domingo, 26 de abril de 2015

Auréola do cosmos em personata

certa vez
bebi todas -
naquela época
sempre bebia todas -
e voltei para casa
de ônibus

o sol bruto, vivo,
batendo nos caixilhos, reverberava
e fazia meus olhos
sangrarem

e o sacolejar do
ônibus
- eu sentara em uma cadeira
bem em cima de um dos eixos do veículo -
revolvia em meu estômago
o fermento da cerveja

o trepidar contínuo,
o sol infestante,
o meu quase desfalecimento...

aí veio, forte,
vomitei em gorgolejos
sobre o passageiro da frente

minha reação imediata foi tentar limpar toda a merda,
passando a mão

o troço entrou pela gola da camisa
do cara, e então ele se virou,
e riu. Sm, ele riu!

seu rosto me dizia claramente:
- Acalme-se, não se incomode
- Fique tranquilo
- Aquiete suas vísceras e siga em frente

de repente,
aquele cidadão
transformou-se em um Deus
de misericórdia, benevolência e sabedoria,
que sabe muito bem
o quanto sofrem bêbados
sentados próximos a eixos de coletivos

esse sujeito foi o maior exemplo da boa humanidade que jamais conheci




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