sexta-feira, 5 de agosto de 2011

Aquilo que é bom e nem é tanto II

Eu não suporto mulheres que falam demais. Acho que um dos requisitos essenciais de uma mulher é falar na medida certa. Tinha uma dona no meu terceiro emprego no almoxarifado da Ummus que não parava a boca. Era um troço medonho ver aqueles lábios finos se movimentando. A mulher dava um leve "bom dia" e daí começava falando dos últimos acontecimentos políticos, da trama dos seriados da TV, da merda do presidente, da lata de lixo que ruiu de velha, do cachorro do vizinho que latiu a noite toda, de mariscos e polvos, das adolescentes que abrem as pernas por nada, etc, etc, etc.

Gillmore ficava só olhando Wilna falar. Jurava pra todo mundo que ia fazer aquele canário calar. Eu fiquei na minha, mas anotei a ameaça. Gillmore não aguentava mais. Trabalhava numa mesa ao lado de Wilna e era ele quem recebia o maior impacto.

Num final de expediente, lá pelas 21, sirenes de polícia e o escambau no pátio. No final da última fila de prateleiras do setor encontraram Wilna toda ensanguentada, com Gillmore sentado a seu lado, escorado na parede, com uma espécie de cano de metal nas mãos.

Ele simplesmente olhou para os policiais e falou. "Eu amo essa mulher. mas ela não para de falar. Quebrei-lhe os dentes".

E Wilna ali, babando sangue, sem dizer uma única palavra.

Nenhum comentário:

Postar um comentário