terça-feira, 18 de setembro de 2012

Não pode a covardia agora, não agora


talvez eu faça um poema
que não fale de bêbados e bares
dos vencidos, dos desprezados,
do horror de crianças abusadas
em rodoviárias,
em obras inacabadas

um poema
que não fale da catequese
dos profetas de metrô tentando a todos com a conversão,
no último minuto da volta do relógio,
vaticinando momentos catárticos,
inesquecíveis

talvez não fale da grande dor
que é padecer na miséria dos cortiços urbanos
- 30 mil pessoas somente em (...) - ,
sabendo-se sem saída, com seus filhos,
filhos muito pequenos,
tão vulnerados,
em plena noite de Natal
em qualquer região
em qualquer cidade
em qualquer rua
em qualquer beco
em qualquer escada
ou vão

mas, então, do que falar na porra, no caralho deste poema?
às vésperas de perus e presuntos em mesas fartas, decoradas,
e tão distantes... deles

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