Era um apê legal o de Brenda Lee. 5º andar. Cadeiras de palha. Mesa de centro. Sofá branco, com almofadas brancas, próximo ao janelão de correr. Vista boa.
Fui na frente com as chaves, enquanto Brenda guardava o carro. Iríamos fazer uns camarões empanados na manteiga. Algo fino uma vez na vida pro Otto Dusquene. O sol já ia baixando. Levei as sacolas pra cozinha. Botei o tinto no congelador.
Tudo certo. Voltei pra sala.
Aquelas almofadas na lateral do sofá eram convidativas. Cheguei perto e desabei. Daí ouvi o estalo. “Cleck!”. “Porra! Quebrei o cinzeiro ou o abajur...”. Olhei pro lado. A mesa lateral continuava intacta com seus objetos. Então, tive um palpite. Levantei. Só então a vi... Lá estava Penélope, a poodle neve de Brenda, com o pescoço quebrado, morta pelos meus 100 quilos promocionais. Eu a havia confundido com uma almofada. Ela ali, toda enrolada, dormindo profundamente. Bem que Brenda dissera que a cachorra estava sonolenta em razão de um remédio contra virose, ou algo parecido. Eu cometera um assassinato sob o sol - ou quase.
Precisava pensar... PENSE, DUSQUENE, E RÁPIDO! Segui a única ideia que me ocorreu na hora. Abri o janelão. Um vão largo. E atirei por ele o corpo inerte de Pê (era como sua dona a chamava na intimidade).
Só foi o tempo de me virar, colocar um sorriso relaxado no rosto e Brenda abrir a porta.
“E aí, gostou?”
“Dez, baby, dez”, fiz o sinal de OK.
“Já viu a Pê?”
Olhei pros lados. Braços abertos sobre o encosto do sofá.
“Ainda não. Onde ela está?”
“Pê! Cadê você?”.
Depois de procurarmos por cinco minutos, Brenda começou a se desesperar.
"Não estou encontrando...".
“Calma, vamos achá-la”.
Brenda teve um pressentimento ao reparar o janelão aberto. Foi até lá. Colocou a cara pra fora. E viu lá embaixo, entre os arbustos, uma coisa branca, imóvel.
“OH, MEU DEUS, PÊ! LÁ EMBAIXO!”
Olhei.
“Talvez possa ser”, eu disse.
Descemos as escadas correndo, sem esperar o elevador. Brenda abriu com um puxão a porta da entrada e foi pro jardim. Identificou e se debruçou sobre o corpo de Pê, alucinada.
“O QUE HOUVE? QUE SERÁ QUE ACONTECEU?"
"Só vejo uma possibilidade", falei.
"Qual?", disse Brenda com o rosto afogueado.
"Suicídio".
"O que?"
"Ou isso ou distração. Você disse que ela andava meio sonolenta. O janelão estava aberto. O sofá bem perto".
"Mas eu juro que deixei o janelão fechado quando saí".
"Quando cheguei estava aberto. Sentei justamente ali pelo vento".
Brenda baixou os olhos para Penélope, morta. Afagou-lhe a cabeça.
"Ela era tão... branquinha, que nem neve".
"Foi exatamente esse o problema".
Quase disse. Mas me segurei a tempo.
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