destelhamos
a casa do cara
quase completamente,
não, não fomos
tirando as telhas
velhas, cheias de musgo,
e substituindo de imediato
por telhas novas,
simplesmente destelhamos
metade da casa do sujeito
ao entardecer,
o céu ficou chumbo,
os abismos despencaram,
em fúria vertical,
torrencial
a sala de estar começou
a alagar depressa,
o sofá virou
literalmente um charco
nos abrigamos sob a grossa
viga de ipê, de sustentação,
ficamos ali,
os quatro idiotas
contemplando a sublime
destruição de uma casa de campo
bem planejada
e farta
o aguaceiro continuava,
eterno, insano, diluviano,
"o que faremos?", perguntei,
"eu sei o que faremos", disse Jimmy
ele transava com Sandy,
e se comprometeu com o sogro
com a troca da cobertura antiga
por uma nova em folha
"deixe comigo. conheço um pessoal do ramo",
e juntou uns desavisados
para o serviço
Jimmy nos levou
até a cozinha inundada,
chapinhamos sobre
15 centímetros de lodo,
ele meteu as mãos debaixo da pia,
e nos passou três garrafas
de uísque de primeira linha
abrimos o primeiro litro,
a coisa foi melhorando,
à medida que as doses desciam
e os litros eram esvaziados
achávamos o quadro
cada vez menos complicado,
de fácil solução
prosseguimos ali, parados, bebendo,
vendo o turbilhão de água desabando
inclemente
dormimos esparramados,
um debaixo da pia,
um no sofá alagado e revirado,
como tenda, para proteção,
os outros dois sei lá onde
o prejuízo foi incalculável,
mas Jimmy não ligou muito,
mandou às favas o sogro
e Sandy
não conseguiríamos,
mesmo se tentássemos sinceramente,
reverter aquele pandemônio,
o serviço foi bem pago,
com uísque
do bom
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