domingo, 29 de maio de 2011

Os 30 melhores poemas de Otto Dusquene, até agora - por ele mesmo (7)

A merda nossa que vaza todos os dias

o diabo é
o ramerrão
a falta de perspectiva
de grana
as solas dos sapatos gastas
as meias furadas nos dedos e nos calcanhares
o sem saco de
comprar meias e sapatos

o diabo é
o sol, o maldito sol rompante,
o café oxidado
na térmica
de quinta
a danação das ruas
a vontade de ver ninguém
a ressaca bruta
o bolor no armário
e o periquito verde
do vizinho
o pane mental, enfim,
a perda de sensibilidade...


o diabo é isso
a uniforme percepção
social
denunciando sonhos
as pessoas do metrô
com seus rostos vencidos,
banidos, inúteis,
a morte anunciada
em tudo

já no apartamento
depois de um dia morno
ligo a TV
desligo
- esqueço que não há vida na TV -

é tarde,
camarada,
muito tarde para qualquer um
salvar-se

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