quinta-feira, 30 de abril de 2015

todos os sonhos morrem às sextas-feiras

todos os sonhos morrem às sextas-feiras
é quando vemos que cumprimos apenas o script
e nos conformamos entornando umas cervejas

olhamos para os mesmos rostos vencidos dos bebuns de sempre
que, não sei por que, se alegram com a nossa entrada no bar
pensam: "outro que teve uma semana decente"

temos velhos hábitos - eu tenho os meus -
e seguimos em frente por hábito também
vendo as velhas caras, ouvindo as estúpidas músicas,
sem nada de novo, sem uma verve sequer

e esperaremos pela próxima semana
e apostaremos nossas fichas em algo que não virá
enfim, leremos em odiosas bocas amigas: "mais um no bar"

O inexplicável momento de nada dizer

A velha Mildred gostava de colocar uns vasos com plantas no parapeito da janela. Gillmore alertava Mildred.

"Qualquer hora um troço desses balança, cai e faz um estrago na cabeça de alguém. Se for comigo, as consequências serão graves...".

"Você está me ameaçando? Vou telefonar para a polícia".

"Dona, telefone para o escambau. Eu já lhe dei o aviso".

Um dia aconteceu. Um dos vasos com gerânios despencou e estatelou no piso da entrada, bem na hora que Gillmore saia pro trampo. O adubo negro do vaso cobriu as barras de sua calça creme e penetrou nos sapatos. Uma merda só. Gillmore olhou para cima e viu Mildred assustada, segurando um vaso que ameaçava cair.

"Eu lhe avisei", disse ele.

Gillmore abriu com força a porta do prédio de três andares, sem pilotis.

O que se ouviu depois foi o baque surdo de porta escancarada a pontapés, os gritos de Mildred e o barulho de vasos se quebrando no 279.

"Você é louco. Um homem insano aqui. Minhas azaleias, meus gerânios! Oh, meus pobres gerânios...".

Mas Gillmore continuava, firme, a destruir os jardins suspensos.

Teogonia às 2h43

à noite,
da janela,
vejo novamente
o edifício a distância

nele todo,
às 2h43,
luz em apenas
um cômodo

no penúltimo apartamento,
à leste

pergunto-me
por que aquilo

o mesmo cômodo,
noite após noite,
brilhante,
como farol
em tormenta

quem ali reside?
o perdulário
infame,
que não extingue
a chama

me faz pensar em
lhe tocar
a campanhia

certamente,
outro merda,
se levarmos em conta
a fauna
que nos cerca

de novo,
lá está ele,
crepidante,
o ponto iluminando
a imensidão
subsiste,
e não deixa
a noite
ser
o que deveria ser
- completa




Enquanto adormeço em meu vazio

sem delongas,
como anda a vida, amigo?
do inferno doméstico,
em que você diz estar,
vê saída?
quer saída?
não, não quer...

se você quisesse escapatória  realmente,
não a continuaria amando ternamente,
não a veria como a vê
há décadas, milênios, dias,
agora mesmo,
ao virar o rosto e
encontrar o dela,
na cama,
tranquilo
e belo


                                   Otto Dusquene



quarta-feira, 29 de abril de 2015

por que não desviamos o olhar uns dos outros

seguimos porque seguimos,
por necessidades aparentemente inadiáveis,
acordamos nesta manhã cinzenta
nesta cidade cinzenta
que é ...

vemos novamente esses rostos
cheios de insignificância no metrô.
ansiamos por uma revelação,
em meio a toda essa horda,
e que jamais virá

por que tudo isso?
para que tudo isso, meu Deus?
tanta gente abarrotada e inútil
em vagões fedendo a gente

não gosto de gente
sou antissocial por natureza
não gosto de que gostem de mim,
que falem comigo
não quero realmente que gostem de mim
isso me faz comum,
comum demais,
me faz mal

já vi sujeitos desesperançados
entortarem a viga
por não encontrar saída
- ah, essa ponte tão convidativa...

mas eu não sou um deles.
se cheguei até essa marca de cal
quero ver a linha de chegada.
só preciso de um pouco mais de coragem

mas não quero
que me apoiem,
que me incentivem,
que torçam por mim.

deixem que eu calce meus sapatos sujos
vista a camisa mal passada...
enfim, que eu levante,
simplesmente só,
meu fardo
nesta manhã
particularmente cinza

Vanda Velt

Vanda Velt, que mulher. Quando ia ou vinha do balcão, os caras uivavam. Aquelas pernas brancas de potranca polonesa, a Vanda Velt. Ela sabia como açular a turba, remexendo os quadris, pisando como tigresa. Era um espetáculo. E gratuito. E a um metro da gente. Deixava qualquer um de pau duro.

“Me faz uma massagem, Vanda? Tenho cãimbra...”

“Aonde, Dusquene?”

Eu descia, brincalhão, os olhos pro garoto teso.

“Vá se foder, seu miserável”.

Vanda me atirava na cara, gargalhando, o pano de limpar balcão.

Todos gargalhavam numa confraria.

Naquele tempo, as noites eram excepcionais no Finnegan’s.

Realmente excepcionais.

Havia Vanda Velt.

Que mulher.

Sally Rose

os seguranças do Marino’s
encontraram Sally Rose,
depois de uma procura de duas horas,
morgada, pernas estiradas,
docemente abraçada a uma privada,
cabeça emborcada para o vaso, escorada no assento,
vômito grosso no vestido branco

bebera seis copos de tequila
na festa de Fim de Ano da empresa
big boss não gostou especialmente
dos xingamentos antes do baque

Sally ficou, assim, malvista na corporação
por ter cheirado, durante duas horas,
literalmente, a merda alheia

Ao coma em nossa luz se esvai

dinheiro por dinheiro
dor por dor
miséria por miséria
vamos assim?
até quando você aguenta, camarada?
uma loucura
não terá,
não verá o sol
pousado em sua cerca?
como pode ser isto?
uma vida inteira
desperdiçada?

não, Joe,
com você hoje não,
tire a camisa social, jogue fora o cinto de fino couro,
vista o velho jeans, esquecido, repousante,
vá na loja, compre meia dúzia de
cervejas e um charuto do bom,
mande a mulher a puta-que-o-pariu,
mas com diplomacia,
e relaxe
ao sol,
que, enfim,
chegou

Falo a ela sobre os meus erros

Estou relaxado sobre a poltrona
Esticando
Barriga ao sol
A dona ali, me espiando
Vendo se eu não escarro ou faço algo pior

Dou um “tchauzinho”
Ela fecha a cara e a persiana
Ela tem belos peitos, mesmo

Eu abro a lata de cerveja
- é sempre bom ter uma lata de cerveja
e uma mulher pra acariciar
e um sistema de jogo
e uma caneta à mão pra riscar uns poemas
e, sei lá

Eu não ligo pra muita coisa
O prêmio acumulado da loteria, por exemplo,
Pássaros, crianças, programas da TV aberta,
Cruzadas, escritores contemporâneos,
Gente em geral e em particular

Só tem o seguinte
Não me perturbem quando eu estiver
fazendo algo de que realmente gosto
Eu não me lembro do que, especificamente,
Mas não me perturbem, nunca

O que faço a mim mesmo

as
pessoas
devem falar comigo
somente
o necessário
- e o necessário,
muitas vezes,
é plenamente dispensável

seus rostos
me causam náusea aonde surgem,
no metrô, nos bares, nos aeroportos,
nas bancas de revista, nas ruas,
na infinitude da mediocridade
geral

muitos indivíduos
consomem suas forças
para nada, ou pouco menos
que nada,
e saem da vida
como entraram:
sem substância
alguma

consolam-se
com ninharias, risos, ocasos,
comentários, palavras-cruzadas,
bebida contida,
pequenos rascunhos
de planos dispersos e
esquecidos

concentram-se
na lavagem do carro,
no sofá novo, no cão para os filhos,
na compra do supermercado,
no pagamento do boleto bancário,
e de outro boleto bancário
  
e disso falam, num bar,
diante de outros idiotas
que passam a vida a
desfiar essa trama
sem sentido

terça-feira, 28 de abril de 2015

Ao menos digam que gostaram da coisa

destelhamos
a casa do cara
quase completamente,
não, não fomos
tirando as telhas
velhas, cheias de musgo,
e substituindo de imediato
por telhas novas,
simplesmente destelhamos
metade da casa do sujeito

ao entardecer,
o céu ficou chumbo,
os abismos despencaram,
em fúria vertical,
torrencial

a sala de estar começou
a alagar depressa,
o sofá virou
literalmente um charco

nos abrigamos sob a grossa
viga de ipê, de sustentação,
ficamos ali,
os quatro idiotas
contemplando a sublime
destruição de uma casa de campo
bem planejada
e farta

o aguaceiro continuava,
eterno, insano, diluviano,
"o que faremos?", perguntei,
"eu sei o que faremos", disse Jimmy

ele transava com Sandy,
e se comprometeu com o sogro
com a troca da cobertura antiga
por uma nova em folha
"deixe comigo. conheço um pessoal do ramo",
e juntou uns desavisados
para o serviço

Jimmy nos levou
até a cozinha inundada,
chapinhamos sobre
15 centímetros de lodo,
ele meteu as mãos debaixo da pia,
e nos passou três garrafas
de uísque de primeira linha

abrimos o primeiro litro,
a coisa foi melhorando,
à medida que as doses desciam
e os litros eram esvaziados
achávamos o quadro
cada vez menos complicado,
de fácil solução

prosseguimos ali, parados, bebendo,
vendo o turbilhão de água desabando
inclemente

dormimos esparramados,
um debaixo da pia,
um no sofá alagado e revirado,
como tenda, para proteção,
os outros dois sei lá onde

o prejuízo foi incalculável,
mas Jimmy não ligou muito,
mandou às favas o sogro
e Sandy

não conseguiríamos,
mesmo se tentássemos sinceramente,
reverter aquele pandemônio,
o serviço foi bem pago,
com uísque
do bom



segunda-feira, 27 de abril de 2015

Paisagem fosca em meio ao clarão

ando pela rua e vejo o que vejo,
subo as longas escadas do Marítimo,
só me resta beber urgentemente
enquanto as vagas seguem em melancolia

ah, um bar, um fim de tarde,
mulheres com belas pernas chegando
e um copo com uísque e gelo suficientes

a vida pode ser até tolerável,
pode ser até decente
para um homem,
quando ele não agoniza
em um escritório,
queimando num trabalho
ordinário

- Garçom, mais um aqui.
- Certo, Sr. Dusquene.

agora, depois de duas horas,
o sol desce no horizonte,
ligo para minha fonte para
saber o que deu no primeiro prêmio

tudo laranja-amarelado
gostei do bar, realmente gostei,
fica sobre uma plataforma,
sem prédios em volta,
bom para beber
na véspera de uma folga,
que bem mereci

Death City

sinto que estou nesta cidade morta
com pessoas que não fazem sentido algum
vermes que passeiam sobre a terra desnuda
estou nesta cidade morta
bebendo um drinque qualquer
num bar qualquer,
lá fora o céu chumbo
do temporal iminente

gente estúpida ao meu redor...
calma, Dusquene, bebe um gole,
e esquece

Uma certeza imediata

a maioria não sabe porque está por aqui
não mesmo
milhões andam a esmo
falam, pensam que pensam,
mas não enganam ninguém
estão irremediavelmente perdidos

é realmente algo que mete medo,
milhões e milhões
imaginando merda em cima de merda,
e, o pior, fazendo merda em cima de merda
até a consumação dos tempos

deveriam simplesmente quentar ao sol, como as iguanas de Galápagos
e dormir seus sonhos inúteis e imprecisos

Fatos que vivi ao dormir

nos dois contatos
que tive
com indivíduos esquizofrênicos
os dois se suicidaram

um
apenas chegou no bar,
pediu café,
e anunciou para
quem quisesse ouvir:
"agora vou me jogar do ... andar"
nenhum lamento,
nenhum motivo dado,
ninguém acreditou

ele
continuou
"a vida é uma bosta, Jack,
para você , para mim, para qualquer um"
e foi-se

dez minutos depois
atirou-se,
estatelando na calçada,
o baque alto,
vivia ouvindo vozes...

o outro,
seu sonho era passar
em um concurso público,
"sei que vai ocorrer, sei que vai..."
seus olhos doentios e
ansiosos encaravam o vazio,
você via claramente
algo errado
ali,
enforcou-se num
apartamento,
vivia escutando vozes...

bem,
é assim

sabiam como aquilo acabaria,
eu também






O limo, eu vi, em meio à borrasca

realmente,
não há como errar,
é fato

é
seguir o esquema
em vigor

afinal,
os números
não metem,
nunca

o
jogo
é de azar,
mas diverte

a expectativa
do ganho
faz o
sangue
circular melhor

não há o que temer
desde que a
aposta
seja
mediana,
regular

é

então, Dusquene,
não há nada a cogitar,

somente os números errados

domingo, 26 de abril de 2015

Na lâmina

"Eu tenho 300 milhões de espermatozóides por milímetro cúbico". "E daí, Foster?". "Eu posso colonizar o mundo: EU SOU O PATRIARCA". "O caralho que é. Só na Ásia são 1,3 bilhão de chinas". "Mas eu tenho 300 milhões... O doutor falou que eu sou uma potência viva". "Foster, há quanto tempo você não trepa?". "Há dois meses". "Só fumando esses daí, né?". "É". "Brocha, né?". "É". "Então, vá ali, bata uma e libere os 300 milhões, senão saem pelos olhos".

Febre

A fauna que rodeia o jogo de números é gente dura, sem humanidade. Só está ali pela grana. Quer que todos se fodam. Tudo bem: eu também quero. São seres de cara fechada, que repelem qualquer ato de simpatia. São seres enclausurados, fechados em seu mundo obscuro. São seres imprestáveis, corrompidos. Que não ajudam em nada. É uma fauna realmente medonha. Tomada pelo vício. E eu me pareço com eles... Não. Acho que não, ainda. Ainda consigo controlar a ansiedade. Tenho meus esquemas, perco uns, ganho outros, e isso me salva.

Auréola do cosmos em personata

certa vez
bebi todas -
naquela época
sempre bebia todas -
e voltei para casa
de ônibus

o sol bruto, vivo,
batendo nos caixilhos, reverberava
e fazia meus olhos
sangrarem

e o sacolejar do
ônibus
- eu sentara em uma cadeira
bem em cima de um dos eixos do veículo -
revolvia em meu estômago
o fermento da cerveja

o trepidar contínuo,
o sol infestante,
o meu quase desfalecimento...

aí veio, forte,
vomitei em gorgolejos
sobre o passageiro da frente

minha reação imediata foi tentar limpar toda a merda,
passando a mão

o troço entrou pela gola da camisa
do cara, e então ele se virou,
e riu. Sm, ele riu!

seu rosto me dizia claramente:
- Acalme-se, não se incomode
- Fique tranquilo
- Aquiete suas vísceras e siga em frente

de repente,
aquele cidadão
transformou-se em um Deus
de misericórdia, benevolência e sabedoria,
que sabe muito bem
o quanto sofrem bêbados
sentados próximos a eixos de coletivos

esse sujeito foi o maior exemplo da boa humanidade que jamais conheci




sábado, 25 de abril de 2015

Mil pesadelo em meio à névoa da cidade suspensa


Era um castigo maldito.

Acordava aspirando a fumaça de breu da Steak Grill, ao lado. As janelas do cubículo onde eu morava pareciam feitas de carvão, de tanta fuligem depositada pelo vento. Fui reclamar com o gerente judeu do restaurante. O cara disse que iria construir a droga da chaminé até o topo do prédio dentro de um mês, no mais tardar. Um mês logo já era três.

Fui lá de novo:

- Estou respirando madeira torrada há três meses. Cadê a chaminé, Fullman?

- Sai em menos de um mês. Sem falta. Prometo.

- Esquece. Quero a chaminé para ontem. Trate de providenciar o troço, senão...

Fullman ficou sem cor. Entendeu a advertência como ameaça. Porém, eu quis dizer apenas que, se ele não erguesse a chaminé, eu apresentaria reclamação formal no Departamento de Obras e Posturas da prefeitura. Mas deixei correr, sem nada explicar, para ver no que dava.

Quinze dias depois a chaminé estava lá, suspensa no ar como a Babel antiga. Vazava dia e noite sua tosse negra. Mas nas alturas. Sobre os edifícios residenciais. O tumor carregado pela ventania.

Finalmente pude abrir um pouco as janelas. A fuligem não acabou de todo. Mas melhorou um bocado.

Num final de semana, Fullman saiu com a mulher para o litoral. Fechou a Steak.

À noite, um gato começou a miar, alto. O som escapava de dentro da chaminé. Talvez o bichano tivesse sido atraído pelo cheiro ou resto de carne e ficado preso, sei lá...

Depois de dois dias de miados infernais, sem ninguém pregar o olho, mesmo de ressaca como eu, a Obras e Posturas, atendendo a inúmeros chamados da vizinhança, arrombou o cadeado da Steak. Acharam uma ninhada de sete gatos pretos, negros como a noite, logo na entrada da chaminé.

Na volta, Fullman encontrou o estabelecimento interditado por evidente falta de higiene.

A cortina puída da alma alheia


1
Quem não tem preconceito - um que seja - não é humano. É triste, mas é verdade.

2
Os dias de sol, os drinques na piscina, quando os terei?

3
Certeza absoluta só idiotas têm.

4
Quando uma mulher quer, ela faz um homem pensar naquele viaduto.

5
As mulheres se arrumam. Se maqueiam. Vão a salões de beleza. Fazem o diabo. Mas muitas perdem seus homens para a garrafa.

6
Viver é im-pre-vi-si-bi-li-da-de. O caos...

7
Os jovens hoje vivem com os país até 27, 30 anos. Júnior não sai de casa nem para comprar cigarros.

8
Um bar sortido. Essa é minha ideia de Paraíso.

9
Sempre há gotas a mais no fundo de qualquer garrafa.

10
A possibilidade geralmente é apenas isso: uma possibilidade.

Ode ao significante medo em que me vejo

o diabo são os outros,
os outros,
com seus rostos  vertendo ódio
e incertezas,
o diabo é a falta de
perspectiva, de alento,
o buraco no meio da rua,
a topada no meio-fio

a velha mastigando
a torrada
na minha frente
rsk rsk rsk rsk rsk
rsk rsk rsk rsk rsk
rsk rsk rsk rsk rsk

o diabo é
a apatia abrangente
de tantos quantos,
tal qual inseticida,
transformando
tudo
em uma pasta verde

antes o verme,
antes,
à
terra,
menos essa monotonia
múltipla
a céu aberto

sexta-feira, 24 de abril de 2015

Embrulhem o peixe em celofane verde e deem pro gato


1.
Qualquer mulher é capaz de enlouquecer um homem em dez segundos.

2.
Todo idiota julga-se um gênio. Eu inclusive.

3.
Bukowski não fazia literatura.
Fazia a vida melhorada e, por essa razão, descobriu a América.
E ele também não foi o último beat, cacete.

4.
Escrever é idiotice.
A vida real vale mais do que qualquer ficção.

5.
Ninguém escreve tudo o que pensa ou toda a repugnância que é.  Portanto, escrever é uma forma de modéstia.

6.
Bebendo você diz que só aguenta o mundo com a cabeça feita.

7.
Fidelidade é o maior adultério contra si mesmo. Melhor se você fosse um verme. E você é.
8.
Não compro livros. Os autores que já li são suficientes. Um ou dois escapam. O resto (99%) pode ir para a incineradora.

9.
Estamos presos a uma engrenagem em que homens e mulheres estão se odiando cada vez mais. E melhor.

10.
Ah, o sol. O sol, quentando...

Uma noite no esquecimento, entre divisórias

1.
Tente ser um pouco mais gente.
Tente.
Só tente,

2.
Viver é uma forma de suicídio.

3.
Cerveja quando não entorna, consagra o espírito.

4.
Há somente a confiabilidade na solidão.

5.
Todas as mulheres merecem ser tratadas com respeito. Menos a sua.

6.
"Dusquene, velho vaso de guerra. Ou apenas vaso de merda", disse Marion.

7.
Qualquer realidade é claustrofóbica.

8.
RSK RSK RSK RSK,
Porra é ela de novo.

9.
Foder é um forma de protesto. Para mim, pelo menos, é.

10.
É isso, e só.

Em meio ao que tudo posso nesta miserável vida

eu não preciso de muitas coisas:
dessa quantidade enorme de seres humanos
de lanchonetes, shopping centers,
da hipocrisia humana, da aberração humana,
de fé ou noticiário esportivo

detesto jornais
e revistas especializadas
gosto de beber antes, durante e depois
acredito que o planeta vai de mal a pior até que me provem o contrário
- por enquanto, continuo vendo a merda descendo pelo cano
dias ensolarados e secos são particularmente indigestos
quando a ressaca é brava - e, geralmente, é na minha idade

detesto também notícias de ganhadores de loterias
ou de qualquer prêmio - podem ser pessoas sem fibra,
que farão coisas elementares com a grana

já essa notícia da explosão solar é interessante,
forma auroras boreais, anima a vida, aquece o sangue,
faz com que tenhamos dúvida sobre a permanência da espécie nesta terra,
e isso é sempre algo salutar - a incerteza, esperar o caos em tudo

Totum frenesi

o que estamos fazendo neste exato momento
o que realmente estamos fazendo?
com nossas vidas agora?

só introjetando ódio e
lassidão
nas veias

misérias cotidianas
como caracóis palmilhando
grãos de terra

arqueados por nossos erros,
prosseguimos,
insistimos,
até encostar na fita do "Fim"

a birita, os bares, as mulheres.
a sensação de fúria, contida,
de nada, de impotência

e a vida voltando

"Nasceu?"
"Nasceu. Mas você vai ver a merda que isso será daqui a 30 anos".


A dúvida apreciável

Case esta só esta noite. Vic não vem. Case bebe uma cerveja choca, esperando, mas Vic já avisou que não virá. No sofá puído ele tenta alcançar o remoto. Desiste. "A TV que se dane, que fique ligada", pensou. Só restava coçar um pouco as bolas. Foi o que fez.Não havia realmente muito mais a fazer. Só enfiar uma bala no crânio. Humm... Humm... Case olhou pro revólver em cima da mesa de centro. Estava à mão. Mais à mão que o remoto, jogado na outra extremidade do sofá. "Será rápido e confortável", pensou. 2h18. Afinal, Vic não vem mesmo. Ele levou a mão à mesa. Atingiu seu objetivo. Cleck. Abriu mais uma lata de cerveja morna. "Vic que vá para o caralho", disse. E emborcou legal.

quinta-feira, 23 de abril de 2015

Carta aberta em alto mar

1.
Há sempre uma espera interminável. Beba, meu chapa.

2.
Viver é desertar.

3.
Bom é o fim de semana. O jogo razoável. A vida razoável. As sobras requentadas de algo já provado.

4.
Perder também é uma forma de conquista.

5.
 A rua sempre indica o caminho para o cão.

6.
Ter certeza é uma estupidez.

7.
Difícil é encontrar alguém de bem com a vida vivo.

8.
É isso...

Pobres, pobres, livres e pobres

o poema vem imundo
como os becos mais sórdidos da city
sai como um bêbado ao final de uma noitada
vem trôpego, mas verdadeiro

o poema mente como uma puta,
lhe dá o que você implora,
mija morno na sua perna e pisca,
cínico, humano e eterno
como a pobreza
na city

o poema chega morto,
cheirando a séculos e ferrugem,
como o último dos últimos
copos no balcão do bar
mais fétido

é o poema,
o que devem esperar de mim

Metrô

os lotes são estratégicos
homens e mulheres se posicionam
na plataforma, bem onde
as portas se abrirão
na chegada
da coisa

usam os cotovelos como lanças, prontas para o ataque
- são leões, palmilhando,
e quem invadir o seu espaço - é a presa

não há respeito algum
a compressão vai num crescendo
"ei, camarada, há uma grávida aqui.
Olha onde enfia esse guarda-chuva".

e eu, amarfanhado,
monitorando meus 30 cm2,
por longa meia hora,
volto pra casa,
no A320,
após
um feliz
dia
de trabalho

Meu eu que eu não domino

não entendo bem suas caras rudes,
sua apoplexia,
esperando talvez uma réstia de luz
em suas vidas mornas, inúteis

hoje é sexta-feira
os bares estarão cheios de nada,
amadores bebendo, mulheres lamentando,
tomados por velhas histórias e piadas

vão beber, urinar, rir, berrar
obscenidades para a lua
dentro da luz neon
da rua

pensam que isso é resistência, arte, mas não é,
eu não penso em nada,
mas é confortável ter o corpo
e a mente, cansados da semana,
finalmente livres

tirar os sapatos sujos
jogar meias, cueca e camisa no cesto de roupas,
uma toalha tampando o inferno,
estirar os dedos dos pés, grunhir um pouco,
e, por fim, dando tudo por consumado,
mamar uma cerveja, estalando de gelada

Pelo Ctrl-Alt-Dell

o sujeito deu oito tiros num computador,
porque a porra do ctrl+alt+delete não funcionou
pela enésima vez

o cara perdeu a paciência,
é preciso entender...
eu, pelo menos, sou solidário

realmente,
às vezes sobe a vontade de fazer um
Ctrl-Alt-Dell
a  tiros

isso,
quando as coisas não vão bem,
e nunca vão,
mas fiquemos só na vontade, somente,
porque senão ninguém vai dormir
neste país

terça-feira, 21 de abril de 2015

Um estranho caso de amor ao meu lado

Abri a porta. Na minha frente estava Walker, meu vizinho.
"E aí, Walker?"
"Só vim lhe informar que comprei uma boneca de plástico".
"Como é?".
Walker tinha 55 anos e me encarou com os olhinhos maliciosos.
"Caso cê queira pra alguma coisa".
"Tudo bem, Walher. Se eu precisar bato na sua porta".
"Fiz uns ajustes nela".
Fiquei curioso.
"Que ajustes?".
"Uma boca. A mulher veio sem boca. A merda dessas encomendas pelos Correios. Imagine, Dusquene... Como uma puta paga um boquete sem boca?"
"Realmente é um problema".
"Ela já me pagou sete boquetes desde sexta-feira".
Walker riu, mostrando os dentes amarelados.
"Se precisar, eu e Amber estamos à disposição".
"Se eu precisar, Walker, só vou precisar da Amber".
"Tudo bem, Duc. Tamos aí".
Quando Walker abriu a porta para entrar no 413, vi de relance sua amante estirada no sofá. Era uma loura de belas tetas.
Fechei a porta e volte pro quarto.
Marion dormia na cama.
Uma boa bunda sob os lençóis.
Pensei em fazer alguma coisa com aquilo.
Depois lembrei que Amber era mais ativa.
Marion tinha me agraciado no máximo com uns quatro boquetes na vida.
Já Amber...
Walker era um sujeito de sorte.

Relax, bastard

ei, cara,
aonde você vai com essa pressa toda?
o que você espera encontrar no final?
quer vencer quem ou o que?
quer alicerces rijos para a sua descendência?
mas você pode não conseguir
pode se esfalfar tentando, suando, tentando,
perder a sanidade, os dentes, a festa,
os drinques estão servidos, aproveite agora

ei, cara,
o que você pensa em fazer aos 50?
por que não relaxar e viver um pouco na sombra?
por que essa urgência plena e insatisfeita?
você pode não conseguir
pode rasgar os joelhos rezando, latejando, rezando,
mas não vai conseguir tudo o que deseja,
ninguém deixa, ninguém, aproveite agora

se acalme
e mande todos os bastardos que enfernizam sua vida,
com suas loucas necessidades, ir lá fora e juntar grandes bolas de merda

Enquanto calço os sapatos

quando calço os sapatos
sinto-me entregue
num cansaço corporal secular

tenho quase 50 anos...
mas sinto como se já tivesse vivido bem mais
as pessoas já não me interessam
sei muito sobre elas
e isto as torna, para mim,
aquilo que se põe no bueiro

raras são as vezes que suporto
seus olhares, seus andares,
é como se caminhassem para o nada
mas procriando feito porcos

creio que o homem está numa encruzilhada
e não decidiu que caminho seguir
parece que tudo já foi dito, feito,
revirado
não há mais boas-novas
nem a mínima perspectiva de uma bomba atômica
que pudesse dar fim a tudo

Otto Dusquene

A rombuda face de um mal que persiste

eu não tenho escolha
todo o dia me levanto, vou trabalhar
e dou de cara com uma multidão
que eu não queria ver

os rostos me deprimem
a sensação de inutilidade de suas vidas me deprime
a vaga lembrança neles de algo vago me deprime
até mesmo a suposta confiança que aparentam de querer prosseguir

caminho entre pessoas como mais um sacrificado,
fodido, malbaratado, estúpido ser das massas
penso: "bem, pelo menos, é sexta, não os verei por dois dias..."
não deixa de ser um alento, ainda com a possibilidade dos drinks no Salute a vida já não é tão ruim

Em pêlo de hirto desconsolo

não há paixão,
só dever, o estar,
a certeza inadiável,
a pressão dos acontecimentos,
desmoronando da pilha cotidiana

enquanto escrevo,
minha mulher dorme,
todos dormem, para acordar sete, oito horas à frente,
na repetição do dia interminável

enquanto escrevo,
há a solidão boa, palpável,
o esquecimento silencioso,
dos afazeres

e o miado dos gatos, o santo
mio dos gatos nos telhados
- às vezes penso que eles são
os donos do pedaço, e são,

mas não, agora,
quando chove torrencialmente,
fodendo a paz dos
santos



segunda-feira, 20 de abril de 2015

AUTONOMIA

Um poema de Otto Dusquene

1

Marion Manton morreu depois de dois meses e meio,
de um câncer terminal e público. Morreu gritando, gemendo e
definhando no apartamento 208-A, da Danton Street.
Tinha 26 anos. Não teve AUTONOMIA para manter-se viva.
Buff Lindener morreu há menos de um mês,
de edema pulmonar, caído entre duas máquinas de lavar,
às três da tarde, no porão do edifício onde morava.
Idade: 57. Complicação derivada da falta de AUTONOMIA para permanecer vivo.
Dick Craigton faleceu após agonizar durante duas horas,
com dois tiros nas costas. Todos passavam por ele,
sem dar a mínima. Idade: 16. Causa mortis: ausência de AUTONOMIA.
Ruth Stein morreu engasgada com um pedaço de carne.
Sufocou aos 72 anos num restaurante da Limonae.
Havia quarenta pessoas no local. Ninguém notou o episódio.
Não teve AUTONOMIA para desobstruir a traqueia.

2

John Stanley tentou salvar sua filha,
envolvida em um acidente de carro,
quando voltava do trabalho.
Ele passou na via por acaso
e viu a filha presa nas ferragens.
Em desespero, tentou tirá-la do veículo.
Foi imediatamente preso pelos controladores de condutas.
Oito meses depois seu caso foi levado à Suprema Corte.
Foi condenado à prisão perpétua. Faleceu em 2034.

3

Hannah, sua filha, morreu uma hora após o acidente.
Não teve como sair do carro com uma perna e quatro costelas quebradas.
Pulmão perfurado, hemorragia interna.
Muito embora, é preciso destacar, os camareiros
estivessem de plantão a dois metros de onde estava,
esperando que ela fosse até eles, para encaminhá-la
a uma das UNIDADES DE SALVAMENTO,
as quais as pessoas têm direito uma única vez na vida.

4

Quem não tem condições de se safar por conta própria
morre não de doença, acidente, assalto.
Neste mundo todos morrem por não ter AUTONOMIA.
Não é insensibilidade, somente a nova ordem das coisas,
nascida naturalmente... roboticamente... inoxidavelmente
metodicamente incorporada ao dia a dia das pessoas.

5

No conjunto de edifícios cinzas da Área 159-B,
as vidraças balançam nos caixilhos,
com a ventania horizontal,
que já entortou as lâminas de dois dos quatro
outdoors colocados pelo governo,
bem diante dos blocos de apartamentos sem pilotis.
Neles está escrito, em letras garrafais, o mesmo aviso:
“É TERMINANTEMENTE PROIBIDO AJUDAR QUALQUER INDIVÍDUO. AUTONOMIA É REQUERIDA SEMPRE. EM TODAS AS SITUAÇÕES.”.
Logo abaixo, em letras menores, vermelhas, lê-se:
“Quem auxiliar um incapaz será sumariamente preso e julgado sob as leis de AUTONOMIA.”.

6

John Smith, morador do apartamento 227, da Torre C, da Área 159-B,
tentou sabotar essa diretriz, participou de uma rede clandestina de auxílio...
Foi torturado, imolado tão brutalmente
que logo revelou os nomes dos quatro outros integrantes da organização.
As cinco pessoas que, em razão das ações da rede, tiveram uma segunda chance de vida, foram assassinadas (respeitando as mesmas condições em que morreriam se não houvesse ocorrido qualquer intervenção externa).
“AUTONOMIA jamais, jamais deve ter compaixão. Lembre-se disso. É a seleção natural, em último caso o destino, que separa os fortes dos fracos.”.
Os dizeres acima estão espalhados por imensos cartazes. Em todo o país.

Um supermercado ao rés do chão

em algum lugar há um supermercado aberto
e sem ninguém,
sem sequer carros de supermercado,
sem carros no estacionamento,
só o sol batendo forte, belo,
luxuriante,
e no azul uma vertigem,
desarrazoado assomo de liberdade,
em tudo quanto há,
nenhum movimento mais,
as geladeiras demonstrativas repletas
de cervas geladas,
bestialmente geladas,
e eu, de garganta seca, no pó,
na merda patinada de meus dias
sobre a terra.

Ela

Seguirei vivendo
esses últimos 20 anos
não sei se escrevendo,
indo a supermercados,
mas certamente botando o vinho no carro,
vendo disco voador,
virando leitor de livros de economia,
o drama dusqueniano completado...

Até que venha ela,
ela, a esperada,
ela, a aguardada,
ela com seus lábios em vermelho
me pagando o boquete final.

Das urgências da vida sem sol ou ternura


Eu preciso,
com urgência,
de calma, serenidade,
de uma cerveja à mão.
Eliminar esse excesso de seres humanos...
Que incomodam mais que sarna,
sem que nada disso soe
anátema...

É só o que preciso
numa véspera de feriado –
no dia do feriado –
na tortura da volta ao trabalho.

Um homem decente só exige
um pouco de sossego,
mirar o horizonte
sem ver a placa do
curso de direção
em três parcelas,
sem entrada,
sem ter nojo
de tudo.

O sujeito só necessita
de um pouco de verve,
de birita, da aposta mediana,
de sol e esquecimento,
para viver
com algum resto
de dignidade.

sexta-feira, 17 de abril de 2015

A grande fêmea, bucetuda

Somos menos que aquela estrela
Mas somos alguma coisa
Eu, bebendo esse vinho,
sobre a murada
E indo para...
Penso que, talvez,
devamos dar uma chance a nós mesmos
não devemos nos entregar,
passar o cheque em branco
ir pela escada quando temos o elevador
- mas milhões vão pela escada -
e isso é bom.

A humanidade vai pela escada, envolta em bruma
e desilusão,
você, que está com o peito dilacerado,
há sempre uma chance, camarada,
na próxima esquina

a grande mulher virá
tenha fé
e beba
um pouco mais

...

- Al, você nem trepa mais...

- Eh, Você não sabe de nada. Eu tô metendo que é um leão...

- Em quem? - perguntou o dono do bar.

-  Sei lá, com  aquela, aquela, aquela outra...

E Al foi apontando e enumerando o ar...


Gatos em noites quentes


gatos nos telhados...
o sexo deles
é uma briga insana,
visceral,
puro dentes, garras
e raiva.
fazem o troço
como deviam fazer
homens e mulheres.
com frenesi
e desespero,
como faca,
rilhando a campa
da noite.
e a lua, vendo tudo aquilo,
todas as fodas –
 as nossas e as deles –
deve pensar
"os gatos são melhores...
podem não ser os dominantes,
mas sabem o que e como fazer”

               Otto Dusquene

Sensação infinita de lugar nenhum

1
Quem é uma ínfima porção do nada, nada vale...

2
Sou a sombra e você nem sol é.

3.
Pô, fecha essa porta e traz uma cerveja...

4,
Cinema é a arte de passar o tempo.

5.
Filme bom é fábula.

6.
Jogar é inevitável.

7.
Não devo justificativas.

8.
Beber é um arte, bêbada.

9.
Quem ama, é explorado.

10.
Foder não é uma arte. Foder, a parte.

Morte à luz da lua sob o pálio colossal

Ninguém vive em meio dia o pleno dia
Mas eu vivi, porra, eu vivi
quando aquela mulher passou
com suas pernas de dois metros e sua bunda maravilhosa, exata
Eu vi que o sol brilhava
com uma pulsação completa, diferente.

Quero viver para ela e Vic não sabe disso
- seu nome é Vic -
E eu viverei como se fosse o último dos homens
trepando com a  magnífica mulher.

Eu bebo o velho vinho
E não tenho porque viver sem ela
Mas resisto...

- Dusquene, 
Velho de guerra,
Cê é uma merda perfeita!

E ela sabe...
O meu caralho na sua boca
ela queria
- Porra, Dusquene. endurece!
- Você é um merda de 51 anos!
- Eu sou essa merda mesmo, aguenta o que vier.
E continue mamando o vinho....