro trabalhava com alguma
coisa meio escusa

os dois não o visitavam há cinco anos
foda-se, Elllroy
ohoh 

ele sorveu mais um pouco,
da garrafa, num intervalo,
seus olhos doentes,
injetados de choro frio
de sede

quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

É Natal, e o que tenho com isso?


Sempre fico na minha nessa época. Costumo nesse período me embebedar de vinho, muito vinho. Tinto, branco, o que vier goela adentro. Me dá engulho todas aquelas crianças sorridentes, felizes com seus pais, com suas árvores, seus presentes, com o seu novo bicho de estimação. E Noel de escroto cheio.

Fico realmente triste no Natal. É uma época melancólica. A não ser pelo vinho. Lembra coisas que não tivemos quando crianças ou não fizemos quando adultos. Aquelas lojas decoradas, as luzes piscando, cegando, o troço todo em um movimento contínuo e inadiável.

As pessoas ficam alucinadas nessa época. Andam frenéticas pelas ruas, atrás das últimas possibilidades - entenda, descontos -, arrastam uma urgência, um ódio interno e seus filhos pelas mãos. Têm que atender as exigências sociais, as obrigações imprescindíveis. Comprar o peru. Encomendar o assado, a ceia. Reencontrar parentes tediosos, que não viram durante o ano inteiro. As velas. A porra da bosta das velas para os candelabros! Quem usa candelabros hoje em dia... A raiva latejando, gotejando pelos poros. As lojas. O supermercado. As filas. O calor dos infernos.

Mas comigo não.

Isso não me pega.

Eu sou Dusquene, o escritor, meu chapa. O grande Otto Dusquene. E pulo fora disso.

Foda-se papito!

P.S.: Fui a uma festa de uma amiga de Gill. Fiquei tão bêbado de vinho que saí quase carregado. Gill dirigindo. Num determinado momento da festa vi uma dona de 150 quilos, toda de branco, recostada num sofá, levantando no alto da cabeça um cacho de uvas Niágara. Desciam em sua bocona as pobrezinhas.

Cutuquei Gill, já bêbado:

- Porra, tá vendo aquilo, parece NERO!

E daí?

chegaram as drogas das festas de fim de ano
a mesma urgência em tudo
o peru, as lembranças, a porra da árvore, o rolo compressor
do comércio

me deixem em paz!
não preciso de nada disso
as pessoas estão perdendo seus empregos
porque as outras pessoas estão
se convencendo de que não precisam
de muitas coisas que são fabricadas

em 2013
prometo só comprar o básico
para me manter longe das pessoas, e vivo,
não irei a bares, somente o necessário
para um drinque, dois, talvez

quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

Por que me sinto tão mal em meio a isso


não farão falta
vocês que palmilham nos monturos
vocês que estão nas sombras
que se arrastam e tentam e gritam
não farão falta, vocês,
vocês, mentes mortas desde antes do início
assombroso do crepúsculo nos bares,
que riem de nada e de tudo e de nada novamente
cheirando ao fétido, ao indefensável, ao termo
não farão falta nem aqueles
que se julgam imprescindíveis,
nem os que trabalham na solução da eterna
crise global que consome a todos
e que se esvai em milhões de milhões
de milhões de palavras nas redes sociais
não farão falta porque nem sequer existiram
sobre a terra e os bêbados não falam nos seus
nichos sobre coisas que não existem ou não lhes
dizem respeito ou enfumam os bares com o
cheiro de bebida barata
não, não farão falta nem se Deus se lembrasse
de vocês como os mecanismos da agonia perene
da noite lenta avançando sobre a cidade, o céu da cidade, o céu...
quem são vocês que atormentam as calçadas com suas vidas miseráveis
de serem vividas porque a vida é realmente algo como som e fúria,
e dor e entropia, consumação
não farão falta nem no último momento
quando o tempo parar, quando o tempo, o tempo, parar na morte
haverá apenas um fio dágua descendo a rua,
lentamente,  contornando
seus pés

sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

Luto 2

qualquer dia desses
as crianças, e seus pais, terão vez
e irão dizer AO GOVERNO:

LIMITE A VENDA DE ARMAS, imponha regras severas

dirão antes que as primeiras estejam mortas
e seus pais, ÓRFÃOS

Luto

Um enraivecido, um qualquer compra naturalmente duas, três, quatro armas
e destroça uma centena de famílias

sábado, 8 de dezembro de 2012

Para o bem e para o mal, iremos

1.
Quanto mais as mulheres ficam nuas, mais o aquecimento é global.

2.
Somos farpas e lodo, distribuídos para todos os lados.

3.
Nome?
- Dusquene...
Só isso?
- Isso basta.

4
Um bom drinque numa bela piscina,
isso é VIDA!

5.
Sempre que podemos, somos piores.

6.
Melhor a farpa no dedo do outro.

7.
Ah, o sol. O maldito sol...

8.
Ressaca é lodo. Às vezes...

9.
"Dusquene, você nunca será famoso".
"Eu não quero ser famoso, só quero vomitar um pouco...
Me deixe em PAZ!"

10.
"Vá se foder".
"Obrigado".

...

não faço de conta
o que eu não sou,
mas sou de carne e osso
e nervos e tudo o mais
que forma o homem

ah, o homem
essa doidice de coisas
carcomidas, esse ajuntamento
de restos e memórias

somos todos
muitos de muita coisa
é a nossa tragédia
é a nossa vida
a vida vivida
de cada um
que temos em
nós

somos, na verdade,
frágeis atropelos e,
em essência,
somente a espécie
mais vitoriosa
sobre a terra

nada mais...




segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

Ambiência

1.
As ruas são desesperadoras, muitas vezes.

2.
Todo homem tem que estar prevenido em qualquer ambiente.

3.
Viver é temer, para os fracos.

4.
Muitos pensam que a maior conquista é ter dinheiro e não fazer nada. Isso não serve para mim.

5.
Qualquer amor verdadeiro é meio lerdo.

6.
Ninguém ama tanto que um dia não possa amar um pouco menos.

7.
Viver é um fato. Sonhar é demência.

8.
Amo cerveja, e daí?

9.
Que que é?

10.
"Dusquene, vou te matar um dia/".
"Entre na fila mais uma vez, baby".