segunda-feira, 11 de maio de 2015

Podemos ser melhores, mas não agora

 Era um pardieiro. Sala A 860. Janso vivia ali, e mal.

No quarto-sala havia uma mesa, cadeira, um sofá em avançado estado de decomposição, onde ele dormia. E fotos. Fotos das personalidades que pousaram com Janso ao longo de sua extensa vida como jornalista free lancer. Na verdade, Janso vivia de bicos, dos bicos que os amigos de circunstância arranjavam para que pudesse pagar o uísque com gelo no Jasmine.

- Tive história. Esse pessoal comeu na minha mão durante muito tempo.

- Como assim? - perguntei.

 - Para abafar as amantes, os incidentes, meu caro. Os incidentes... Um atropelamento, surra na mulher, uma cheirada mal-resolvida, que resultou em um quarto de hotel arrasado... Bem, você sabe, essas coisas...

- Chantagem, então?

- Não era bem assim... Eu tinha informações de bastidores. Sei onde e o que acontecia. Apenas comunicava ao ator da peça que a cena fora filmada, registrada. Eh, eh, eh... E entrávamos em conversação amigável...

- Outro nome para chantagem...

- É, não deixa de ser.

Mas Janso não morreu rico, nem remediado.  Ao final da vida, mendigava uma cerveja, uma dose de Jack Daniels. E ovos cozidos, seu prato predileto.

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