segunda-feira, 8 de abril de 2013

A loucura que nos convence de uma maneira inexorável

Entrei no metrô. Sorte naquele dia. Um lugar vago. Sentei. Comecei a folhear o jornaleco que distribuem nas estações. Numa cadeira lateral, uma dona loura de meia idade. Eu estava nas páginas de esporte, conferindo os resultados. Então, do nada, o tique. O maldito tique que veio das profundezas de não sei onde. Na minha frente, um esgar da mão esquerda com um puxão, quase um tapa, também para a esquerda. A mão da loura roçou o jornal. "Porra, de novo não", pensei. Tinha comigo um trauma com uma cabeça num restaurante, uma cabeça de uma dona também, que agitava de cinco em cinco segundos, para o lado. Olhei. Havia visto o movimento da loura, enquanto mudava a página. Mais 30 segundos, o esgar e o repelão. Novamente o bater da mão no jornal. "Dona, por favor, que bosta é essa?". "O que?". "Essa merda enervante que você faz com a mão, tumultuando ainda mais esse mundo insano". "Não faço nada". "Como não? E esse tique dos infernos?". Imitei, sério. O povo que estava perto gostou. A velhinha desdentada do meu lado riu. "QUE TIQUE! NUNCA TIVE TIQUE ALGUM! JAMAIS! QUE É ISSO DE TIQUE?! VOCÊ SÓ PODE ESTAR DE BRINCADEIRA COM A MINHA CARA". "Tudo bem, dona. O mundo é que não se enquadra aos seus movimentos". Durante a conversa, haviam se passado os 30 segundos. O esgar da mão de pássaro veio forte desta vez e o repuxão arrancou o jornal de minhas mãos. Eu sabia que o troço viria, por isso havia levantado de propósito algumas páginas. "Tá vendo, dona... ESSE TIQUE! É dessa porra que eu estou falando...". "QUE TIQUE?! ALGUÉM AQUI VIU ALGUMA COISA? VOCÊ SÓ PODE ESTAR MALUCO!". "É, dona, de certo modo, todos nós estamos". Apontei para uma idosa que entrava e lhe passei o lugar. Na hora que a velhinha sentou eu abaixei e lhe disse, alto: "Olhe pra janela, vovó. Sempre pra janela. Jamais para frente. NUNCA! Ouviu bem, NUNCA!". Olhei, então, para a loura de meia idade, que se remoía. Dei tchau, ri e desci naquela parada. Esperaria uma nova composição.

Nenhum comentário:

Postar um comentário