quinta-feira, 29 de setembro de 2011

Um serviço de Billy boy

"Eu ainda mato esse cara. Ainda quebro ele".

"Quem?"

"O Gillmore".

"Que houve?"

"O desgraçado pediu que eu fosse na loja comprar camisinhas tamnho GG pra ele".

"Sacanagem da grossa".

"E ele falou... 'Desse tamanho aqui, ó', na frente de todo mundo. O homem é um filho-da-puta"

"E você foi?"

"Comprei, fazer o que..."

"Mas foi 'Desse tamanho aqui, ó'", e fiz o gesto com as mãos separadas uns 30 centímetros.

"Não fode, Dusquene", e Billy boy saiu caminhando, chateado.

quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Sobre o chão de Saturno, essa merda...

esta noite
estou triste
as coisas
não fluem
como deveriam

nem as mulheres
de dia
estavam melhores
nas ruas
hoje

e
todos são
indiferentes
a todos

levam suas mágoas
e angústias
presos
como tigres contidos
uma merda...

e vão morrer
disso
aos poucos
sempre

e assim
viveremos
até o fim
sem dar qualquer
espaço ao que
realmente
queremos fazer
ou dizer

segunda-feira, 26 de setembro de 2011

A caminho, mas sempre longe IV

1
"Bigfoot é um tremendo pé de mesa. Acabou com Sally".

2
"A fé de cada um é sempre repulsiva".

3
"Convívio é um estupro".

4
"O cão é o melhor amigo do homem. Se entre ele e o homem estiver um portão".

5
"O cão é o melhor amigo do homem. Diga isso pro carteiro".

6
"Foder cansa, baby. Foder cansa".

7
"Gente séria demais é caso perdido".

8
"Quando vejo alguém ajeitando a gravata, penso que se apronta para o suicídio".

9
"Boxe e futebol americano são coisas pra homem. O resto é esporte".

10
"Ninguém vive impunemente, Dusquene, ninguém".

domingo, 25 de setembro de 2011

Um cão

amo você, baby
como um cão
um cão danado
um cão de rua
triste

um cão cheio de carrapatos
com cicatrizes no focinho
seco e só

amo você, baby
como um cão
parado numa esquina
sarnento, repulsivo,
repleto de pulgas
e triste

amo você, baby
como um cão
manco e débil,
mas feroz

amo você,
ganindo

sábado, 24 de setembro de 2011

Big Joe

a sorte nunca mostrou seu largo rabo de diva para Big Joe
ele sempre suou um bocado para receber muito pouco
Big Joe

era sincero como faca,falava verdades que grudavam nas ruas
bebia em excesso, mas quem, em sanidade, não bebe vendo essa merda toda?
Big Joe

morreu ontem aos 30 anos de colapso cardíaco, num beco qualquer
não encherá mais o saco de ninguém, graças a Deus,
Big Joe

Weekend no Pacífico

ainda terei um
weekend no Pacífico
sob as palmeiras
com o vento no rosto
bebendo drink batido, com limão

mulheres, bebidas, calma
uma espreguiçadeira ao meu dispor
- Você venceu, Duc Dusquene... enfim, você venceu
você, o escritor mais prolífico das Américas
você, o pato, que ninguém dava valor

às vezes estarei sóbrio e ligarei para Joan:
- Baby, estou aqui, à beira-mar, relaxando...
um estúpido céu azul imenso sobre minha cabeça
fecharei, então, os olhos, sentirei o calor e sonharei um sonho bom

quinta-feira, 22 de setembro de 2011

Nem tente - ao velho Buk

cuidado, Dusquene,
você pode entrar na fila de transplantes
cuide de seu fígado, ame seu fígado
idolatre seu fígado, camarada

cuidado, Dusquene,
que a vida pode lhe pegar pelo saco e girar você no ar
como um saco cheio de merda,
cuidado

faça exame de próstata, não descuide
não fique aí, quentando os ovos, rapaz
faça por onde merecer estar vivo,
porra

cuidado, Dusquene,
cuide de seus olhos,
embora você não leia livros imprestáveis,
sem seus olhos como escrever poemas?

cuidado, camarada,
muito cuidado
e nem tente

terça-feira, 20 de setembro de 2011

A merda nossa que vaza todos os dias - escritos de Dusquene (25)

"A porra da minha irmã é uma neurótica".

"É?"

"Todo dia se desentende com o chefe do almoxarife e a sua pressão vai a 22".

"Puta-que-o-pariu... O troço é sério, então?"

"Nada, ela é toda sensível. Se o cara manda ela tirar quatro resmas de papel da segunda prateleira e colocar no carro, para distribuir nas seções da firma, ela já estremece. Pensa que é punição".

"E não é?"

"Nada. Punição quem recebe é o camarada que dorme com uma merda dessas".

Bullford riu, com o cigarro na boca.

"E sua irmã, presta?", perguntou Gillmore, meio receoso.

"Dá pro gasto. Vamos empilhar mais uns sacos e depois vamos ao Joe´s tomar uns tragos".

segunda-feira, 19 de setembro de 2011

Compaixão é sempre uma merda boa

a lua na sarjeta
que mal faz?
aquele poste só, ao longe,
iluminando
que mal faz?
aquele bêbado triste
que ali vai
que mal faz?
os pobres
que mal fazem ao mundo?
só a eles

então, camarada, tenha mais compaixão
não custa nada
tentar
nem que seja com sua mãe ou pai
ou sei lá quem

domingo, 18 de setembro de 2011

A Máscara de Mudaro 3 - Black Lane

Lane tocou a campainha. Um homem de meia idade atendeu.

- Você é Conwey?

- Sim. O que deseja?

- Você tem algo que pertence a um cliente meu.

- O que poderia ser?

- Uma Máscara...

- Então você veio pegar aquele objeto nefasto.

Black Lane achou que o sujeito estava de gozação.

- Escute, camarada...

- Não, não me entenda mal. Eu preciso que você a leve daqui. Imediatamente.


- Por que?

- Desde que essa peça chegou há duas semanas, meu filho sofreu um acidente de carro, o fundo de minha casa pegou fogo, dois ladrões tentaram roubar as poucas pinturas de valor que tenho, e outras coisas mais. Isso não é só coincidência. Aguarde um momento...

Conwey voltou com a Máscara envolvida em uma flanela de algodão.

- Tome. Livre-se dela. Não quero reembolso.

Lane a pegou, desconfiado.

- Fique tranquilo. Você estará protegido, agora.

----

Black Lane foi até a porta.

Willgston abriu. Era o cliente de Lane que encomendara o arfefato a Mucahill.

- Oh, meu Deus, você a encontrou. Teve dificuldades?

- Muitas. Você agora me deve US 5 mil. Deposite nesta conta até amanhã. Não falhe.

- Pode deixar. O que achou dela? Não é magnífica?

- Para mim isso é uma merda, só. Cuidado com ela.

- Por que?

- Um rosto desses eu não queria ter na minha parede.

Lane entrou no carro e se foi.

Willgston ficou no batente da porta, encarando a Máscara. Agora, com nojo.

A perversa hora em que nos encontramos na rua em breu

estou sentado nesta mesa
e vendo as pessoas caminhando
com seus objetivos em mente

no momento, posso observá-las
como peixes num aquário lodoso
vão apressadas
para fechar negócios
encontrar a amante
ou simplesmente beber
como faço agora

as pessoas são cretinas
no geral e perversas no particular
com suas vidas

deixam de ser felizes
- ou pelo menos tentar ser -
para perseguir ninharias,
imbecis, todas elas...

mal sabem que vivem no caos
e que seu próximo passo pode ser
no abismo

sexta-feira, 16 de setembro de 2011

A Máscara de Mudaro 2 - Black Lane

Num beco da Falcon Street, um homem esperava a saída do último cliente.
Seria ele? Viria por ali?

Um vulto surgiu na escada de três degraus do bar de paredes de tijolos aparentes. Sem dúvida, era ele, pela identificação que Murdoch passara naquele fim de tarde.
---

- Hoje você não canta mais, Murder – dissera o detetive três horas antes - Se você tocar nesse telefone quando eu sair daqui, amanhã não terá aonde se esconder. O troço vai ficar estranho pro seu lado, entendeu?

- Não me ameace, detetive.

- Tome isso como um favor para mim. Mas, por via das dúvidas...

Black Lane arrancou, de pronto, o fio do telefone da parede e destruiu as junções da ponta com o pé.

- Por que você fez essa merda!? Eu não ligaria pra...

- Agora sei que não – disse o detetive.

Abriu a porta e saiu, deixando para trás um Murdoch desolado olhando para o telefone perdido, por hora.
-------

O sujeito caminhou por dez metros.

Ia superar o quarteirão do bar quando foi literalmente suspenso no ar e atirado dois metros para dentro do beco lateral. Bateu a cara numa depósito de ferro para lixo e rolou.

- Oh, meu Deus. Acho que quebrei o nariz... Puta-que-o-pariu.... Quem é...

Na sua frente o vulto enorme, envolto num sobretudo.

- Fildes Gramatius?

- Shhh... Esse não é meu nome nesta vizinhança... Por favor... Aqui sou apenas Joe Smith, que faz bicos como jardineiro... Você acabou com meu nariz...

- Nariz melhora, Fildes. O que não tem jeito é para a vida, que você pode perder agora se não disser com quem está a Máscara.

- Que máscara?

- Você sabe qual?

- Eu não sei de máscara nenhuma?

O vulto negro caminhou em sua direção.

- Espere... Espere um pouco - disse o falso jardineiro - A máscara. É, a máscara. Tem um sujeito chamado Mucahill, ele é traficante e, às vezes, me contata, para uns negócios...

- Que tipo de negócios?

- De venda de objetos raros.

Lane sorriu na escuridão.

terça-feira, 13 de setembro de 2011

A Máscara Ancestral de Mudaro

Black Lane entrou no escritório de Murdoch Cold.

- Ora, ora, se não é o velho Black.

- Como vai, Murder?

Murdoch se mexeu na cadeira de couro negro e espaldar alto.

- O que você manda, detetive? - disse, sério.

- Preciso de umas informações sobre um tal de Mucahill, David...

- E o que você faria com essas informações?

- Isso é problema meu?

- Bem, a porta está logo atrás de você, Lane. Faça bom uso dela.

- Acalme-se, Murder. Não quero fazer mal a Mucahill. A menos que eu precise fazê-lo...

- O que você quer saber?

- Sei o que ele trafica da África. Quero saber para quem vende?

- Por que?

- Um cliente meu não recebeu uma mercadoria que encomendou há dois meses.

- O que, especificamente?

O detetive falou pausadamente, para checar a reação do agiota.

- A Máscara Ancestral de Mudaro.

Notou que o rosto de Murdoch ficou tenso, branco como cera.

- Peço que saia. Não quero assunto com isso. Esse jogo é arriscado demais.

Black Lane abriu um dos lados do sobretudo, ali havia um 38 prata num coldre.

- E pode ficar ainda pior se o canário não cantar, filho. Já estou sabendo que você financia, por terceiros, as operações de Mucahill na África. Nem tente negar isso.

Murdoch começou a suar frio. Olhou de soslaio para um dos lados da mesa em que estava.

- Nem pense em pegar o berro nessa gaveta, Murder. Vá falando... Me dê a lista dos compradores das peças. Ou dos atravessadores, que seja...

A estante morta neste dia turvo II

1
Certamente nem tudo está perdido, mas caminha para isso.

2
Às vezes o troço está tão ruim que´só nos resta ficar quietos.

3
A lesma e o homem são os únicos animais que deixam rastros por onde passam.

4
Cuidado, você pode ser o inseto no bico do pássaro.

5
Ler faz mal, pelo menos certos livros.

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

o fim, agora não seria bom

esse negócio de promessa
- e quanto nos prometemos...
é um troço dos diabos
pois a vida nos pega pelo pescoço
e nos joga em todos os buracos e armadilhas
e vamos escorregando em merda
até o fim

nos transformando
geralmente em pessoas piores
do que aparentemente pensamos ser
- e bebendo para esquecer
o que somos

isso vale para qualquer hipótese
da profissão ao casamento
do trabalho ao lazer
da bebida à abstinência
até o fim
o fim
de nada

a penúria alheia que avança nas grades

somos feitos de nervos
carnes e ossos tão somente são
alicerce e concreto
somos constituídos é de fiações
por isso, não é errado dizer
"aquele sujeito tem uns fios soltos"

cada vez mais vemos pessoas assim
deprimidas, obcecadas, loucas, suicidas,
vagando pelas ruas,
com todas as suas carências

eu fujo desses indivíduos...
não sei você, amigo
já estou satisfeito com as minhas misérias
não preciso das de ninguém

"Dusquene, eu preciso lhe contar umas coisas..."
"Deixe para amanhã, camarada, hoje eu não estou num dia bom"

domingo, 11 de setembro de 2011

...

vocês que caíram
defenderam um modo de viver
o modo de vida livre
vocês que caíram
são hoje bandeira e legado
vocês que caíram
são o espírito da América

sábado, 10 de setembro de 2011

A loucura desaba sempre no meio da noite fria

sonho poucas vezes e ontem sonhei que estava no corredor de um supermercado
ia tranquilo empurrando o carro, dobro um dos corredores e lá está ela: uma alienígena, oferecendo copinhos de uma marca de café

a alienígena tinha um olho retangular enorme, me perguntou:
"Gostou da viagem sr. Dusquene?"
"Que viagem?"
"Para Altam, logicamente"
"Que conversa é essa? Estamos nos ..."
a linha fina que era o lábio da alien se expandiu, um risinho talvez
(não sei como, mas eu sabia que era fêmea)
- quando ela falava a linha ia para os lados e só
tinha dois braços como nós, mas verdes e que acabavam em pinças roxas
não vi pernas, bem que tentei, o tórax, sem seios, ia direto ao chão
"Bem, o senhor pensa que está na Terra, mas está em Altam"
"Dispenso o café, quero um uísque puro duplo"
"Não há bebidas alcoólicas neste planeta"
"Ótima droga de notícia. Vou fundar a Máfia por aqui. Como é seu nome querida?"
"Styxxx"
"Sei, pornô"
"Como?"
"Deixa pra lá, Styll. Posso lhe chamar de Styll, não posso? Quando sair do serviço você não gostaria de me mostrar o seu planeta?"
"Adoraria"
"Certo. Vou dar um giro pelos corredores. Que horas você sai?"
"Daqui a 582 horas?"
"O que?!"
"Nosso dia aqui dura 1.385 horas terráqueas".
"Eu preciso realmente de uma bebida agora, Styll. Vou procurar o Al do pedaço e fundar aquela sociedade de que lhe falei"

sexta-feira, 9 de setembro de 2011

A merda nossa que vaza todos os dias - escritos de Dusquene (24)

é como se fosse uma noite de cães danados
a uivar para a lua
homens e mulheres vão aos bares
a festa se instala
e eu quero estar nela
dentro dela
com um copo
na mão

como cães danados saímos em matilha
e vamos nos mordendo e ferindo
mas sempre juntos

A ela

baby,
essa garrafa de tinto
nos convida a uma celebração
são tantas brigas, e isso é muito bom
aquece a alma, a vida

baby,
quem não ama não briga
quem não ama não se importa
e eu me importo muito com você
mesmo

eu,
eu queria ter um pouco mais de grana
para a gente fazer o escambau – e muito mais

baby,
só nunca se esqueça
que eu te amo

quarta-feira, 7 de setembro de 2011

enquanto caminho, você vem

gosto de nossas brigas
gosto de ter você por perto
sempre

sempre vou achar que nossos
melhores momentos são nossas brigas
- pois elas realmente são ótimas
e esquentam

gosto desses anos de estrada com você,
você sempre, baby, nunca uma outra
só você

US$ 15.000.000.000.000, até o fim do ano

todo mundo se escorando no erário público
vamos pegar mais US$ 600 bilhões
emitamos títulos
quem paga? o erário

precisamos de US$ 300 bilhões para obras,
mas sem remanejamento orçamentário ou cortes...
quem vai pagar? o erário

o erário - essa caixa sem fundo
na qual o governo e a população enfia braços e mãos
arrancando maços e maços de dólares

um país que deverá US$ 15 trilhões até o final do ano deveria ter um pouco mais de respeito com o próprio dinheiro e não pensar no imediato, mas a médio e longo prazos

a geração de empregos talvez melhore com grandes investimentos governamentais em obras públicas - seguindo a cartilha de Keynes

mas o problema da dívida colossal de US$ 15 trilhões do Tio Sam passa por contenções orçamentárias profundas, pelo resgate maior de títulos públicos, para, lá na frente (dez anos, talvez), haver um crescimento mais robusto do PIB

mas quem será o primeiro abnegado a retirar o braço da garganta da caixa amiga?

segunda-feira, 5 de setembro de 2011

Black Lane - Capítulo 1, 2 e 3


Capítulo 1


Bateram na porta. Um sujeito trombudo entrou.

- É Black Lane?

- Acho que sou. Não tem mais ninguém na sala, não é?

- Tenho um serviço pra você, a mando de Maddox.

- Quem é Maddox?

- O chefão. O grande cara. Nunca ouviu falar de Maddox?

- Por que deveria?

- Tudo na cidade é controlado por ele. Do submundo às corporações e grandes firmas.

- Sei. Tudo bem. Qual é o serviço? Tempo é dinheiro, filho.

O brutamontes cerrou os olhos e disse:

- Ele quer que você arroche um sujeito que lhe deve US$ 30 mil.

- E por que você não faz isso mesmo por mim?

- Maddox não quer que seja uma coisa de dentro, entende.

- E por que Maddox está correndo atrás de US$ 30 mil se ele é, como você diz, o dono da cidade?

- Questão de princípio... Quem deve a ele, paga, de um jeito ou de outro.

- Vou pensar na proposta. Quanto levo nisso?

- US$ 10 mil.

- Considere o serviço feito.

- Não quer saber quem você deve apertar?

- Quem?

- Julie.

- Uma mulher!

- Não, é um homem, apesar de ter esse nome...

- Pior para Julie. Considere o serviço feito.

- Ele é da Gangue dos Cinco Estrelas.

- Aí a coisa complica. Encarar Julie, tudo certo. Mas o resto da turma...

- Bem que Maddox falou que você poderia recuar quando soubesse...

Black atalhou.

- Não sou covarde. Sou racional. Aliás, como é mesmo seu nome?

- Vicky.

- É, pelo visto você não pode mesmo ridicularizar Julie.


Capítulo 2


- Quero todas as informações sobre Julie. Preciso de um endereço.

- Kingsley, n. 189. Ele é um sujeito recluso, mas um dia pediu emprestado a Maddox. E ninguém deve a Maddox sem pagar.

- Acho que você já disse isso. O que mais você pode me dizer, Vicky?

- Por favor, me chame de Penido. Meu sobrenome...

- Realmente, se eu tivesse um nome desses eu não gostaria que me chamassem assim.

- De que? De Penido?

- Não, de Vicky.

O sujeito olhou Black Lane com má intenção.

- Acalme-se grandalhão, com o endereço já dá para começar... Avise a Maddox que quero US$ 5 mil adiantados. Depois que eu receber os US$ 30 mil de Julie vem os outros US$ 5 mil.

- Nada de adiantamentos, Lane . Recebemos os US$ 30 mil e lhe damos os US$ 10 mil. Afinal, você pode não ter sucesso. Mais uma coisa...

- O que é?

- Julie é o líder da Gangue dos Cinco Estrelas.

- Porra, esse troço está cada vez mais complicado.

Vicky ficou encarando. Sabia que o detetive estava cogitando se deveria pegar o serviço.

- Devo aumentar o preço.

- Sem essa. Paramos nos US$ 10 mil. Um terço é bom demais para você. Queremos o dinheiro por questão de princípio e...

- Sei, sei...

O velho detetive divisou o escritório. O arquivo escangalhado, com gavetas que mal encaixavam. A estante caindo aos pedaços. O piso que não via uma limpeza e cera há dois anos. O estofamento do sofá creme parecendo marrom de tanto uso e gordura, pois, além de escritório, aquilo era a sua casa. O frigobar sempre vazio...

- Fechado - disse por fim - Considere o serviço feito.

Pela primeira vez o detetive viu Vicky sorrir, levemente.

- Não vai ser tão fácil assim. Não tão fácil assim...

Abriu e bateu a porta do escritório, deixando Lane lá dentro, pensativo.


Capítulo 3


No dia seguinte, Black Lane colocou, por precaução, o 38 prata no coldre afivelado no ombro e peito. Vestiu o paletó azul escuro. Ajeitou a gravata. E fechou o escritório.

Dirigiu até a Trocadero e depois virou à direita, seguindo para o norte. Meia hora depois estacionava a cem metros do n. 189 da Kingsley.

- Bela casa você tem Julie.

Lane saltou do caro. Abotoou o paletó e caminhou até lá.

Tinha 61 anos. Mas ainda era um sujeito forte, que intimidava.

- Acho que não terei problema. Seja educado, Black Lane. Educação é tudo e um pouco mais nessas horas. Rígido, mas educado.

Subiu dois lances de escada e tocou a campainha.

Um minuto depois, um grandalhão, até parecido com Vicky, se mostrou no batente da porta.

- Quem é você? O que deseja?

- Preciso falar com Julie. Com urgência. É um recado do Sam.

- Não conheço nenhum Sam...

- O tio...

O pontapé foi certeiro. A muralha dobrou os joelhos, segurando os bagos com as duas mãos. O detetive o escorou na parede.

- Desculpe, filho. Mas você não me deixaria entrar mesmo. Economizamos tempo. Doe muito, mas é só colocar gelo depois.

Lane vasculhou o gigante, estava desarmado. Melhor.

- Desculpe novamente, filho – uma coronhada na nuca, o segurança apagou.

O detetive prosseguiu, passando por um vestíbulo até uma sala ampla, toda branca.

À direita, sentado em um largo sofá, estava Julie. Acariciava um yorkshire e via um programa qualquer na TV. O cachorro olhou curioso para Lane, porém não latiu. Melhor.

Julie, um branquelo louro de quase dois metros de altura, vestido todo de vinho, até os sapatos, fez menção de se levantar.

- Não faça isso – o detetive levou à mão ao paletó – Sente. Preciso de um favor seu, Julie.

- Eu não sou Julie.

- Não minta. Só um cara chamado Julie poderia ter um yorkshire de estimação e se vestir dessa forma.

Julie resignou-se:

- O que você quer?

- Que me empreste US$ 30 mil.

- Como?

- Maddox, lembra-se.

- Ahh, então tudo se explica...

- É, Julie, tudo se explica. E não me interessa muito você ser o chefão da porra da Gangue dos Cinco Estrelas. Enquanto eu possuir esse três oitão –
Black Lane tirou o revólver do coldre e apontou – Realmente pouco me importa.

- Calma aí. Como é seu nome?

- Nem queira saber. Levante as mãos, Julie, nada de apertar botões embutidos no cu de Ludmila, ou em qualquer outra parte.

- Quem é Ludmila?

- A cachorra aí do seu lado.

- É macho. Seu nome é Fulldrow.

- Para mim parece fêmea. E ter cara de Ludmila.

Pela primeira vez o cão latiu.

- E você fique quieto. O dinheiro, Julie? AGORA...

- Eu não tenho toda essa grana aqui.

- Tem sim. Caras como você sempre têm algum cubículo atrás da estante. Mostre o cofre.

- Você é um homem morto, seja quem for? Sabe disso, não sabe?

- Muitos já disseram isso. AONDE, Julie?

- Ali, atrás do vaso com flores. Tem um fundo falso, que corre para o lado.

- Vá na frente.

Depois de empurrar o vaso e o fundo falso.

- Abra o cofre e se afaste. Fique do meu lado direito. Qualquer movimento brusco, Fulldrow ficará sem dono.

Cofre aberto.

- Ora, ora, Julie. Ser chefe de gangue compensa não. Embora o crime... Conte esse dinheiro e ponha US$ 30 mil no envelope.

Black Lane foi colocando maços de notas de cem no vão da estante ao lado.
Julie começou a contar.

Feito o embrulho.

- Fico lhe devendo um envelope.

- Você não terá uma vida longa com ele e seu conteúdo.

- Também uns poucos já disseram isso, Julie. Venha cá.
Outra coronhada. E o tinto desabou.

Lane fechou o cofre. O cachorro continuava olhando. Cachorro estúpido.

Agora o problema era entregar o dinheiro sem ser assassinado por Maddox, Vicky ou Julie e os Cinco Estrelas. Ele não era o único culpado. Afinal, Maddox fora o mandante. Não sabia se Julie e sua turma teriam coragem para peitar Maddox, o dono do pedaço. Isto porque Julie parecia realmente dever ao figurão... Mas a gangue certamente iria querer acertar as contas com o executor da cobrança.

- Bem... – o detetive olhou pro envelope, conformando-se – Nunca gostei de Midrosville mesmo.

Entrou no carro, passou num posto, encheu o tanque e voou para a rodovia federal mais próxima.

domingo, 4 de setembro de 2011

Janso

já fui um rato de bar, confesso
eu e Janso
e outros, e muitos

Janso já morreu
negócio feio
começou a vomitar a bebida
apagou retornando
pro cubículo onde morava
morreu dias depois

tinha o riso fácil
grande sujeito o Janso
bom de papo e de gole
faz falta nesta mesa agora

Quem poderia dizer o que foi dito sob a marquise

1
É fácil identificar um idiota. Tem a certeza da segurança do chão sob seus pés.

2
Não escreva para ninguém. Nem para você.

3
Uma mulher inteligente pega cerveja pro sujeito no congelador.

4
A merda não é crescer, é o que fazemos da vida depois disso.

5
A velhice não chega a ser um mal, quando morremos.

6
"Não posso viver sem você, Fred. Me leva junto".
Mas quando Marion caiu na cova do marido começou a berrar:
"Me tirem daqui! Me tirem daqui!".

7
Dusquene, você realmente não presta. Concordo.

8
Os números não estão a meu favor. Aliás, nunca estiveram.

9
A convicção nas coisas é o maior erro que podemos cometer.

10
Não me encare. Não estou legal.

sábado, 3 de setembro de 2011

A caminho, mas sempre longe III

a droga do sol na cara de novo
é, Dusquene, você tem du-ra-bi-li-da-de
essa carcaça já aguentou muito tranco,
porres e ressacas assassinas,
são 47 anos na estepe,
camarada

pé no freio agora, que seus músculos não são mais os mesmos
já é outono para você, Dusquene, para os de sua geração
e o sexo também não é lá essas coisas, mas ainda é bom
ainda não preciso da pedra azul

a estepe é a rotina, que dissolve carnes e pretensões
- por incrível que pareça, hoje tenho dois pares de sapatos novos
essa a maior novidade da semana

por aqui a umidade do ar se mantém em 10 por cento
e os efeitos do vinho são potencializados
mas o tinto está do meu lado agora, grande companheiro
é, Dusquene, você tem du-ra-bi-li-da-de,
até quando... bem...



Black Lane

Bateram na porta. Um sujeito trombudo entrou.

- É Black Lane?

- Acho que sou. Não tem mais ninguém na sala, não é?

- Tenho um serviço pra você, a mando de Maddox.

- Quem é Maddox?

- O chefão. O grande cara. Nunca ooviu falar de Maddox?

- Por que deveria?

- Tudo na cidade é controlado por ele. Do submundo às corporações e grandes firmas.

- Sei. Tudo bem. Qual é o serviço? Tempo é dinheiro, filho.

O brutamontes cerrou um pouco mais os olhos e disse:

- Ele quer que você arroche um sujeito que lhe deve US$ 30 mil.

- E por que você não faz isso mesmo por mim?

- Maddox não quer que seja uma coisa de dentro, entende. Sou ligado a ele, na verdade, sou seu irmão.

- E por que Maddox está correndo atrás de US$ 30 mil se ele é, como você diz, o dono da cidade?

- Questão de princípio... Quem deve a ele, paga, de um jeito ou de outro.

- Vou pensar na proposta. Quanto levo nisso?

- US$ 10 mil.

- Considere o serviço feito.

- Não quer saber quem você deve apertar?

- Quem?

- Julie.

- Uma mulher!

- Não, é um homem, apesar de ter esse nome...

- Pior para Julie. Considere o serviço feito.

- Ele é da Gangue dos Cinco Estrelas.

- Aí a coisa complica. Encarar Julie, tudo bem. Mas o resto de seus colegas...

- Bem que Maddox falou que você poderia recuar quando soubesse...

Atalhei.

- Não sou covarde. Sou racional. Aliás, como é mesmo seu nome?

- Vicky.

- É, pelo visto você não pode mesmo ridicularizar Julie.

sexta-feira, 2 de setembro de 2011

Uma notícia nada ruim na noite lenta

Entre no escritório. Vi Janso com a camisa empapada de sangue.

"O que aconteceu?”

“Fumava um baseado. Era curto. Vance pediu um tapa e eu neguei”.

Notei a mão esquerda enrolada em uma toalha.

“Como e por que?”

“Uma tesoura. Tinha uma mulher comigo, mas ela não precisava vir com tudo”.

Pela primeira vez vi o rosto de Janso Rubiratti nublado, vertendo ódio. Parecia tramar um assassinato.

“E onde está Vance?”

“Foi comprar uns troços na farmácia pro curativo”.

E completou: “Vamos ao Frank beber um uísque, pra acalmar”.

Apontei para sua mão ferida. Ele olhou o embrulho.

“O curativo que se foda”, disse.

E saímos pro Frank, com a toalha vazando.

A rombuda face de um mal que persiste

eu não tenho escolha
todo o dia me levanto, vou trabalhar
e dou de cara com uma multidão
que eu não queria ver

os rostos me deprimem
a sensação de inutilidade de suas vidas me deprime
a vaga lembrança neles de algo vago me deprime
até mesmo a suposta confiança que aparentam de querer prosseguir

caminho entre pessoas como mais um sacrificado,
fodido, malbaratado, estúpido ser das massas
penso: "bem, pelo menos, é sexta, não os verei por dois dias..."
não deixa de ser um alento, ainda com a possibilidade dos drinks no Salute a vida já não é tão ruim

quinta-feira, 1 de setembro de 2011

O fato é o mesmo e sem razão alguma V

não briguemos mais por causas risíveis
a vida é maior que isso, baby
- ou talvez seja justamente isso
não percamos mais tempo remoendo o nada
que isso nada vale e perderemos um tempo
que poderia ser compartilhado com um drink
e uma boa conversa, leve, no sofá
eu massageando seus pés, você sentindo cócegas,
eu bebericando e você me contando, dizendo feliz,
notícias que eu não escuto

Um século nesta noite estranha

falo de coisas sem sentido
para que você entenda
falo de fatos que não ocorreram
porque estão em mim e em mais ninguém
para que você compreenda que a vida
é difícil, baby, e somos pessoas muito complicadas
eu briguento e cheio de manias, você louca e ansiosa

falo de coisas que nem mesmo vi ou vivi,
mas que sei, sei muito bem, pois com 47 anos
parece que já percorri um século

e, se você não buscar me entender
nem acreditar no que eu juro que vivi e senti,
está tudo muito bem,
mas você não serve para mim

Acomodação

Marilou tentou acomodar as coisas com Frank
começou a trabalhar como diarista em duas casas
suas costas doíam e ainda tinha que levar umas cervejas para Frank toda noite, e Frank não tolerava atrasos ou faltas
"Cadê minha cerveja, vaca?"
"Não deu pra trazer hoje. Só vou receber amanhã o pagamento da quinta-feira".
"Você é uma imprestável mesmo. Se eu não vir cerveja nesse frigo amanhã, o negócio vai feder para você".
E Marilou sabia que federia, e bastante.

Desproteção

"O que você fez no dia do furacão, Hunter?". "A coisa tremeu um bocado lá em casa, mas acho que bebi". "Bebeu? Você é maluco, beber numa situação dessas". "Mas o que eu poderia fazer. Não sai de casa. Então emborquei uns drinks". "Mas e se a coisa ficasse feia pro seu lado?" "Mas não ficou. Deu até para apreciar o bater da tempestade por uma greta do compensado". "Você protegeu as janelas e portas, então?". "É claro. Mas depois fui beber". "Você sabe a conta do prejuízo?" "US$ 7 bi e meio". "É, um troço sério". "É, John, sério".