segunda-feira, 5 de setembro de 2011

Black Lane - Capítulo 1, 2 e 3


Capítulo 1


Bateram na porta. Um sujeito trombudo entrou.

- É Black Lane?

- Acho que sou. Não tem mais ninguém na sala, não é?

- Tenho um serviço pra você, a mando de Maddox.

- Quem é Maddox?

- O chefão. O grande cara. Nunca ouviu falar de Maddox?

- Por que deveria?

- Tudo na cidade é controlado por ele. Do submundo às corporações e grandes firmas.

- Sei. Tudo bem. Qual é o serviço? Tempo é dinheiro, filho.

O brutamontes cerrou os olhos e disse:

- Ele quer que você arroche um sujeito que lhe deve US$ 30 mil.

- E por que você não faz isso mesmo por mim?

- Maddox não quer que seja uma coisa de dentro, entende.

- E por que Maddox está correndo atrás de US$ 30 mil se ele é, como você diz, o dono da cidade?

- Questão de princípio... Quem deve a ele, paga, de um jeito ou de outro.

- Vou pensar na proposta. Quanto levo nisso?

- US$ 10 mil.

- Considere o serviço feito.

- Não quer saber quem você deve apertar?

- Quem?

- Julie.

- Uma mulher!

- Não, é um homem, apesar de ter esse nome...

- Pior para Julie. Considere o serviço feito.

- Ele é da Gangue dos Cinco Estrelas.

- Aí a coisa complica. Encarar Julie, tudo certo. Mas o resto da turma...

- Bem que Maddox falou que você poderia recuar quando soubesse...

Black atalhou.

- Não sou covarde. Sou racional. Aliás, como é mesmo seu nome?

- Vicky.

- É, pelo visto você não pode mesmo ridicularizar Julie.


Capítulo 2


- Quero todas as informações sobre Julie. Preciso de um endereço.

- Kingsley, n. 189. Ele é um sujeito recluso, mas um dia pediu emprestado a Maddox. E ninguém deve a Maddox sem pagar.

- Acho que você já disse isso. O que mais você pode me dizer, Vicky?

- Por favor, me chame de Penido. Meu sobrenome...

- Realmente, se eu tivesse um nome desses eu não gostaria que me chamassem assim.

- De que? De Penido?

- Não, de Vicky.

O sujeito olhou Black Lane com má intenção.

- Acalme-se grandalhão, com o endereço já dá para começar... Avise a Maddox que quero US$ 5 mil adiantados. Depois que eu receber os US$ 30 mil de Julie vem os outros US$ 5 mil.

- Nada de adiantamentos, Lane . Recebemos os US$ 30 mil e lhe damos os US$ 10 mil. Afinal, você pode não ter sucesso. Mais uma coisa...

- O que é?

- Julie é o líder da Gangue dos Cinco Estrelas.

- Porra, esse troço está cada vez mais complicado.

Vicky ficou encarando. Sabia que o detetive estava cogitando se deveria pegar o serviço.

- Devo aumentar o preço.

- Sem essa. Paramos nos US$ 10 mil. Um terço é bom demais para você. Queremos o dinheiro por questão de princípio e...

- Sei, sei...

O velho detetive divisou o escritório. O arquivo escangalhado, com gavetas que mal encaixavam. A estante caindo aos pedaços. O piso que não via uma limpeza e cera há dois anos. O estofamento do sofá creme parecendo marrom de tanto uso e gordura, pois, além de escritório, aquilo era a sua casa. O frigobar sempre vazio...

- Fechado - disse por fim - Considere o serviço feito.

Pela primeira vez o detetive viu Vicky sorrir, levemente.

- Não vai ser tão fácil assim. Não tão fácil assim...

Abriu e bateu a porta do escritório, deixando Lane lá dentro, pensativo.


Capítulo 3


No dia seguinte, Black Lane colocou, por precaução, o 38 prata no coldre afivelado no ombro e peito. Vestiu o paletó azul escuro. Ajeitou a gravata. E fechou o escritório.

Dirigiu até a Trocadero e depois virou à direita, seguindo para o norte. Meia hora depois estacionava a cem metros do n. 189 da Kingsley.

- Bela casa você tem Julie.

Lane saltou do caro. Abotoou o paletó e caminhou até lá.

Tinha 61 anos. Mas ainda era um sujeito forte, que intimidava.

- Acho que não terei problema. Seja educado, Black Lane. Educação é tudo e um pouco mais nessas horas. Rígido, mas educado.

Subiu dois lances de escada e tocou a campainha.

Um minuto depois, um grandalhão, até parecido com Vicky, se mostrou no batente da porta.

- Quem é você? O que deseja?

- Preciso falar com Julie. Com urgência. É um recado do Sam.

- Não conheço nenhum Sam...

- O tio...

O pontapé foi certeiro. A muralha dobrou os joelhos, segurando os bagos com as duas mãos. O detetive o escorou na parede.

- Desculpe, filho. Mas você não me deixaria entrar mesmo. Economizamos tempo. Doe muito, mas é só colocar gelo depois.

Lane vasculhou o gigante, estava desarmado. Melhor.

- Desculpe novamente, filho – uma coronhada na nuca, o segurança apagou.

O detetive prosseguiu, passando por um vestíbulo até uma sala ampla, toda branca.

À direita, sentado em um largo sofá, estava Julie. Acariciava um yorkshire e via um programa qualquer na TV. O cachorro olhou curioso para Lane, porém não latiu. Melhor.

Julie, um branquelo louro de quase dois metros de altura, vestido todo de vinho, até os sapatos, fez menção de se levantar.

- Não faça isso – o detetive levou à mão ao paletó – Sente. Preciso de um favor seu, Julie.

- Eu não sou Julie.

- Não minta. Só um cara chamado Julie poderia ter um yorkshire de estimação e se vestir dessa forma.

Julie resignou-se:

- O que você quer?

- Que me empreste US$ 30 mil.

- Como?

- Maddox, lembra-se.

- Ahh, então tudo se explica...

- É, Julie, tudo se explica. E não me interessa muito você ser o chefão da porra da Gangue dos Cinco Estrelas. Enquanto eu possuir esse três oitão –
Black Lane tirou o revólver do coldre e apontou – Realmente pouco me importa.

- Calma aí. Como é seu nome?

- Nem queira saber. Levante as mãos, Julie, nada de apertar botões embutidos no cu de Ludmila, ou em qualquer outra parte.

- Quem é Ludmila?

- A cachorra aí do seu lado.

- É macho. Seu nome é Fulldrow.

- Para mim parece fêmea. E ter cara de Ludmila.

Pela primeira vez o cão latiu.

- E você fique quieto. O dinheiro, Julie? AGORA...

- Eu não tenho toda essa grana aqui.

- Tem sim. Caras como você sempre têm algum cubículo atrás da estante. Mostre o cofre.

- Você é um homem morto, seja quem for? Sabe disso, não sabe?

- Muitos já disseram isso. AONDE, Julie?

- Ali, atrás do vaso com flores. Tem um fundo falso, que corre para o lado.

- Vá na frente.

Depois de empurrar o vaso e o fundo falso.

- Abra o cofre e se afaste. Fique do meu lado direito. Qualquer movimento brusco, Fulldrow ficará sem dono.

Cofre aberto.

- Ora, ora, Julie. Ser chefe de gangue compensa não. Embora o crime... Conte esse dinheiro e ponha US$ 30 mil no envelope.

Black Lane foi colocando maços de notas de cem no vão da estante ao lado.
Julie começou a contar.

Feito o embrulho.

- Fico lhe devendo um envelope.

- Você não terá uma vida longa com ele e seu conteúdo.

- Também uns poucos já disseram isso, Julie. Venha cá.
Outra coronhada. E o tinto desabou.

Lane fechou o cofre. O cachorro continuava olhando. Cachorro estúpido.

Agora o problema era entregar o dinheiro sem ser assassinado por Maddox, Vicky ou Julie e os Cinco Estrelas. Ele não era o único culpado. Afinal, Maddox fora o mandante. Não sabia se Julie e sua turma teriam coragem para peitar Maddox, o dono do pedaço. Isto porque Julie parecia realmente dever ao figurão... Mas a gangue certamente iria querer acertar as contas com o executor da cobrança.

- Bem... – o detetive olhou pro envelope, conformando-se – Nunca gostei de Midrosville mesmo.

Entrou no carro, passou num posto, encheu o tanque e voou para a rodovia federal mais próxima.

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