sexta-feira, 1 de maio de 2015
Baratas, meu mundo delas não sai
As baratas do almoxarifado são legais. Eu me apeguei a algumas delas. Edgar é o cara das costas pretas, tem uma asa fraturada, a esquerda. É dobrada pra cima. Creio que ele a bateu no pouso, não sei. Buster é quase do tamanho de Edgar, mas é pálido como uma beluga. Buster tem classe, caminha pisando leve, como Fred Astaire, mas é velho de casa. Conheço ele a uma porrada de meses. Ele gosta de aparecer no meio da noite, um pouco depois de Edgar. Edgar geralmente fica entre a segunda e a terceira prateleiras. Buster não, sempre na quarta, juntamente com ela, a minha favorita. Molly é a menorzinha e se esconde realmente bem no final das caixas de papelão. Só lá pelas 22h, quando estou realmente sozinho, na vigília, que ela aparece, devagarinho. Põe a cabeça pra fora. "Oh, é você Molly, hoje trouxe uns farelos de biscoito de coco. Taí. Não sei se vai gostar. Buster não quis. Está de dieta. Mas é melhor que a velha mazeina". A coisa ia assim, eu e meus animais de estimação. Sempre disse pra Edgar ficar atento. "Pare de se aventurar na segunda, fique na terceira. Os caras podem te ver na caminhada". Não deu outra. "Porra, que merda é essa Dusquene? Aqui tá cheio de bicho". Não deu tempo pra nada. Buff descarregou toda a raiva de séculos em Edgar. Depois olhou pra mão, contendo Edgar pulverizado. "Bosta", disse. Limpou meu pobre amigo em seu macacão. "Bosta, não. Ele se chamava Edgar". Buff não entendeu. "A barata que cê matou, desgraçado", eu disse. Buff me olhou. Apontou o dedo pra mim. "Cê é doido cara, ou passa tempo demais aqui nesta caverna". Depois da tragédia, Buster e Molly regularam mais as saídas. Passei a colocar as refeições somente às 23h.
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