segunda-feira, 21 de abril de 2014

Ontem, tarde, na rua mais próxima


"Beberei até a sua última gota, Dusquene".
"Espero que engasgue, sua rampeira".
"Pensava que ia ter uma boa vida, hein?".
"É. Realmente imaginava algo melhor para o meu lado".
"Cê não é melhor do que ninguém, Duc".
"Sei que não sou. Mas também não preciso ser igual a todos".
"Escrever uns poemas e textos não o tornam superior".
"Mas me salvam do ramerrão, conservam o meu nariz acima do mar de bosta".
"Você é engraçado. Saiba... NINGUÉM SE SALVARÁ!"
"Não procuro redenção alguma".
"Seu fim será igual ao dos outros camaradas".
"Mas deixarei uns troços escritos, meu ódio talvez".
"Você se acha especial, Dusquene. Muito especial..."
"Afinal, dona, cê não tem mais o que fazer?"
"E você? Que destino dá a sua vida miserável?"
"Bebo e escrevo e vice-versa".
"Sua novela nunca será publicada".
"O que eu posso fazer? Mas um editor já se interessou. Agora é aguardar".
"Conversaremos mais tarde. O cara lá de cima me bipou. Um atropelamento na Pomerode, 45. Amanhã estou de volta".
"Não venha. Me dê uma folga".
"Isso não existe para você, Dusquene. Não para você".

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