quarta-feira, 17 de agosto de 2011

Sem título XXVI

estou mal para escrever um poema, qualquer poema
realmente não quero escrever sobre nada hoje
nada que faça sentido para qualquer um

as muralhas das cidades são um poema a céu aberto
seus edifícios espelhados, as ruas em tumulto,
o trânsito infernal, a umidade de deserto,
a fuligem, o desespero, o desarmor, a urgência irrefreável,
o cansaço presente em tudo, nos cartazes
nos comerciais, nos noticiários...

qualquer poema, portanto, seria mais um entre milhares, entre milhões
seria cair na rotina, como cerveja choca em garganta seca
enfim, algo sem propósito, sem endereço, sem pegada,
e eu não desejo nenhum mal para vocês:
nem o mijo do cachorro do vizinho,
nem um mau poema

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