terça-feira, 26 de março de 2013

Um local escorregadio como as bordas do inferno


Fui ver meu pai na UTI. Ele estava em coma, com um câncer terminal. Entrei na unidade, com minha irmã, no horário estipulado. Prazo da visita: 15 minutos. Do lado de meu pai havia outro velho mais velho, também entubado, mas acordado.

A quantidade de equipamentos era grande. Uma confusão de catéteres e instrumentos de metal, monitores, etc.

Comecei a checar as coisas. Sempre fui curioso. Batimentos cardíacos. Balão de oxigênio. Marcadores de pressão arterial.

“Puta-que-o-pariu! Olha só”, apontei para um gráfico qualquer.

“Que foi?”, disse minha irmã.

“Vê isso. Está realmente crítico”.

Nos aproximamos ainda mais dos aparelhos. Os números pareciam de fato preocupantes.

De repente, minha irmã notou que o velho ao lado nos olhava apreensivo. Agitava os braços tentando aparentemente encontrar apoio para se erguer, para enxergar também o que víamos.

Ai minha irmã percebeu. E disse, baixo.

“Otto, esses monitores são do vovô aqui", balançou leve a cabeça pra esquerda. "Os do pai são aqueles ali. Mais ao fundo e à direita”.

Então olhei pro velhote e falei, avermelhando.

“Pressão excelente. Coração, OK”.

E saímos rápido.

Neste dia, a visita a meu pai durou menos de dez minutos.

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