o diabo é
o ramerrão
a falta de perspectiva
de grana
as solas dos sapatos gastas
as meias furadas nos dedos e nos calcanhares
o sem saco de
comprar meias e sapatos
o diabo é
o sol, o maldito sol rompante,
o café oxidado
na térmica
de quinta
a danação das ruas
a vontade de ver ninguém
a ressaca bruta
o bolor no armário
e o periquito verde
do vizinho
o pane mental, enfim,
a perda de sensibilidade...
o diabo é isso
a uniforme percepção
social
denunciando sonhos
as pessoas do metrô
com seus rostos vencidos,
banidos, inúteis,
a morte anunciada
em tudo
já no apartamento
depois de um dia morno
ligo a TV
desligo
- esqueço que não há vida na TV -
é tarde,
camarada,
muito tarde para qualquer um
salvar-se
Otto Dusquene, o alter-ego de um escritor
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