quarta-feira, 29 de abril de 2015

O que faço a mim mesmo

as
pessoas
devem falar comigo
somente
o necessário
- e o necessário,
muitas vezes,
é plenamente dispensável

seus rostos
me causam náusea aonde surgem,
no metrô, nos bares, nos aeroportos,
nas bancas de revista, nas ruas,
na infinitude da mediocridade
geral

muitos indivíduos
consomem suas forças
para nada, ou pouco menos
que nada,
e saem da vida
como entraram:
sem substância
alguma

consolam-se
com ninharias, risos, ocasos,
comentários, palavras-cruzadas,
bebida contida,
pequenos rascunhos
de planos dispersos e
esquecidos

concentram-se
na lavagem do carro,
no sofá novo, no cão para os filhos,
na compra do supermercado,
no pagamento do boleto bancário,
e de outro boleto bancário
  
e disso falam, num bar,
diante de outros idiotas
que passam a vida a
desfiar essa trama
sem sentido

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