domingo, 12 de dezembro de 2010
Porque escrevo essas merdas e porque (presumo) estão lendo
“Posso ver nos seus olhos que você não presta, Dusquene”. “É?”. “Que cê faz atualmente?” “Tô tentando ser escritor”. “E o que você ganha com isso?”. “Tempo”. “Tempo?”. “Pra enganar o tédio. Todo mundo precisa enganar alguém ou alguma coisa”. “Cê, então, mente no que escreve?”. “Só um pouco”. “Como assim?”. “Basicamente é a realidade, mas acrescida de condimentos”. “Condi...o que?”. “Deixa pra lá”. “Então você mente pra quem lê as coisas que escreve?” “Já disse, só um pouco”. “Tem algum livro?”. “Moto Continuum – uma novela”. “Fala do quê?” “Da minha vida nos bares e de uma mulher”. “Tá publicado?”. “Estou publicando todo o dia num local específico que criei”. “Tem gente lendo?” “Só uns doidos que não têm uso melhor pras suas vidas”. “Mas isso é ofensivo!”. “Pra quem lê, é”. “Você é meio orgulhoso, não?” “Nem um pouco. Só não tolero burrice e cachorro”. “Eu também não gosto”. “De que?” “De cachorro”. “Eu prefiro os gatos, preferencialmente misturados com pombos”. “Mas isso é uma carnificina!” “Já que não posso ir à Plaza del Toros, em Madrid... Monitoro os estacionamentos”. “Você não regula bem, Dusquene. É muito amargo”. “Ninguém é muito normal, camarada, ninguém”. “Eu me considero normal”. “É bem normal um sujeito que guarda os palitos que usou durante o mês no bolso da camisa”. “ISSO É PERFEITAMENTE NORMAL, DUSQUENE, TODO MUNDO GUARDA ALGUM SOUVENIR”. “É. Todos mantêm, cara... uma amostra”.
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