domingo, 31 de julho de 2011

Algo que pensei e por que não dizer?

Se o inferno me espera, quero ficar mais um pouco
Até que o desamparo de minha pobre alma acabe
Entre as pernas de uma mulher de coxas claras, macias
Entre gemidos e bebidas e pássaros longe, muito longe...

Otto Dusquene

Uma rodada de uísque, cartas e pragas

"Ninguém morre às sextas-feiras. É um dia ruim para morrer".

"É, eu sei. Mas a esposa de Fred morreu e ele não virá para o carteado".

Dougall resmungou um pouco, se acomodando melhor na cadeira. Prazze ficou puto.

"Acabou com o nosso jogo, porra. Sexta-feira realmente não é dia de entrar no saco".

"É , mas temos que dar os pêsames a Fred".

"Como a mulher morreu?"

"Soube faz dez minutos. Foi assassinada pelo amante".

"Como é? Fred quem lhe disse?"

"Não. Um conhecido. Ela transava com um corretor de seguros há dois anos sem Fred saber".

"E Fred soube?"

"Soube e perdoou a mulher. Aí ela informou ao corretor que não iria mais foder com ele. Trepavam todas as sextas à tardinha, justamente quando Fred vinha pro carteado. Ele sempre confiou cegamente em Irene".

"E daí?", perguntou Prazze a Rufus.

"O amante não se conformou e peineirou ela. Cinco tiros, duas horas atrás. Disse que queria dar a última nela como despedida e peineirou ela num motel da 7ª".

"É, mas isso não é motivo para Fred faltar ao carteado. Porra, essa noite é sagrada, merda!", disse Prazze, resumindo o que todos, na verdade, estavam sentindo.

"Quer saber? Quem é corno que espere. A mulher já está morta mesmo. Vou ligar para o Vicent para ver se ele vem substituir o Fred".

"É. Ótima ideia", disse Dougall.

sábado, 30 de julho de 2011

ainda terei um dia de sorte

ainda terei um dia de sorte
um dia os números irão colar em mim
como percevejos ou pulgas

e eu abrirei um champanhe
e brindarei comigo mesmo:
- Dusquene, você venceu!

colocarei uma boa grana no banco
comprarei uns troços
talvez até um livro
- um livro? de quem? para que?

comprarei uma espreguiçadeira
e colocarei no meio da sala
que terá também um frigobar
e ficarei, ali, quentando ao sol
- Afinal, Dusquene, você venceu!

talvez até compre um binóculo
para espreitar a vizinhança
ou a lua ou a ponta do meu caralho
- Porra, Dusquene, afinal você venceu!

mas enquanto os números não caem no meu colo
é melhor eu acordar, me vestir e encarar Wilson,
o maldito chefe com cara de águia da expedição

sexta-feira, 29 de julho de 2011

Cada um com a sua merda infanticida

"Como é que você se sustenta?"
Você é o que você fez ou continua a fazer
Bukowski fazia essa pergunta essencial

"Amigo, como é que você paga suas contas?"
Ele dizia que, nessa pesquisa particular,
observou que quem pagava as contas geralmente era a mãe

O cara tem 25, 30 anos e está ali,
sorvendo os pais como canário novo
Um tremendo filho-duma-puta

Os pais ficam ali, olhando de lado,
praguejando ter um filho assim
A mãe quer jogar carteado com as amigas
O pai arrumou uma putinha e quer comer por fora
e Wilson ali, esquentando os ovos no sofá,
vendo o último filme do Woody Allen

Duvido se os pais, mentalmente,
não queimam o dia do nascimento do garoto no calendário
"Merda de dia...", sussura o velho. "Que foi, pai?"
"Nada, continue vendo a porra do filme"

quinta-feira, 28 de julho de 2011

Sem título XXIV

vá aos lugares sórdidos de sua vida
enfrente os seus demônios logo, homem
afaste todos os seus medos
diga um "foda-se" ou deixe tudo como está

mas, finalmente,
caminhe do lado da calçada que você realmente quer
com destino a um bar ou outro lugar qualquer
se achar algo melhor

mas vá, não espere mais, vá logo,camarada,
que a vida é rápida como um ladrão
e as bebidas e as mulheres não estarão sempre
disponíveis para você

quarta-feira, 27 de julho de 2011

Um estranho caso de amor ao meu lado

Abri a porta. Na minha frente estava Walker, meu vizinho.
"E aí, Walker?"
"Só vim lhe informar que comprei uma boneca de plástico".
"Como é?".
Walker tinha 55 anos e me encarou com os olhinhos maliciosos.
"Caso cê queira pra alguma coisa".
"Tudo bem, Walher. Se eu precisar bato na sua porta".
"Fiz uns ajustes nela".
Fiquei curioso.
"Que ajustes?".
"Uma boca. A mulher veio sem boca. A merda dessas encomendas pelos Correios. Imagine, Dusquene... Como uma puta paga um boquete sem boca?"
"Realmente é um problema".
"Ela já me pagou sete boquetes desde sexta-feira".
Walker riu, mostrando os dentes amarelados.
"Se precisar, eu e Amber estamos à disposição".
"Se eu precisar, Walker, só vou precisar da Amber".
"Tudo bem, Duc. Tamos aí".
Quando Walker abriu a porta para entrar no 413, vi de relance sua amante estirada no sofá. Era uma loura de belas tetas.
Fechei a porta e volte pro quarto.
Marion dormia na cama.
Uma boa bunda sob os lençóis.
Pensei em fazer alguma coisa com aquilo.
Depois lembrei que Amber era mais ativa.
Marion tinha me agraciado no máximo com uns quatro boquetes na vida.
Já Amber...
Walker era um sujeito de sorte.

terça-feira, 26 de julho de 2011

O caralho que eu acredito, se mexe Sam

Os Estados Unidos devem US$ 14,3 trilhões
Mas ninguém quer realmente apertar o cinto
Ninguém quer realmente cortar gastos
Só elevar o teto da dívida
Acrescentar e cortar o mesmo, dá zero pelas minhas contas

"Tudo bem. Aumente aí. Ponha o teto em US$ 16,3 trilhões"
"E prometa cortes"
"Tá bom que eu acredito. Sociedade perdulária..."

Quando é que o Tio Sam vai começar a pagar o que deve?
Quando vai reduzir drasticamente o seu déficit?
Quando é que Sam, como disse Ginsberg,
Vai mandar seus ovos para a China?

Foi China que o Gins falou? Não foi?
Acho que foi Índia...
Bem, se não foi, está dito

O lado negro de um moribundo bebum

A merda de sentar todo o dia numa mesma mesa de escritório é que você podia se deparar com Sonja. Ela falava mecanicamente. "Por favor, sr. Dusquene, o senhor poderia agregar essas planilhas de auxílio doença às que o senhor já tem para calcular?". "Tudo bem, Sonja, coloque". "O quê?". "Coloque do lado desse monte aí na sua frente". "Gostaria, por obséquio, que o senhor desse prioridade a essas planilhas, porque são de funcionários nossos". Ergui os olhos. "Sonja, aqui não tem como passar a fila", falei consciencioso. Ela encheu o peito. "Senhor Dusquene, o senhor é um funcionário exemplar. Realmente exemplar". "É, Sonja, eu procuro ser. Que tal almoçarmos hoje, hein?". Sonja tinha belas tetas e pernas e um traseiro que deveria aguentar bem o mangalho. Ela topou.

Um troço sério da infâmia acesa

Ninguém pode começar um romance se trancando num apartamento para escrever. Isso é neurose. É doentio. Escrever deve ser um troço automático. Vivencial. O cara que elabora demais o texto pode ganhar no estilo, mas o que produzirá morrerá na estante fria.

Prefiro escrever o que me vem na cabeça na hora, porque sei que essa é a minha verdade, mesmo que momentânea. Não adianta o cara sentar no computador e pensar: "Hoje vou escrever o grande poema americano do século" ou "Começarei hoje uma novela espetacular".

Não falo daqueles escritores que fazem uma grande ficção. Não. Falo dos escritores comuns que pouco têm a oferecer, além de uma dura realidade, de sacanagem e poemas com mulheres e bebidas, como eu.

Afinal, o troço bom é isso mesmo.

segunda-feira, 25 de julho de 2011

Sinceramente

sinceramente
eu não acredito em nada do que vocês dizem
eu não vou mudar meu jeito de viver
eu não vou andar do outro lado da calçada
eu não vou fazer nada disso
não vou seguir o plano B ou C
nem vou gravar o terceiro álbum
sinceramente

eu não quero nada disso
palco, fama, dinheiro ou gozo
eu só quero é ficar na minha
sem olhar o mundo da vidraça
quero só matar o tempo
fazer coisas que vocês julgam idiotas
coisas que jamais fiz e que lamento

sinceramente
eu não acredito em nada do que vocês dizem
eu não vou mudar meu jeito de viver
eu não vou andar do outro lado da calçada
eu não vou fazer nada disso
não vou seguir o plano B ou C
nem vou gravar o terceiro álbum
sinceramente

eu não quero romper a aurora
palco, fama, dinheiro ou gozo
eu só quero é ficar na minha
sem olhar o mundo da vidraça
quero só matar o tempo
fazer coisas que vocês julgam idiotas
coisas que jamais fiz e que lamento

sábado, 23 de julho de 2011

To Amy

eu já me recuperei, baby
não precisa mais cuidar de mim
fique tranquilo, vá, siga a vida
vá em frente e nem me olhe
antes de dobrar a esquina

eu já me libertei, fique tranquilo,
vá, siga a vida, deixe que eu cresça
sem você ou caia de vez no nirvana
mas eu preciso de um espaço
e você não pode me seguir

vá, baby, vá
e nem precisa me olhar antes de dobrar a esquina

sexta-feira, 22 de julho de 2011

Grande pequeno homem

grande pequeno homem que anda na rua
você aí, meu chapa, que jamais irá à Europa
você, que gosta dos bares e detesta TV
você, que não tem qualquer paciência ou chance
grande pequeno homem

você sabe que joga contra dados viciados
você, que não tem qualquer controle sobre a dívida,
você, atirado no buraco do cu da crise americana
grande pequeno homem que, aos berros,
vomita por todos os poros

grande pequeno homem que atravessa a rua,
depois de empacotar mil mercadorias em um supermercado
e tomar vários tragos no bar e ainda levar uma garrafa,
você merece um pouco de serenidade,
um pouco que seja, fugir de tudo,
se desvencilhar do abrangente nada
da torpeza humana

a minha solidariedade não importa, não vale coisa alguma
não resolve os seus problemas,nem os meus,
mas, sei lá, eu precisava dizer estas palavras

Paisagem fosca em meio ao clarão

ando pela rua e vejo o que vejo,
subo as longas escadas do Marítimo,
só me resta beber urgentemente
enquanto as vagas seguem em melancolia

ah, um bar, um fim de tarde,
mulheres com belas pernas chegando
e um copo com uísque e gelo suficientes

a vida pode ser até tolerável,
pode ser até decente
para um homem,
quando ele não agoniza
em um escritório,
queimando num trabalho
ordinário

- Garçom, mais um aqui.
- Certo, Sr. Dusquene.

agora, depois de duas horas,
o sol desce no horizonte,
ligo para minha fonte para
saber o que deu no primeiro prêmio

tudo laranja-amarelado
gostei do bar, realmente gostei,
fica sobre uma plataforma,
sem prédios em volta,
bom para beber
na véspera de uma folga,
que bem mereci

quarta-feira, 20 de julho de 2011

Sem saída num dia quente de maio

"Sei de umas coisas, mas acho que não vou lhe dizer, Dusquene". "Ah é? O que é, mano?". "Eu converso com o Grande Deflorador todas as noites". "E o que ele lhe diz?". "Que todas as mulheres me pertencem". "É". "E que ele somente permite que os outros as desfrutem - ou melhor, fodam - para a propagação da espécie. Mas todas me pertencem. É certo". "Então, obrigado por me emprestar a minha mulher". "Tudo bem. Mas cuide bem dela, um dia você terá que devolvê-la a mim. E quero receber o produto em bom estado, OK?". Olhei pro sujeito mais diretamente. Seus olhos estavam baços. Não sabia se ria ou lhe dava um murro. Por via das dúvidas, fiquei com a segunda opção.

segunda-feira, 18 de julho de 2011

Annie

Annie
Seu passado não é bom
Seu futuro é meio cinza
Os sonhos já se foram e você...
Oh, Annie, por que a vida cobra um preço?
Por que as coisas não se resolvem
Como num lance de dados?

Annie
Você queria pisar em conchas frias
Você insistia em ver o mar, só isso
E ninguém a levou para navegar, ninguém...
Oh, Annie, por que a vida cobra um preço?
Por que, pelo menos, não é sempre julho?
Oh, Annie, por que?

Annie, é agora?
Qual caminho você deve seguir?
O que você pretende fazer com o resto dos seus dias?
Falta muito amor, Annie, quando falam com você
Eu sinto, falta muito amor quando falam com você

A caminho, mas sempre longe II

pegue firme com a vida, camarada
se ela é uma vadia com você
a sacaneie também
tenha saídas
não facilite as coisas
para ela não morder seu rabo

ou melhor facilite para o seu lado
que é o que importa
não discuta, não reclame,
siga em frente confrontando
a cara da prostituta
para que ela aprenda com quem está falando

fale grosso, não chore, não implore
beba no gargalo, mande meio mundo se foder
é uma boa mecânica, um modo de,
mas não pare
não desista
nunca

diabetes, pressão alta ainda vai,
mas se você pegar um câncer daqueles,
aí, meu chapa,
game over

sábado, 16 de julho de 2011

Alma que embota o grande falo

1
Você fez por merecer a mulher tem.

2
Um cachorro é sempre um cachorro. Uma pessoa eu não sei o que pode vir a ser.

3
Qualquer bebida é melhor que nada. Desde que tenha álcool.

4
"Você precisa de um psiquiatra, Dusquene",
"É. Eu, você e metade do planeta".
"Mas no seu caso é evidente".
"Não force, baby".

5
Muitas mulheres destróem seus homens. Fazem com que eles se transformem em amebas, em seres débeis, emasculados.

6
Casamento é a pior coisa que existe antes do divórcio.

7
Qualquer mulher falando é um ser em caça.

8
Quando uma mulher gosta de outra algo está errado.

9
Ler é mortal para qualquer escritor.

10
TV aberta é sinal de insanidade.

Um pouco de culpa e um dólar apenas

as pessoas são premiadas
de muitas maneiras
e você, Dusquene?
papando mosca...

bebe uma cerveja,
é, esta noite o bar está legal,
aparentemente

até o momento
o copo enchendo e esvaziando na boa
ninguém veio puxando conversa,
enchendo o saco

alguns conhecidos apenas,
"e aí, Dusquene?", dou um "Olá, amigo"
ninguém vem sentar na mesa,
isso é legal

a vida pode ser boa
é só você confrontar a pressão dos idiotas
e deixar rolar com a bebida,
fico de olho

as mulheres dos bares
têm longas estórias tristes, de solidão,
e ancas e seios sexys,
mas hoje não, não vou investir,
não quero ouvir e foder nenhuma delas
quero apenas, e somente, beber

é isso

terça-feira, 12 de julho de 2011

Sem título

o negócio é material
acidentes acontecem a qualquer um
se você tem dinheiro, resolve
se não tem, se ferra
se você tem dinheiro, tem dentes
se não, entra na fila da sopa

segunda-feira, 11 de julho de 2011

Show time

O cantor de rock do momento ia fazer um megashow. “O cara é bom, cê tem que assistir”. “É, talvez”. “Vai passar na TV a partir das 2 da madrugada”. “Como é o nome dele?” “É K..................”. No apartamento, liguei a TV, fui abrindo umas cervejas e deixei rolar. O troço tava demorando, abri um tinto e continuei deixando rolar. Finalmente o show começou. Jorros enormes de fumaça vermelha, azul e violeta no palco. Luzes girando loucamente, um barulho dos infernos. Entra, enfim, um sujeito esquálido, buço louro e começa a cantar espalhafatosamente uma música escrota. E eu lá, esperando o K................. E o sujeito ali berrando coisas, rebolando, acabando com o microfone e os meus tímpanos. “Porra, cadê o K.................., essa merda aí só deve estar esquentando o público pro cara. Só pode ser”, eu pensei. Quinze minutos depois aparece no pé da tela a legenda “K.................. in concert”. “Puta-que-o-pariu, não pode ser...”, eu disse, “O povo está comendo bosta”. Tive ganas de ligar pro cara que me dera a dica. Mas desliguei a droga da TV e fui dormir. Pelo menos eu estava bêbado. Pelo menos isso.

domingo, 10 de julho de 2011

Pin-ups

eu quero aquelas mulheres
todas elas
pin-ups

mulheres feitas de sonho,
mulheres que não existem mais,
mulheres que dão um alento a um homem,
repouso para o velho Dusquene de guerra

eu quero todas as pin-ups,
e ninguém mais as merece do que eu
ninguém merece mais suas cores vivas,
seus cafés bem quentes,
ninguém merece mais a comodidade

eu quero todas as pin-ups
embrulhem todas elas e mandem lá pra casa

Ao fazer das coisas vãs

Lucy Red
Onde está você?
Onde a luz neon na calçada?
Que vaga de mar levou seu corpo

Lucy Red
Onde a felicidade amarela faz pouso?
Por que não pular todo um século?
Onde o mar é azul que espanta?

Lucy Red
Meu ser marinho e lindo
Meu destino, Lucy
Sob o sol

Nós dois
Bem longe das coisas tão normais
Nós dois, nós

sábado, 9 de julho de 2011

Tenha fé, meu filho amado

Ruby tirou com cuidado o pássaro ferido da caixa. Tinha uma asa quebrada. Ele o encontrara num jardim a três quarteirões, se debatendo. Um gato já vinha em sua direção, quando Ruby o tirou do chão. O gato parou e pareceu dizer "ei, cara, esse lanche é meu". No caminho, Ruby o colocou numa caixa de sapato jogada no lixo.

Em casa, Ruby colocou uma tala e enfaixou a asa do animal. Depois, foi procurar umas coisas no fundo da estante. Voltou com um bom pedaço de isopor e os troços. Pegou o pássaro e o colocou sobre o isopor. Prendeu o corpo da ave com um pano ligado a alfinetes. Com o pássaro imobilizado e piando, Ruby com o alfinete que sobrara começou cuidadosamente a furar seus olhos.

Sem título XXIII

não force a fechadura
pare de escrever seus poemas
jogue fora todo o material
trepe mais, beba mais, esfole a mão,
mas pare

você não tem chance alguma, desista
o mundo já está um troço estranho
não é preciso forçar a mão,
camarada

sexta-feira, 8 de julho de 2011

Sem título XXII

Marion é a melhor puta da cidade e ama.
Lucy perdeu o marido pras garrafas.
Vicky bombou os seios e quase morreu.
Laura virou evangélica, mas peca.
Marilou, bem Marilou é Marilou.
Sondra escontrou um amor de esquina.
Barbara continua servindo no Finnegan´s.
Gia, sempre que pode, dá.
Hannah mudou de nome e de cor.
Samantha caiu na bebedeira.

E tudo continua na mesma, mas as mulheres estão aí,
forçando a barra, legal...

O que devemos fazer para não perder a sanidade

"Ei Lou, minhas bolas estão murchando". "Deixe disso, é só imaginação sua". "Mas é verdade, meu saco está mais leve". "Isso não existe". "Até Marion notou. Ela pesou com a mão, e viu que o troço está mais leve, é sério". "Você precisa de uma segunda opinião, mas não a minha... Vá ao médico". "Eu não tenho plano de saúde". "Vá ao posto". "Lá nem chegarão a olhar..." "Quer saber? Corte e jogue fora". "É uma opção, mas não agora. Quando as bolas chegarem ao tamanho de ervilha, quem sabe?".

segunda-feira, 4 de julho de 2011

Mad Love

Ninguém é bom o bastante para você
Ninguém cospe um sonho tão grandioso
Ninguém é suficiente para amar você como uma perdida
Ninguém lê o seu horóscopo e faz revelações
Como vai ser seu dia a dia? E seu segredo desprezível...
Ninguém conhece ainda as palavras mágicas
Que farão você cair dessa nuvem
Para se transformar realmente numa mulher

Mas você, garota, vai sofrer muito
Se não for na minha mão, será na mão de outro
Você vai fazer tudo o que eu quiser (mas não serei seu dono...)
E vamos viver um amor bem vagabundo
Só para quebrar o gelo

Eu não tenho amigos, nem paradeiro
Não tenho um sonho, nenhum, nem durmo
Mas amo você como um cão danado, como um cão errante
Eu leio como ninguém seus desejos tão secretos
Eu já estou no seu dia a dia. Meio indefinido...
Você tem agora quem conhece as palavras mágicas
Que farão você cair dessa nuvem
Para se transformar realmente numa mulher

Mas você, garota, vai sofrer muito
Se não for na minha mão, será na mão de outro
Você vai fazer tudo o que eu quiser (mas não serei seu dono...)
E vamos viver um amor bem vagabundo
Só para quebrar o gelo

Sob o sol em tudo que há de vida

quem viu Marion?
as buscas continuam
no Finnegan´s ninguém sabe
seus amigos pedem notícias
ela não andava bem
ela comia pouco
ela se drogava
ela pouco ria
agora

quem viu Marion?
sob as estrelas mortas
no Manny´s ela não passou
seus amigos estão preocupados
ela não se controlava
ela não andava legal
ela tomava "pico"
ela pouco ria
demente

quem viu Marion?
quem precisa saber?
Marion é nome de flor
em terreno ermo

domingo, 3 de julho de 2011

O fato é o mesmo e sem razão alguma IV

1
Próximo, ninguém é decente.

2
Eu não acredito que estamos rumando para o nada, um dia de cada vez. EU SEI...

3
Tenho prevenção com pessoas visionárias. Milhões de pessoas morreram devido a mundos projetados.

4
Fuja de qualquer pessoa que lhe cause desconforto. Você não é responsável pela insanidade de ninguém. Às vezes, nem pela sua própria.

5
Mas não pense que liberdade é passar a mão na bunda do guarda.

6
"Em que ano você nasceu, Dusquene?".
"....".
"Um ano ruim para nascer".
"É, realmente, idiotas nascem todo ano".

7
Não gosto de me corresponder com ninguém. Digo o que penso e pronto. Sou avesso a debates.

8
Quem ama mãe e pai ao extremo não sabe o mal que faz a si mesmo.

9
Um pouco mais de concreto na construção a cada dia, digo frieza, não insensibilidade.

10.
Na vida, nunca encontrei uma falha nesse maldito muro. E olhe que eu procurei...

A caminho, mas sempre longe

gente demais atrapalha
não, gente atrapalha
pessoas são um turbilhão de vontades
de pretensões, de ideais, de planos,
que tornam a vida um inferno

devemos nos afastar das pessoas
fugir para um campo aberto
andar solitariamente,
se em algum lugar isso for possível,
para sentir a possibilidade
de um mundo sem gente
sem o palavrório sem sentido
sem os conflitos e as ambições
sem as risadas tolas
sem as ironias e os sarcarmos
sem as falsidades inatas
sem, apenas sem
só isso

sábado, 2 de julho de 2011

Sem título XXI

eu não sou ofensivo
apenas relato o que vejo
as pessoas que vejo,
as circunstâncias, as banalidades
da vida

e o que vejo é triste
as pessoas são previsíveis, comuns
buscam sempre as mesmas coisas
reclamam do governo, dos impostos, de tudo,
mas esperam receber os mesmos benefícios do vizinho
ninguém se atreve

o mundo está repleto de animais vazios,
perambulando por calçadas cheias,
rindo o riso covarde dos vencidos

vou seguindo também, porque meu caminho é este
mudar daria muito trabalho, um trabalho que eu não quero ter
agora

O vento bom que vem do oeste

Mildred tinha 75 anos. Era casada com Willbur, de 84, há 57. Thompson, de 67 anos, entregava correspondência para Mildred e Willbur há 40 anos. Um dia, no aniversário de Mildred, Thompson disse que faria uma coisa diferente e que Willbur não ligasse, afinal eram velhos conhecidos. Então, pôs as mãos suavemente nos braços de Mildred e lhe deu um beijo leve na boca. Todos riram, velhos conhecidos riem sempre. Willbur, rindo por trás dos óculos grossos, pediu que Thompson aguardasse ali. Todos continuavam rindo. Willbur voltou com a arma em punho e atirou a queima-roupa em Thompson. Mildred gritou. "Você nunca prestou, piranha". A perícia encontrou muitas cartas chamuscadas. Mas os endereços ainda eram legíveis.

sexta-feira, 1 de julho de 2011

Ao rés-do-chão sobre a planície de invertebrados

1
No fim da vida todo velho vira um idiota.

2
Certeza mesmo é que estamos todos fodidos.

3
Cada vez que vejo um casal na rua vejo um divórcio em andamento.

4
A merda é vivermos tanto, a infância deveria ser eliminada.

5
“Cê tá bem, Duc?”
“Fui fundo nos copos. Tô soltando uns arrotos”
“O que cê quer que eu faça?”
“Que tal comprarmos umas cervejas para dar fim a isso?”

6
Caralho é uma boa palavra. Pinto é que é indecente. Se minha mulher disser “mete o pinto”, eu brocho na hora.

7
Já vi muita coisa sobre a terra, menos o diabo em pessoa.

8
Toda cicuta para Sócrates é pouco.

9
Se foder é a única perversão permitida por Deus, para procriação, podemos dizer finalmente que Deus é foda!

10
Sou Otto Dusquene, meu amigo, e escrevo algumas coisas, reais, bem reais... Os outros fazem literatura. Passo longe.

Atenção: isto não é para ser feito, é só ficção, delirante ficção

Farrow pegou um rato e jogou num barril enorme. Deixou ele lá, com um pedaço de queijo mofado, e foi procurar um gato. Pegou o gato e jogou no barril. O gato abocanhou num piscar de olhos o rato. Ficou olhando. Queria saltar e fugir, mas Farrow tampou o barril com um compensado pesado e duro, que estava ao lado. Chamou um vizinho e pegou emprestado Adolf, um pitbull. Abriu um tanto o barril e o cão entrou. Foi um barulho dos diabos. Farrow e seus amigos jamais, jamais vão esquecer da cena que viram quando o barril foi aberto.

Sem título XX

mantenha sempre portas abertas, camarada
deixe sempre saídas se o sistema falhar
é o conselho que eu lhe dou

tudo bem,
pense no erro possível,
na vida provável, no cão, na mulher,
mas deixe espaço para a falha
para a consumação
para o caos

porque um dia, quem sabe, você precisará utilizar a saída esquecida
se o mundo blefar
e você, enlouquecido,
perder todas as fichas
na mesa