sexta-feira, 22 de novembro de 2013

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Ela tinha o olhar remelento e turvo e uns olhinhos de cone como se seu olhar passasse num túnel de concreto. A mulherzinha era insignificante, mas atormentava todo mundo. ERa puro ódio e descontentamento com tudo. Era o deserto, o nada, o vácuo.

Sei que você tem uma dessas em sua vida...

Beba em sua glória.

Enquanto há tempo e esperança

1
Eu quero foder com seu seio direito.

2
Você é a melhor parte de mim - declaração de amor para qualquer mulher.

3
Foder é arte.

4
Enquanto você dorme eu me masturbo.

5
A merda é ter dinheiro demais.

6
Eu só quero sinceridade... E mandar tudo mundo à merda...

7
Ei, você pode melhor que isso...

8.
Tem sempre um troço escorrendo....

9.
Viver é merda pura.... pura merda!

10.
Perdi... e daí? Viver é perder....

Everglades

Everglades era enorme
Tinha uma boca escancarada, e era uma merda como ser humano
Fodia com o juízo de qualquer um que passasse a menos de cinco metros

Nunca gostei de Everglades
Ninguém gostava

Era gorda e tinha um sorriso falso,
brilhante

Foda má, como uma trinca de taça de qualquer coisa na nuca
e o sangue descendo

Nunca foderei com Everglades
ela me foderá, sempre...

sábado, 31 de agosto de 2013

Um grande amigo do homem

"Onde está Penny? Você viu Penny, mãe?".

"Não". Veja se está debaixo do sofá".

A garotinha saiu gritando "Penny! Penny!"

A mãe ficou na sala. De repente viu uma bola de pelos malhada saltitante.

"Gina, Penny está aqui!".

Gina veio correndo. Viu o minicoelho.

"Ué, mãe, que é aquela mancha em cima dele?

Minnie chegou perto, pegou o minicoelho. Examinou a mancha. Sentiu algo.

Levou o bicho ao nariz.

"É merda!"

Foi aí que Bullford entrou na sala, ainda afivelando o cinto nas calças.

"Seu filho-duma-puta! Cê limpou o cu com Penny, não foi?"

"Que cê queria que eu fizesse? Pedi o higiênico. Você estava demorando... O bicho entrou no banheiro, daí pensei... Por que não? E digo mais: não existe nada tão macio. Um dia você devia experimentar".

Gina saiu da sala chorando.



Penny ficou ali, cochilando na mão de Minnie.  

Um amor

"Candy voltou", disse seco Ellfroy. Murray fechou a cara. "Como essa puta pode voltar depois de tudo que me fez", disse para si mesmo. "Calma, não faça nada de que você venha a se arrepender depois". "Ela não merece estar aqui. Deixou o menino quando ele tinha três anos". "Mas você contribuiu com a bebida". "Não é motivo para ela sair abrindo as pernas por aí. Uma puta..." Candy entrou devagar na sala. Murray a olhou fixo. Ela trazia ainda os olhos baixos que sempre teve. Estava velha, como ele. "Oi...", ela disse. Ele não disse nada, só chorou e caiu de joelhos de saudade.

Uma conversinha no almoxarifado


“Não tenho nada de errado, Wilburn. Sou perfeitamente capaz de lhe dar uns tabefes”.

“Deixe disso, Fred. Não falei dessa maneira. Você olhou pelo lado torto”.

“Quando você falou foi pra sacanear. Conheço bem pessoas de sua laia, Wilburn”.

“Não falei por mal quando disse ‘me dê uma mão, aqui’. Estou com problema na contabilidade, é só. Queria uma ajuda”.

“VOCÊ É UM TREMENDO CANALHA, WILBURN! UM GRANDESSÍSSIMO FILHO-DUMA-PUTA!”.

Daí Wilburn partiu pra cima de Fred, que só tinha um braço e não teve como se defender.

Acima da amurada ao longe

1.
Quando menos esperamos, a SORTE acontece.

2.
Toda mulher pode ser algo melhor.

3.
Ninguém muda. Mudar é ficção.

4.
"Willcott, tire seus pés imundos do sofá!"
"Quer que eu ponha eles aonde? Na sua cara?"

5.
Sempre há a possibilidade do idiota no próximo bar.

6.
Quem ama, tolera. Amor é tolerância.

7.
Sol. Oh, sol... Maldito sol...

8.
Vivendo e bebendo.

9,
Quando não houver mais vida, ainda haverá baratas.

10.
A salvação é pessoal e diária.

Enquanto os homens andarem sobre a terra

é preciso ter alguma fé
mas não muita
enquanto os homens andarem
sobre a terra
é preciso desconfiar
ficar atento
não descuidar
da vida, da saúde, da carteira

é preciso uma bebida urgente
algo necessário
uma mulher decente
uma xota

é preciso vencer o medo
de tudo
todos temos muito medo
e uma paisagem marítima
e um drinque
e palmeiras e coqueiros
e afogar num mergulho
essa sensação
de mortalidade
e tristeza

quinta-feira, 25 de julho de 2013

Enquanto o papel higiênico não vem

1.
"Hum..."
"Que que é, baby?"
"Só tem sardinha..."

2.
Viver é trabalho.
Só isso...

3.
Não deixe ninguém saber
o quanto você pode ser
mais idiota do que é.

4.
Fidelidade é preguiça.

5.
Jogar moderadamente não é vício.
É sinal de saúde.

You

Você,
que pensa que será grande daqui a alguns anos,
que pensa que realizará seu sonho sob água matinal,
que permanecerá sempre tentando,até o esgotamento,
que sobre derrotas nada falará, justificando-as todas,
que fará uma merda atrás da outra

Você,
que buscará no álcool qualquer coisa de humano, e ficará vencido,
que procurará qualquer coisa sob o solar da lua morta e nada encontrará,
que desmontará a maquete antes mesmo do primeiro tijolo cozido,
você, homem, você, você mesmo, que dormirá com os porcos, no trajeto,
e que clamará aos céus pelo aniquilamento

Você,
que imaginará ter um tesouro sob a pedra,
que vomitará bílis e desejos ao lado da gorda mesa,
que espantará pombos como bichos humilhantes,
e se servirá do último drinque no copo americano,
você, homem, você, você mesmo, que é da América,
nua, escura, úmida, calorenta, bela
como uma stripper

Você,
que perderá os culhões sob as fachadas luminosas dos supermercados,
que antecipará o pagamento da empregada por pena e asco e insinceridade,
que dormirá sob as estrelas em uma noite clara de vigília bêbada,
que deixou para trás todo o legado de 50, 60 e 70,
que esperará somente viver um pouco mais mais,
para que o urso ainda tente abocanhar o peixe,
ou algo, assim, idiota e totalmente humano,
assim é, homem, assim

O que pode ser hoje - e jamais

o copo do drinque
a TV
o mundo lá fora
"Dusquene, velho de guerra"
Parece que você viveu
mais de um século
e ainda há mais...

quando verei
algo bom
quando o
tal UFO e dirá
que nós estamos
meio errados

bem,
há este drinque
e a TV
e o controle remoto
fora do alcance
da mão
agora

quinta-feira, 11 de julho de 2013

Mãe

minha mãe se foi
foi uma mulher guerreira
como muitas mães são guerreiras
por aí afora.
viveu 80 anos e um mês e tanto
uma mulher simples, de fibra
bom descanso
T.

terça-feira, 25 de junho de 2013

O que assiná-lo no armistício do crânio

1
Qualquer mulher é melhor que nada. Não é bem assim. Você tem mão... Algumas valem menos que sua mão direita.

2.
Crer nas pessoas é crer no impossível.

3.
Acredite, desconfiando sempre.

4.
O próximo passo é um drinque. A rigor.

5.
É sério: SE FOR DIRIGIR, NÃO BEBA. Siga sempre este lema.

6.
A garrafa não deve ser a responsável pela morte de ninguém.

7.
"Dusquene, cê é um puta-dum-caralho-de-um-conservador-de-merda"
"É por aí"

8.
Quem nunca trabalhou nunca gastou sapatos.

9.
Só um bêbado reconhece as angústias de outro bêbado.

10.
Já imaginou como será o mundo daqui a 83 anos. Assustador... ou não.

DAY BY DAY

o problema é que
ninguém liga para o dia de amanhã
a sociedade norte-americana é perdulária
- talvez venha daí a sua riqueza,
sua urgência de viver,
seu desassombro financeiro
"Ora, US$ 16 trilhões em dívida federal, não é nada".
"O governo que pague. Que se vire..."
"O GOVERNO É VOCÊ, MEU CHAPA!"
Não sou eu quem digo, é o GOVERNO.

Noite de gato ensopado

Para entusiasmar Marion, vesti minha sunga Playboy de seda. Um colosso. Dentro dela, é claro. Meu obelisco do Egito passava, uns cinco centímetros, da borda da sunga, quando vi Marion de lingerie novinha em folha. Aquela égua, linda, loura, carnuda como anca de búfala. Fui me aproximando. Subi na cama e o obelisco venceu a seda, que escorregou no pau. O troço roxo desceu, apontou para Marion como uma seta de "Siga adiante".

Eu ri. Ela gargalhou. Que foda, meu bom Deus. Que foda seria aquela.

Filosofia de albergue

Vicky Valentine deu o rabo e se arrependeu
Era o único buraco virgem em seu corpo
Ellmore aproveitou bem aquele buraquinho
Depois, quando Vicky chorou,
fez de tudo para confortá-la:
"Foi só no cuzinho, bem. Ninguém nota".
"Mas você me arreganhou..."
"Que nada, baby. Só foi a metade..."

O momento é breve e taciturno

1.
Você tem que se defender até de um percevejo.

2.
O humano é muito inumano.

3.
Fazer certo certas coisas destrói a vida.

4.
Quando um homem ama uma mulher é verdadeiramente um suicida.

5.
Ou um anormal.

6.
Vale a pena somente quando a garrafa está meio vazia.

7.
Viver é uma forma de expurgar suas vontades.

8.
Você quer relaxar... Mas a vida, camarada, o obriga a se levantar do sofá.

9.
Em meio ao tédio infinito, um bar...

10.
Ah, um drinque, uma piscina, o sol na cara, inundando o terreno...


segunda-feira, 10 de junho de 2013

Uma rodada de uísque, cartas e pragas


"Ninguém morre às sextas-feiras. É um dia ruim para morrer".

"É, eu sei. Mas a esposa de Fred morreu e ele não virá para o carteado".

Dougall resmungou um pouco, se acomodando melhor na cadeira. Prazze ficou puto.

"Acabou com o nosso jogo, porra. Sexta-feira realmente não é dia de entrar no saco".

"É , mas temos que dar os pêsames a Fred".

"Como a mulher morreu?"

"Soube faz dez minutos. Foi assassinada pelo amante".

"Como é? Fred quem lhe disse?"

"Não. Um conhecido. Ela transava com um corretor de seguros há dois anos sem Fred saber".

"E Fred soube?"

"Soube e perdoou a mulher. Aí ela informou ao corretor que não iria mais foder com ele. Trepavam todas as sextas à tardinha, justamente quando Fred vinha pro carteado. Ele sempre confiou cegamente em Irene".

"E daí?", perguntou Prazze a Rufus.

"O amante não se conformou e peineirou ela. Cinco tiros, duas horas atrás. Disse que queria dar a última nela como despedida e peineirou ela num motel da 7ª".

"É, mas isso não é motivo para Fred faltar ao carteado. Porra, essa noite é sagrada, merda!", disse Prazze, resumindo o que todos, na verdade, estavam sentindo.

"Quer saber? Quem é corno que espere. A mulher já está morta mesmo. Vou ligar para o Vicent para ver se ele vem substituir o Fred".

"É. Ótima ideia", disse Dougall.

Sem saída num dia quente de maio

"Sei de umas coisas, mas acho que não vou lhe dizer, Dusquene". "Ah é? O que é, mano?". "Eu converso com o Grande Deflorador todas as noites". "E o que ele lhe diz?". "Que todas as mulheres me pertencem". "É". "E que ele somente permite que os outros as desfrutem - ou melhor, fodam - para a propagação da espécie. Mas todas me pertencem. É certo". "Então, obrigado por me emprestar a minha mulher". "Tudo bem. Mas cuide bem dela, um dia você terá que devolvê-la a mim. E quero receber o produto em bom estado, OK?". Olhei pro sujeito mais diretamente. Seus olhos estavam baços. Não sabia se ria ou lhe dava um murro. Por via das dúvidas, fiquei com a segunda opção.

Diário de um esquecimento

as pessoas me incomodam
só de vê-las passo mal
sinto náusea

é um negócio meio doido
mas realmente eu não gosto de gente
prefiro ficar na minha
vou ao bar pela bebida
não para di-a-lo-gar

vão todos se foder
- e que eu me foda também

aquela piranha não me dá há meses
mas vive no motel com um outro qualquer
- é, Dusquene, você vai de mal a pior

é foda
gente é foda

...

meu copo
não toque no meu copo
não deixem que toquem no meu copo
meu copo é o meu copo,
e o que tem dentro dele é OURO
com quatro pedras de gelo
meus icebergs do Ártico

iéééééééééhhhh

Paisagem com um quê de saudade indizível

já basta de tanta
gente sem finalidade
caminhando nas ruas
já basta da enormidade do nada

cada vez mais me impressiona
- não, já não me impressiona mais -
as caras opacas, sem qualquer lampejo
de significação.ou dignidade

seres amorfos
por dentro, visivelmente
- não quero conversa com 99,99% da humanidade
- nem esses querem comigo, o que já é um bom propósito

fiquemos assim
eles lá,
eu aqui,
calmamente bebendo meu drink
até a consumação,
deles ou minha

No lar ardente sobre a relva fresca

"Você fica aí sentado nesse sofá, mamando uma dúzia de cervejas por noite. Você não sai comigo. Você não presta, Seymour!". "O que é isso! Tivemos aquele jantar na casa do Bullford e da Annie há três meses... Não diga que eu não sou um cara legal". "Você não liga para as minhas necessidades. Estou perdendo a vida neste apartamento. Entra dia, sai dia, e nada acontece". "Como não? E aquele atropelamento do garoto aqui bem em frente na semana passada?". "Até a Suzzy não aguentou. Foi morar com uma amiga. Pelo pai que tem...". "E você acreditou nessa história? Ela juntou os panos de bunda com aquele desgraçado magricela que vinha aqui filar o meu almoço". "Não diga isso de nossa filha única, seu imundo. Você realmente não presta". "Eu sou um bom marido pra você, Minnie". "Marido bom, é marido morto!"

Liberdade, liberdade, não mais

quando na rua
comporte-se, camarada,
eles estão te olhando
por mil câmeras

agora, não tem jeito,
à vida privada, na rua,
é pública
não, pior,
um caso de governo

mijar no poste
é crime capital

Foda é viver pensando nisto que não tem jeito

homem,
olhe o mundo,
veja a merda em que você se meteu

nem pense
em escapar,nem tente,
nem lute demais, nem chore,
nem abra essa lata de cerveja agora

veja a lua cheia,
apenas pare um pouco com tudo isso,
é esse o momento de ficar calmo,calmo como
a superfície de um lago congelado

homem,
olhe o mundo,
nem pense tentar vencê-lo,
nem que você morra tentando,
socando paredes de concreto,
você é apenas algo inútil, que passa, é só

segunda-feira, 3 de junho de 2013

Eu só e minha alma cheia de tanta poeira a caminho

A força do homem
vem da sua mortalidade,
é dela que ele vive, ama, ousa e enlouquece,
se sujeita a tanta descortesia,  por si mesmo, por álcool,
mulher, prole, carro, posição social, essa vigarice toda,
que inferniza o mundo e mata o capim

é foda,
e não tem jeito,
e você está nessa até o nariz, camarada,
enquanto você viver nas cidades desenvolvidas do Ocidente, vai engolir, engolir até vomitar,
vomitar, até precisar se encher da droga de novo,
e assim vai

quando morreremos disso?
ninguém saberá até que se dê.
eu com minha garrafa, na escada, debaixo do poste,
esperando o quê, aquele bêbado-profeta
de que falei, prevendo o fim do mundo,
dormindo mais tarde, sob os jornais,
sempre no amanhã,
que vem,
até que...

domingo, 26 de maio de 2013

Filosofia de albergue

Vicky Valentine deu o rabo e se arrependeu
Era o único buraco virgem em seu corpo
Ellmore aproveitou bem aquele buraquinho
Depois, quando Vicky chorou,
fez de tudo para confortá-la:
"Foi só no cuzinho, bem. Ninguém nota".
"Mas você me arreganhou..."
"Que nada, baby. Só foi a metade..."

...

talvez ainda veja um filme decente,
algum que não tenha mulheres histéricas, nem perseguições,
nem assassinatos, nem GENTE

é, um dia desses vão produzir um filme assim
e, então, tudo ficará em PAZ

Tão pouco tempo no mísero vão da porta


aqueles que escreveram
sobre o que passaram na vida
disseram a verdade,
a sua verdade, pelo menos

foram brutos,
honestos, viscerais,
arrebentaram suas mentes
nas pilastras dos edifícios de negócios,
socaram a cara da Morte até os ossos,
fendendo seus vermes amarelos e cretinos,
levados ao chão e pisados

não fizeram LITERATURA,
esse cão sarnento, repugnante,
não se deixaram levar pela NOVIDADE,
essa puta escrota de 67 anos,
cheirando a alho e com corrimento

enfim, foram simplesmente eles mesmos,
nus

A bomba H explodindo em minha cama


1
Qualquer um pode ser um imbecil, basta existir.

2
Mulheres, bebida e sol. O Paraíso, meu chapa, é AQUI e AGORA.

3
Preliminares são coisas de amador.

4
Às garrafas, e que se foda o resto.

5
O mundo é bem melhor quando fecho a porta.

6
Sempre tive muito respeito pelo dinheiro. Ele é que não vai com a minha cara.

7
Sexo é sumo e suor. O mais é merda, poesia.

8
"Eu não gosto de você, Dusquene. Queria te matar".
"Pegue a senha. Entre na fila".

9
Mulher tem que ter seios empinados, pernas longas e anca firme. Menos que isso...

10
Mulher que não se considera um parque de diversões não é mulher.

Um é algo e nunca

qualquer coisa antes das 19h é uma droga,
um desperdício de tempo,
um trabalho repetitivo para gente que geralmente não merece
nem o nosso olhar, misericórdia alguma.

almas de escritório, seres cartorários, almas mortas,
sem assunto, sem verve, sem gana, educadas demais,
aprazíveis demais, manejando suas gorduras e "bom dias".

é, mas depois das 19h há sempre a possibilidade do drinque
no Steffano´s, longe disso tudo e dos prédios quadriculares.

Dias piores virão?

é melhor você estar preparado,
nunca será calmo demais
nunca

a vida é "som e fúria" como disse o Shakes
e ele estava certo

crianças, mulheres, idosos, homens
são detonados a toda hora,
só não os vemos

neste mesmo instante, enquanto escrevo,
dezenas estão morrendo no Oriente Médio,
na África, e por aí vai

e esse troço de imigração está ficando
sério
e
tudo mais está ficando sério demais
também

bem,
resta ainda uma dose na garrafa,
e algum tempo para esquecer isso também

qualquer dia a coisa acontece na minha frente,
ou na sua

LImpeza

Butchner bebeu o último gole. Arrancou a calcinha de Margot. Botou ela de quatro. Cuspiu no mangalho teso. Ela só pediu: "Vai com calma, amor! Aggghhhhhhhhhh. Seu filho-duma-puuuuta!". Butchner riu seu riso de nove dentes. Tava pagando por aquilo. E queria que fosse cruel.

quinta-feira, 16 de maio de 2013

Enquanto caminho, você vem


gosto de nossas brigas
gosto de ter você por perto
sempre

sempre vou achar que nossos
melhores momentos são nossas brigas
- pois elas realmente são ótimas
e esquentam

gosto desses anos de estrada com você,
você sempre, baby, nunca uma outra
só você

Intervenção


"Então, sr. Dusquene, o que tem a dizer?"

"Que estou seco. Que tal um tinto?"

"Esta reunião é justamente para você diminuir a bebida"

"Pensei que as duas estivessem aqui para uma farrinha particular"

"Concentre-se, sr. Dusquene, somos da Assistência Social. Sua situação é deplorável"

"Não menos lamentável que a do cachorro do vizinho"

"Que tem ele?"

"Sei lá. Sarna?"

"Que tal parar de beber por uma semana?"

"Que tal um dia?"

"É pouco. Quatro"

"Fechamos em dois"

"Tudo bem"

"Mas a partir de amanhã e com uma compensação"

"Qual?"

"Irmos imediatamente para a cama"

"Seu filho-duma..."

Particularidade de uma expulsão do quadro de aviso



estou cada vez mais sem paciência com a humanidade
meu mau-humor crônico pode estar agravando a situação,
mas sinto que a imbecilidade geral está aumentando
como as heras nos muros
como os lodaçais dos trópicos
como as ervas daninhas nos campos abertos

e não tem volta
a estupidez humana é atávica
abrange todas as classes sociais
todas as culturas e religiões
todos os militarismos
rebelar-se é inútil
tentar escapar
também

por essa e outras razões
prefiro comprar uma dúzia de latas de cerveja
e ficar mamando, só, tabulando as teclas do computador,
sem querer encontrar sentido algum para coisa nenhuma

Entre o mundo perdido que eu não tive apenas


1
150 quilos
e comendo amendoins...

2.
Muita gente que eu olho, me enoja.

3.
Não sou um poço de virtudes.

4.
Viver é paciência.

5.
O mundo não se vê num dia.
Vê sim.
É só abrir a janela do quarto, porra.

6.
Ser humano é a mesma impiedade. Aqui, em Pequim ou em Tegucigalpa.

7.
Beber é um modo apenas.
Um entre tantos...

8.
Qualquer pergunta merece o SILÊNCIO.

9.
Qualquer pergunta é INVASIVA.

10.
"Dusquene, o pato que anda".
O Duc.

A merda nossa que vaza todos os dias



o diabo é
o ramerrão
a falta de perspectiva
de grana
as solas dos sapatos gastas
as meias furadas nos dedos e nos calcanhares
o sem saco de
comprar meias e sapatos

o diabo é
o sol, o maldito sol rompante,
o café oxidado
na térmica
de quinta
a danação das ruas
a vontade de ver ninguém
a ressaca bruta
o bolor no armário
e o periquito verde
do vizinho
a pane mental, enfim,
a perda de sensibilidade...

Um é algo e nunca


qualquer coisa antes das 19h é uma droga,
um desperdício de tempo,
um trabalho repetitivo para gente que geralmente não merece
nem o nosso olhar, misericórdia alguma.

almas de escritório, seres cartorários, almas mortas,
sem assunto, sem verve, sem gana, educadas demais,
aprazíveis demais, manejando suas gorduras e "bom dias".

é, mas depois das 19h há sempre a possibilidade do drinque
no Steffano´s, longe disso tudo e dos prédios quadriculares.

E o grande caralho entesado enrugou...


sua calcinha rasgada
me adverte
que você não está nem aí
para porra nenhuma

só quer
beber uma cerveja
e dizer que as contas não
estão pagas
e que chegou
também uns
boletos de Igreja
- jogados no sofá

ligo a TV
para nada
a crise continua eterna
as pessoas não se entendem
e querem que o mundo se entenda?

rio um pouco
emborco mais um gole
arroto e você passa
da cozinha indo pro quarto
- de leve

é, vamos lá

terça-feira, 14 de maio de 2013

Pequena conversa sobre o nada

"Quando você for publicado, todos estaremos mortos, Dusquene".
"É uma possibilidade..."
"E você não se importa? Afinal, você produz muito".
"Se tiver meia dúzia de leitores, terei feito um bom trabalho".
"Você é muito modesto".
"Modéstia é um dos meus pontos fortes".

estamos sós nestes dias
como em muitos outros
passamos nas ruas por gente
que não nos dizem nada
que vai só, também

todos adiando o que realmente
querem fazer: beber, morar perto do mar,
queimar as contas, se livrar do cão,
foder a vizinha

e assim vamos morrendo, loucos, conformados
com o que a vida nos pode dar
e recebemos de mãos abertas
e felizes

Quem cuida dos pobres neste mundo infame?


os hospitais do país são matadouros públicos
onde os pobres chegam para morrer
em macas nos corredores,
em UTIs coletivas e úmidas,
não sanitizadas,
uma morte dolorida, aberta,
programada

como doentes internados não votam
os políticos os esquecem
os governantes os esquecem
os médicos os esquecem
a população os esquecem
o que os olhos não veem...
desaparece
foda-se!

(...)

“Mama Brown foi internada com uma infecção aguda no pâncreas”.
“É? Quando foi?”
“Foi ontem. Morreu hoje, às 10”.
“Puta-que-o-pariu! Mama Brown morreu?”
“Morreu, o enterro é amanhã, às 15h. Cê vai?”
“Sei não. Tenho umas entregas pra fazer...”
“Eu também tenho uns assuntos pendentes...”
“É, vamos ver se dá”.
“É, talvez”.

Pobre Mama Brown... que não tinha um ombro onde encostar a cabeça

Científico como Deus ao sol


1.

- Qual canal você quer? 2, 4, 6, 10, 12 ou 14 ou 16 ou 18, sei lá. Escolhe...

- Você não tem tv a cabo?

- Não. Prefiro ver a porcaria toda que está entorpecendo a cabeça da humanidade... Sentir o perigo que me ronda...

- É, não deixa de ser uma razão...

- Não é?

- É.


2.

- Dusquene, quando você vai deixar de ser um filho-da-puta insensível?

-  Quando você for publicado?

- Nem assim. Escrevo para mim, nem penso em vocês.

- Como assim?

- A humanidade é o povoado de amebas que observo ao microscópio.

- ...

- Científico, não?


3.

- Você tem algum objetivo na vida?

- Ir vivendo... Juntando um troco para a velhice.

- Como?

- Camarada, eu não sei você, mas eu ralo há 30 anos em trabalhos escrotos, mentais, mas escrotos. Um dia vou me aposentar e vou esfriar meus ovos em uma piscina de água bem fria.


4.

-  Abigail, onde estão meus ovos?

- Nas calças!

- Não seja emgraçadinha comigo.

...

qualquer verdade
que seja dita
nesta noite
fria
magoará
tudo em volta

tocará todas as
peças
a garrafa,
os copos,
até mesmo
o nada

deixemos pois
para mais tarde
qualquer
palavra idiota
e
façamos
o que
pode ser feito
num dia de chuva
e vento

Passagem para...



"Senhores usuários, é proibido agachar ou sentar no chão do metrô", diz a voz feminina mecanizada que sai da tubulação.

Mensagem completamente inócua.

Os vagões chegam e partem repletos de gente que não consegue nem respirar. Comprimida até a ponta dos pés. Muitos passam mal, alguns desmaiam, por ficar os 45 minutos da viagem imóveis.

Essa sorte não basta.

Durante o percurso, o sujeito pode se acomodar bem em frente a outro que lê, que reza em voz alta e quer que todo mundo vá junto, no embalo.

Se há um trem para o inferno, é o metrô na hora do rush.

De vez em quando há uma diabinha suculenta, mais é raro. Muito raro.

Baby, ehhh


e fomos,
no turbilhão da vida,
um pouco melhores que muitos,
e muito piores que nós mesmos

nos magoamos,
mas suportamos o ramerrão,
sem uma fresta no muro,
superando um dia após o outro,
até o fim, sob o sol fervente,
na cara, de chapa

é foda,
eu sei, é foda,
e nos fodemos também,
para não perdermos a viagem

sexta-feira, 10 de maio de 2013

Uma semana de cão


Eu fumava uma carteira de cigarros por dia. Plaza ou Carlton.

Comecei a tossir desbragadamente por uma semana seguida. Uma tosse seca e constante.

Fui no médico. Doutor Medenhorf. Clínico geral.

- Tosse. Respire devagar. Agora tosse.

Medenhorf auscultou meus pulmões com o estetoscópio.

- Hummm. Sei não. A coisa não vai bem para você, rapaz.

Ele preencheu uma guia.

- Tire umas radiografias dos pulmões e volte aqui. E logo!

Sai do consultório já prevendo o pior. A doença maldita.

Fiz as radiografias no mesmo dia de tão ansioso que estava.

Liguei à tarde para a secretária do doutor. No outro dia, às 10 da manhã, eu estava no consultório.

Medenhorf tirou as duas radiografias do envelope duro da clínica.

Pôs no contraluz. Olhou por três ou quatro segundos e disse à queima roupa:

- Nunca vi algo parecido em toda a minha vida profissional...

Olhei para o doutor e depois para as radiografias no contraste.

- O que o senhor nunca viu?

- Seus pulmões estão envolvidos por uma película visível, clara como água. Está vendo?

Ele apontou áreas ao redor dos pulmões que realmente apresentavam um contorno indefinido, esbranquiçado.

- E isso é ruim?

- Péssimo, meu rapaz. Você deve ir urgentemente a um pneumologista. Logo!

Sai mortificado da consulta, com o envelope com as radiografias debaixo do braço.

Marquei a consulta com o pneumologista. Só tinha vaga daqui a uma semana. Não tinha jeito. Mesmo dizendo que era caso de vida ou morte, de pré-enterro, só daqui a uma semana.

Foi uma semana dos diabos. Uma espera cruel, aterradora.

No dia da consulta, lá estava eu no consultório do pneumologista.

A atendente me chamou. Entrei no consultório. Expliquei o caso.Ele me pediu as radiografias e as colocou no contraluz.

Olhou-as por três segundos.

Não aguentei:

- É câncer não é?

O médico me olhou.

- O senhor não tem nada nos pulmões.

- E essa película branca ao redor deles? - apontei.

- O senhor deve ter se mexido um pouco na hora em que as radiografias foram batidas. Noto que o senhor é muito ansioso... Esses contornos são normais... É o estremeção.

Vi sangue. Na minha frente só um nome: Medenhorf.

Agradeci o doutor. E sai dali. Precisava de um telefone público.

Liguei para Medenhorf. A secretária atendeu. Pedi para falar com ele. Caso importante. Ele não atendia ligações, mas, quando a secretária lhe disse quem era, ele ficou curioso.

- Medenhorf falando...

- É você, seu baita filho-duma-puta? Aqui é o Dusquene, o paciente que você enlouqueceu por uma semana dizendo que meus pulmões estavam envoltos por uma película cancerígena...

- Mas eu nunca disse que era câncer. Só imaginei que...

- Pois não imagine, seu traste! Você não sabe a semana dos cachorros que me fez passar. Você não é médico Medenhorf. Você é um sádico, um carniceiro, um carrasco, é isso que você é...

E desliguei, quase quebrando o telefone público.

Depois olhei para o envelope com as radiografias dentro dele.

Rasguei tudo com vontade. E deixei o espólio ali mesmo na rua.

O gari que se fodesse.

...

quando ela
vem
nua, sob o cobertor,
e
pega meus bagos
e sente
o peso
eu sinto
que há justiça
no mundo

Compaixão sempre é uma merda boa


a lua na sarjeta
que mal faz?
aquele poste só, ao longe,
iluminando
que mal faz?
aquele bêbado triste
que ali vai
que mal faz?
os pobres
que mal fazem ao mundo?
só a eles

então, camarada, tenha mais compaixão
não custa nada
tentar
nem que seja com sua mãe ou pai
ou sei lá quem

Um pouco de lama em tudo e todos


1
Não creio em gente, nem que o cachorro não morde. Se tivesse que acreditar em um dos dois, confiaria no cachorro.

2
O que você mudaria no seu passado? Preferiria não ter nascido.

3
A convicção é a receita do idiota. Por causa dessa superstição, ele perde mulher, carro e sanidade. Existir é conviver com o caos.

4
Se eu passei todos esses anos na planície só, porque agora tenho que me importar com uns e outros. Que se fodam!

5
Consciência é necessária para não assassinar o dono do cão, quando se descobre, pelo cheiro, a merda no sapato.

6
Eu sou Otto Dusquene.
Você, quem é?
Uma página em branco.
Um nada consta.

7
"Você se acha muito importante, não é, Dusquene?"
"Não sou pior nem melhor que muitos"
"Ah, um resto de humildade, enfim"
"Também não sou igual"
"Vá se foder, Dusquene!"

8
O ruim é a mocinha tlec-tlec logo atrás de você, saindo do metrô.
É enervante.
Paro pra deixar a vadia passar.

9
Vê se lê Bukowski, Fante, Kerouac,
Esqueça essas merdas, cara!
Sinta o vômito da rodoviária e dos becos.

10
E pra finalizar...
Boceta é a commoditie mais barata do mundo.

A melhor hora da cidade em que ela vive



vejo a cidade morta às quatro horas da manhã
as ruas parecem a pele de um imenso anfíbio negro-cinza
pisada por bêbados erradios e sujos de merda
estou bebendo um tinto de qualidade; e isto é bom
vejo os carros na pista, ao longe, na hora plena
a melhor hora da cidade: quando todos dormem e
e ela, enfim, pode respirar, ficar em paz, livre de
passos, cusparadas, gimbas de cigarro, vômitos...
existe a possibilidade de um assassinato, logo,
mas isso sempre há em qualquer lugar do mundo
nem falo das sirenes de bombeiros e polícias
nem digo do meu incômodo de fazer parte disso...
a minha bebida me basta; nada hoje de rostos
e vozes humanas: só quero esse silêncio, imerso
em álcool, como uma quietude de mim mesmo agora

O estorvo caos em que me há de acalentar


1.
Sou bem normal, olhando a espécie como um todo.

2.
Bebo com certa regularidade.

3.
"Dusquene, aonde vai?"
"Comprar cigarros?"
"Você não fuma há 18 anos".

4.
É preciso deixar o otimismo em grau de latência.

5.
Ah, o sol, o maldito sol... Umidade: 15%.

6.
Não há melhor caminho do que a ida até
a geladeira, quando tem cerveja ou um tinto.

7.
Ser forte é ter paciência.

8.
Aliás, paciência é coragem.

9.
Por que toda mulher feia acha que todos a querem,
a perseguem nas ruas, ávidos pelo seu corpo?

10.
Muitos durante anos só fodem a paciência alheia.

O homem mais feliz do mundo


Slim me contou essa história:

A filha do rei adoeceu. Uma doença incomum, letal. O rei consultou os magos do reino à procura de uma cura para aquele mal. Um deles olhou a jovem princesa inconsciente em seu leito (huum... belas tetas... bem, mas isso não faz parte do negócio) e disse ao rei: "Esse mal só tem cura se a moça se cobrir com a camisa usada pelo homem mais feliz do mundo". Então, o rei perguntou aonde poderia achar o tal homem. O mago não soube dizer.

O rei vestiu-se como um andarilho e saiu cavalgando em desespero, subindo e descendo colinas, serras, montanhas, rompendo vales, até que, no fundo de um desses vales, ouviu uma risada. A gargalhada de um sujeito feliz. Ele foi entrando na mata e topou, numa clareira, com um lenhador, que golpeava toras de madeira com o seu machado. O homem gargalhava de chorar, com três ou quatro crianças, brincando ao seu redor, a uma distância segura dos golpes.

O rei aproximou-se e perguntou ao homem, que usava apenas um jeans surrado (a história não é tão antiga assim e as tetas da princesa realmente eram ótimas), porque ele estava tão feliz, em meio àquele trabalho árduo ao sol. "Ora, meu amigo, faço o que gosto, vivo na natureza, respirando ar puro... Tenho uma mulher maravilhosa, que me serve todas as noites por três vezes, e tenho filhos sadios e robustos como ursos, porque não haveria de ser feliz. Feliz só não: EU SOU O HOMEM MAIS FELIZ DO MUNDO!".

O rei quase se ajoelhou de emoção. E perguntou: "O senhor poderia me emprestar uma camisa?". Ao que o lenhador respondeu: "Camisa? Não tenho. Nunca tive. Para quê...", apontando para a paisagem. E sorriu seu riso alegre e bestial.

quarta-feira, 8 de maio de 2013

Uma conversa de peso sobre a sucessão dos dias

"Mulheres grávidas são interessantes, Dusquene". "Por que?". "Você pergunta a elas: quantos meses de gravidez?" "E daí?" "Daí ela lhe diz 'quatro meses e duas semanas'". "Sim , e o que tem isso?". "Bem, você fica sabendo então que há quatro meses e duas semanas ela FODEU, FODEU LEGAL". "Como?" "É o único momento que você TEM A CERTEZA ABSOLUTA da foda de uma mulher, tirando os vídeos pornográficos, logicamente. Pense nisso, Dusquene". "Bullford, você é maluco. Suma da minha frente".

...

inevitável é dizermos tudo isso
sem verve, sem pegada
irmos descendo a rua
feito merda escorrendo
sem nada na cabeça
sem vontade ou aflição
duro é levarmos nossas vidas
a conta-gotas
como descongestionantes nasais
é olharmos aquele troço grudado
no sapato e acharmos que aquilo
já nasceu conosco


A pálpebra meio aberta me confunde



eu sou intratável
no trabalho as pessoas me olham de esguelha
pensam que sou um alienígena
e isso é bom

quanto menos contato eu tiver com a Humanidade,
melhor para mim e para ela,
sei que sou uma bolha de raiva
e impaciência

a idiotia das pessoas me incomoda
mulheres grávidas me incomodam
pessoas no metrô me incomodam
o sol entrando pela cortina
me incomoda muito

um dia Dóris me falou:
"Dusquene, você é quase um ser humano"
gostei do elogio,
gosto de Dóris

Limpeza

Butchner bebeu o último gole. Arrancou a calcinha de Margot. Botou ela de quatro. Cuspiu no mangalho teso. Ela só pediu: "Vai com calma, amor! Aggghhhhhhhhhh. Seu filho-duma-puuuuta!". Butchner riu seu riso de nove dentes. Tava pagando por aquilo. E queria que fosse cruel.

Blue Moon



qualquer coisa
que falarmos hoje
é bobagem
frente à lua azul
ao cheiro
do vinho tinto
no copo americano
à dama azul
da noite pobre
de mim
de você
mas cheia
dessa angústia
infinita

qualquer coisa
destoa
na paisagem
saiam homens
e mulheres
que nada valem
que nada têm
a oferecer
que nada prestam
que nada sabem
da lua azul
morta e fria
naquele céu
de ninguém

Cães



é como se fosse uma noite de cães danados
a uivar para a lua
homens e mulheres vão aos bares
a festa se instala
e eu quero estar nela
dentro dela
com um copo
na mão

como cães danados saímos em matilha
e vamos nos mordendo e ferindo
mas sempre juntos

a penúria alheia que avança nas grades


somos feitos de nervos
carnes e ossos tão somente são
alicerce e concreto
somos constituídos é de fiações
por isso, não é errado dizer
"aquele sujeito tem uns fios soltos"

cada vez mais vemos pessoas assim
deprimidas, obcecadas, loucas, suicidas,
vagando pelas ruas,
com todas as suas carências

eu fujo desses indivíduos...
não sei você, amigo
já estou satisfeito com as minhas misérias
não preciso das de ninguém

"Dusquene, eu preciso lhe contar umas coisas..."
"Deixe para amanhã, camarada, hoje eu não estou num dia bom"

domingo, 5 de maio de 2013

Embrulhem o peixe no celofane e deem pro gato



1.
Qualquer mulher é capaz de enlouquecer um homem em dez segundos.

2.
Todo idiota julga-se um gênio. Eu inclusive.

3.
Bukowski não fazia literatura.
Fazia a vida melhorada e, por essa razão, descobriu a América.
E ele também não foi o último beat, cacete.

4.
Escrever é idiotice.
A vida real vale mais do que qualquer ficção.

5.
Ninguém escreve tudo o que pensa ou toda a repugnância que é.  Portanto, escrever é uma forma de modéstia.

6.
Bebendo você diz que só aguenta o mundo com a cabeça feita.

7.
Fidelidade é o maior adultério contra si mesmo. Melhor se você fosse um verme. E você é.
8.
Não compro livros. Os autores que já li são suficientes. Um ou dois escapam. O resto (99%) pode ir para a incineradora.

9.
Estamos presos a uma engrenagem em que homens e mulheres estão se odiando cada vez mais. E melhor.

10.
Ah, o sol. O sol, quentando...

Canto do jovem homem enfermo


lá vai a silhueta de um homem só
carregando o peso de ossos e carnes
passa por prédios e galerias
vai no frio da manhã cinzenta
o homem tem asma, e tosse,
tosse agravada pelo cigarro
é jovem ainda esse homem
e está se formando e está bebendo
e deseja ser um escritor, só isso,
mas o mundo é repugnante e prefere
ler os idiotas, os que vendem,
mas ele ainda escreve muito mal

vai longe agora a silhueta de um homem só
enfrentar mais um dia de trabalho estéril
manchar seus dedos com a graxa roxa dos carimbos
intoxicar-se com vidas imprecisas, sem pauta,
com os risos de tantos rostos felizes e tremendamente sós

O inexplicável momento de nada dizer



A velha Mildred gostava de colocar uns vasos com plantas no parapeito da janela. Gillmore alertava Mildred.

"Qualquer hora um troço desses balança, cai e faz um estrago na cabeça de alguém. Se for comigo, as consequências serão graves...".

"Você está me ameaçando? Vou telefonar para a polícia".

"Dona, telefone para o escambau. Eu já lhe dei o aviso".

Um dia aconteceu. Um dos vasos com gerânios despencou e estatelou no piso da entrada, bem na hora que Gillmore saia pro trampo. O adubo negro do vaso cobriu as barras de sua calça creme e penetrou nos sapatos. Uma merda só. Gillmore olhou para cima e viu Mildred assustada, segurando um vaso que ameaçava cair.

"Eu lhe avisei", disse ele.

Gillmore abriu com força a porta do prédio de três andares, sem pilotis.

O que se ouviu depois foi o baque surdo de porta escancarada a pontapés, os gritos de Mildred e o barulho de vasos se quebrando no 279.

"Você é louco. Um homem insano aqui. Minhas azaleias, meus gerânios! Oh, meus pobres gerânios...".

Mas Gillmore continuava, firme, a destruir os jardins suspensos.

...

Estou bêbado como um louco agora

Cada um com sua merda infanticida



"Como é que você se sustenta?"
Você é o que você fez ou continua a fazer
Bukowski fazia essa pergunta essencial

"Amigo, como é que você paga suas contas?"
Ele dizia que, nessa pesquisa particular,
observou que quem pagava as contas geralmente era a mãe

O cara tem 25, 30 anos e está ali,
sorvendo os pais como canário novo
Um tremendo filho-duma-puta

Os pais ficam ali, olhando de lado,
praguejando ter um filho assim
A mãe quer jogar carteado com as amigas
O pai arrumou uma putinha e quer comer por fora
e Wilson ali, esquentando os ovos no sofá,
vendo o último filme do Woody Allen

Duvido se os pais, mentalmente,
não queimam o dia do nascimento do garoto no calendário
"Merda de dia...", sussura o velho. "Que foi, pai?"
"Nada, continue vendo a porra do filme"

Tédio


todo dia quer morder meu cu
sei disso muito bem
esse sujeito aí na minha frente
- de terno e gravata -
todo sorrisos
pensa que é o deus da engrenagem
o panteão, a glória
só se for nos infernos

um dia igual aos outros
o que me deixa meio perigoso
mais esquivo do que sou

É Dusquene, 46 anos, 27 anos de serviço,
e firme e bom fodedor ainda...
você é um grande cara, Dusquene
pena que poucos saibam disso

todo o dia quer morder meu cu
todo o dia chego
me tranco e escrevo
uma merda qualquer
para espairecer

De homens e apostas

As apostas de Ellfroy sempre davam em nada. No jogo de números havia uma evidente separação entre a Sorte e ele. Um muro armado entre eles, inexpugnável, feito de concreto, um muro perene, eterno. Ellfroy sabia disso e, mesmo assim, jogava seus níqueis em esperanças de antemão perdidas. Talvez fosse um idiota, um viciado incorrigível, um doido apenas. Não importa. O que vale registrar são suas derrotas constantes, implacáveis como um murro de boxer. E ele sabia que iria assim até o fim dos tempos, até a morte do jogo ou da própria morte, ou fosse lá que o viesse primeiro. Aquilo era maior que ele, era maior que seus músculos em contrário, seus passos em contrário, sua negação; algo que sempre o levava à banca, aos números, à perdição. Depois da derrota, da pule amassada, jogada na rua, a raiva, a dor, a angústia, o remorso, tudo num turbilhão, vindo como dose amarga na garganta seca como pó. “Um dia vai dar... Um dia os números caem, precisos... E eu, então,...”. Ficou nisso, indo para o velho cubículo, para os braços de Eleanor.

Uma rodada de uísque,cartas e pragas



"Ninguém morre às sextas-feiras. É um dia ruim para morrer".

"É, eu sei. Mas a esposa de Fred morreu e ele não virá para o carteado".

Dougall resmungou um pouco, se acomodando melhor na cadeira. Prazze ficou puto.

"Acabou com o nosso jogo, porra. Sexta-feira realmente não é dia de entrar no saco".

"É , mas temos que dar os pêsames a Fred".

"Como a mulher morreu?"

"Soube faz dez minutos. Foi assassinada pelo amante".

"Como é? Fred quem lhe disse?"

"Não. Um conhecido. Ela transava com um corretor de seguros há dois anos sem Fred saber".

"E Fred soube?"

"Soube e perdoou a mulher. Aí ela informou ao corretor que não iria mais foder com ele. Trepavam todas as sextas à tardinha, justamente quando Fred vinha pro carteado. Ele sempre confiou cegamente em Irene".

"E daí?", perguntou Prazze a Rufus.

"O amante não se conformou e peineirou ela. Cinco tiros, duas horas atrás. Disse que queria dar a última nela como despedida e peineirou ela num motel da 7ª".

"É, mas isso não é motivo para Fred faltar ao carteado. Porra, essa noite é sagrada, merda!", disse Prazze, resumindo o que todos, na verdade, estavam sentindo.

"Quer saber? Quem é corno que espere. A mulher já está morta mesmo. Vou ligar para o Vicent para ver se ele vem substituir o Fred".

"É. Ótima ideia", disse Dougall.

quinta-feira, 2 de maio de 2013

Na vaga entre rodas passadas no meio-fio

1.
Espere e verá.

2,
Qualquer forma de jogo é um assassinato mental.

3.
Escrever é nada, absolutamente nada.

4.
Saiba esperar a espreguiçadeira. Quem sabe ela vem.

5.
A certeza é a coisa mais incerta que existe.

6.
O óbvio é intolerável.

7.
Preconceito é a maior estupidez do ser humano. Temos que destruir nossos preconceitos, um a um. Preconceito leva a assassinato.

8.
Uma bebida lenta, calma, é melhor que um porre rápido.

9.
Quem ama, retruca.

10.
Viver, quem sabe?


Tristes dias aqueles de maio


Eu separava as planilhas no banco. Agrupava os requerimentos de pequenos empréstimos de acordo com capacidade de pagamento do solicitante. Ou seja, se o sujeito informava uma renda razoável, mais chances ele tinha de conseguir o dinheiro. Era uma merda, porque havia aqueles que nada tinham a oferecer.

Um dia uma velha entrou com dificuldade no banco. Sentou na minha frente. Disse que precisava de um dinheiro para levar o marido ao oculista e comprar uns óculos novos para ele. Havia suspeita de glaucoma.

Pedi a ela algumas informações. Renda não havia. Infelizmente, informei à mulher que o empréstimo não poderia ser concedido. Seus olhos se encheram e as lágrimas começaram a descer. Seus lábios tremiam. "O que eu vou fazer agora, meu filho?". Eu não sabia o que lhe dizer. Eu era estagiário sênior naquela época e não ganhava nem para substituir meus sapatos velhos.

Por fim, não aguentei e menti no requerimento. Coloquei uma renda que achava que seria suficiente para a aprovação do empréstimo pelo gerente. Pedi que ela assinasse uma série de recibos, que bati rapidamente, para que comprovasse aquela renda. Pedi que telefonasse dentro de três dias para ver se o emprestimo havia sido aprovado. Era uma tentativa pelo menos.

Depois de tudo, a velha olhou para mim. Sorriu. Nada disse. Apenas contorceu seu lenço e se foi.

Era uma esperança. Uma esperança apenas, mas nada.

Na lâmina

"Eu tenho 300 milhões de espermatozóides por milímetro cúbico". "E daí, Foster?". "Eu posso colonizar o mundo: EU SOU O PATRIARCA". "O caralho que é. Só na Ásia são 1,3 bilhão de chinas". "Mas eu tenho 300 milhões... O doutor falou que eu sou uma potência viva". "Foster, há quanto tempo você não trepa?". "Há dois meses". "Só fumando esses daí, né?". "É". "Brocha, né?". "É". "Então, vá ali, bata uma e libere os 300 milhões, senão saem pelos olhos".

Febre

A fauna que rodeia o jogo de números é gente dura, sem humanidade. Só está ali pela grana. Quer que todos se fodam. Tudo bem: eu também quero. São seres de cara fechada, que repelem qualquer ato de simpatia. São seres enclausurados, fechados em seu mundo obscuro. São seres imprestáveis, corrompidos. Que não ajudam em nada. É uma fauna realmente medonha. Tomada pelo vício. E eu me pareço com eles... Não. Acho que não, ainda. Ainda consigo controlar a ansiedade. Tenho meus esquemas, perco uns, ganho outros, e isso me salva.

O que nós temos em comum com os outros

Fellow morreu batalhando em cima de Gina, que tinha 150 quilos e gostava de frango frito e linguiças defumadas. Morreu como se estivesse num colchão d´água quente. Um ataque cardíaco fulminante, enquanto tentava satisfazer (COMO!) Gina Upergatte. "Vai, vai, meu amorzinho, mete... Não é aí, aí é minha virilha, mais pro meio... Aí também não". Fellow resfolegava, buscando alcançar a cona, que se escondia no fundo, bem no fundo daquelas carnes. "Como será que ela mija? Por onde sai, meu Deus...", pensou o homem, que lutava uma luta inglória na origem, jamais vencida. Por fim, no embate, o homem tomou fôlego, tentou uma última estocada, mais violenta. A cara ficou roxa, num esgar terrível, e ele desabou sobre a manta de carnes. "Que foi, benzinho? Cansou foi? Trabalha mais na sua Gininha, seu preguiçoso...". E Gina abraçou carinhosamente Fellow morto.

Você e eu, somente

você
é para mim
um espetáculo

tudo
o que você faz
é bom
e
generoso

até as brigas
são esplendorosas

casal que não
briga
não se ama

- você não quer acreditar,
mas é a pura verdade


as unhadas,
a sua cara de raiva...
são marcas em mim


saem, com o tempo,
mas são somente minhas,
de mais ninguém

quarta-feira, 1 de maio de 2013

Tattoo


Um miniconto do Otto Dusquene

Misty começou com uma tatuagem pequena, em forma de uma pequena buceta, no lado direito do pescoço. Na verdade uma daquelas flores que parece uma racha. Achou legal, fez uns ramos do pé da flor até o meio pescoço.

Ficou realmente legal. Mas estranho. Os pais se horrorizaram. Os amigos nem tanto. Acharam bacana o troço. Os ramos da buceta do pescoço pareciam nascer dos peitos de Misty.

Ela resolveu, então, fazer da flor única um bucetal, estendendo o jardim por toda a face direita. A mãe desmaiou. O pai a expulsou de casa. O namorado, que antes apoiara a merda toda, não aguentou o exotismo e deixou Misty com o seu roseiral de tattoo.
O tempo passou. Ela foi ficando cada vez mais esquiva. Passou a andar com pessoas cada vez mais esquivas também.
E, meses depois, ao acordar de uma bebedeira, Misty olhou-se no espelho partido do banheiro de um sujeito qualquer, a quem dera por não ter o que fazer na noite anterior e porque precisava de um lugar melhor para dormir. O que viu não foi bem o que queria. Aliás, não viu nada daquilo que queria.
Queria ver seu rosto antigo. Clamava pelo seu rosto de dez meses atrás. Sem adesivos. Sem carimbos. Sem flores-bucetas. Sem ramos, sem roseiral, sem nada. E começou a chorar convulsivamente, a se desesperar, a morrer por dentro. O que fizera foi um crime contra si, sua real identidade. O seu verdadeiro rosto, nunca mais.
Três dias depois estava morta. Cortara o ramalhete pelo talo.

...


Catchna
Catchna
Seu amor está distante de mim
como Sudeste Asiático
Estou bêbado, falando com a garrafa.
Bêbado, bêbado, bêbado
como um vaca Margot estrangulada
Oh, Margot
puta das mais longas pernas de Paris
Catchna, Catchna, vem para mim...

Um grande amigo do homem


"Onde está Penny? Você viu Penny, mãe?".

"Não". Veja se está debaixo do sofá".

A garotinha saiu gritando "Penny! Penny!"

A mãe ficou na sala. De repente viu uma bola de pelos malhada saltitante.

"Gina, Penny está aqui!".

Gina veio correndo. Viu o minicoelho.

"Ué, mãe, que é aquela mancha em cima dele?

Minnie chegou perto, pegou o minicoelho. Examinou a mancha. Sentiu algo.

Levou o bicho ao nariz.

"É merda!"

Foi aí que Bullford entrou na sala, ainda afivelando o cinto nas calças.

"Seu filho-duma-puta! Cê limpou o cu com Penny, não foi?"

"Que cê queria que eu fizesse? Pedi o higiênico. Você estava demorando... O bicho entrou no banheiro, daí pensei... Por que não? E digo mais: não existe nada tão macio. Um dia você devia experimentar".

Gina saiu da sala chorando.

Penny ficou ali, cochilando na mão de Minnie. 

Blind Date


“Quem é?”

“Aqui é Rajesh Voojoo, secretário do Grande Aranda Kalapajaloo. Informo que o senhor se encontra em atraso com uma mensalidade-doação para nossa entidade”

“Como é? Quem é?”

“É o Rajesh Voojoo, secretário do Grande Aranda”

“Escuta aqui, Voodoo...”

“É Voojoo, senhor”

“Tudo bem. Que seja. Eu não sou filiado a nenhuma seita. Só contribuo com o asilo das putas, quando dou uma”

“O senhor realmente necessita da espiritualidade do Grande Aranda... Venha nos fazer uma visita. Aproveite e traga o carnê para o pagamento da mensalidade”

“Ó cara, vá se foder. Já disse que não conheço nenhum Kapalo...”

“Desculpe. Mas é o Grande Kalapajaloo...”

“Esse mesmo e...”

“O senhor precisa pagar a mensalidade para manter acesa a sua vela da vida. Senão...”

“A vela é grossa, Raj?”

“É. Por que?”

“Enfiei ela toda no cu do Grande Aranda como minha contribuição particular para a ordem”

“Mesmo assim, gostaria de lhe informar que sua mensalidade ficará em aberto em nossos arquivos. Ligarei dentro de uma semana”

“O que? Alô... alô...”

Pensamento


O perigo está
Em não dizer a palavra exata
É não ter opinião sobre alguma coisa essencial
Eu escrevo para ver meus demônios
Não para a posteridade, essa puta,
Mas escrever não deixa de ser uma forma de ação
De rebeldia, de ir além da morte, da dissolução

Cada página em branco que preencho
Fortalece a mim, atiça, anima
Engrossa o fio da vida
E apressa meus dias lentos

Talvez eu seja realmente egoísta
E não queira desaparecer simplesmente, como qualquer um,
Atravessando o neon das ruas como uma sombra
Que não se prende a nada

Vanda Velt


 Vanda Velt, que mulher. Quando ia ou vinha do balcão, os caras uivavam. Aquelas pernas brancas de potranca polonesa, a Vanda Velt. Ela sabia como açular a turba, remexendo os quadris, pisando como tigresa. Era um espetáculo. E gratuito. E a um metro da gente. Deixava qualquer um de pau duro.

“Me faz uma massagem, Vanda? Tenho cãibra...”

“Aonde?”

Eu descia, brincalhão, os olhos pro garoto teso.

“Vá se foder, seu miserável”.

E me atirava na cara, gargalhando, o pano de limpar balcão.

Todos gargalhavam numa confraria.

Naquele tempo, as noites eram excepcionais no Finnegan’s.

Realmente excepcionais.

Havia Vanda Velt.

Que mulher.

segunda-feira, 29 de abril de 2013

Persianas em forma de vidraça em estilhaço


1
A insanidade está no homem como a água para o peixe.

2.
Viver é uma tormenta.

3.
Qualquer coisa que eu disser não valerá absolutamente nada no mesmo instante.

4.
Meu universo é a próxima rua.

5.
O melhor da vida é observá-la, de longe.

6.
Quando não houver mais nada, ainda assim nada haverá.

7.
"Dusquene, você é um porre".
"É por aí".

8.
Saibamos nos esquecer, baby.

9.
Em 2112 o mundo estará muito mudado, mas as pessoas não.

10.
Tudo igual ao abrir a porta.

Reflexão em um dia de tempestade


a vida é passageira, homem,
mas parece que já vivi um século
no meio do turbilhão há quase cinco décadas
e hoje estou melancólico, triste mesmo
quero meus bons tempos de volta
mas sei que jamais os terei
e terei que seguir em frente
mesmo assim
bem ou mal
em frente
sempre

creio sinceramente
que os bons tempos já passaram
e realmente estou chateado por isso
era um tolo, mas havia sempre a possibilidade
do ouro na moldura dos dias que viriam

o que me resta agora é engasgar com o metal na boca seca
revirar no sofá, confrontar essa angústia no peito
e o maldito sol que desponta
atrás da persiana

Relax



tive meus dias sob o sol
tomando uns drinks
vodca com limão
numa espreguiçadeira

limpei os poros em saunas
mergulhei em piscinas
marítimas
em clubes
chiques

"Dusquene esteve aqui,
o escritor e poeta,
relaxou aqui"

um dia colocarão uma placa
comemorativa

não, nunca colocarão,
eu sei

estou apenas lembrando
os bons tempos
para fugir
da paura
que me envolve
agora

um dia
quem sabe?
os bons tempos voltem
com força

Infâmia enquanto ainda resta algo a dizer



"A porra da minha irmã é uma neurótica".

"É?"

"Todo dia se desentende com o chefe do almoxarife e a sua pressão vai a 22".

"Puta-que-o-pariu... O troço é sério, então?"

"Nada, ela é toda sensível. Se o cara manda ela tirar quatro resmas de papel da segunda prateleira e colocar no carro, para distribuir nas seções da firma, ela já estremece. Pensa que é punição".

"E não é?"

"Nada. Punição quem recebe é o camarada que dorme com uma merda dessas".

Bullford riu, com o cigarro na boca.

"E sua irmã, presta?", perguntou Gillmore, meio receoso.

"Dá pro gasto. Vamos empilhar mais uns sacos e depois vamos ao Joe´s tomar uns tragos".

Solidão à luz do incólume


detesto muitos indivíduos
que andam nas ruas
detesto porque desistiram
de alguma coisa
importante para eles
e que deveriam ter feito
para dar algum sentido
apenas

melhor que se fossem
de vez
abririam a paisagem
com a sua ausência

os derrotados
trazem consigo um cheiro que impregna
que gruda
que mata

são seres deprimentes
que buscam engolir o máximo da vida
existente ao redor

que pedem "licença" para tudo
até para cagar na própria privada
acho

fazem mal um bocado
mas pululam que nem vermes
em cadáveres de quatro dias

mas temos que vê-los por aí
fedendo
matando o pouco tempo
que os outros têm
inclusive eu

...

Ebhrart tinha seios e se jogou nos trilhos do metrô por não conseguir dinheiro para a cirurgia plástica. O metrô lhe cortou uma das pernas. Os seios ficaram intactos.

Para que servem as coisas e suas cores


"Por favor, os assentos em azul são para idosos, pessoas portadoras de necessidades especiais, pessoas com crianças de colo e com dificuldades de mobilização".

Sentei num dos bancos azuis.

Cinco minutos depois, chegou uma velha perto de mim, logo após a voz novamente lembrar para que serviam os bancos azuis.

"Você não ouviu o que a moça disse..."

"O que, minha senhora?"

"... E pessoas com dificuldade de mobilização".

"Oh, desculpe, entendi 'de ereção' ".

Ri.

Todos riram também.

Levantei, brincalhão, deixando um lugar quente para a velha.

terça-feira, 23 de abril de 2013

O sol que nos atravessa


tive meus momentos de sol
marítimos
o drink na praia
vodca com limão
o sol no plexo
os coqueiros
as mulheres passando
a lombra
o sabor da maresia
ééé...

o sal grudava nos poros
a pele cozendo
o peixe frito
mais birita

é, Dusquene, um dia quem sabe?
você não é dos piores
aliás,não,
você não é dos piores

espere o verão, Dusquene, espere
quem sabe?

Aos que pensam estar na planície em desespero


essa queima de fogos
assusta cães, não a mim,
estou sabendo o que virá

as pessoas vão enlouquecendo aos poucos
tentando sustentar o status quo e,
quando não conseguem,
entram em parafuso,
bebem o fígado,
gemem, culpam o mundo,
ora, o mundo sempre foi assim,
para pior

o desemprego é o que abala,
mas também é uma fonte de oportunidades:
jamais encontrei quem quisesse trabalhar duro desempregado,
jamais

para aqueles que estão desempregados, aconselho:
entrem em 2012 com garra, dizendo "eu tenho colhões, porra!",
vou trabalhar em 2012 até espatifar meus braços e
esfarinhar meu cérebro, mas vou comer parte dessa torta, caralho,
se vou

Anticlímax em meio a sapatos brancos sobre a amurada



“Você quer me matar, Dusquene”.

”Só quero que você se acalme, Marion. A enfermeira já vem. Cadê a droga da enfermeira?”

“Eu vou sair dessa maca”.

“O caralho que vai. Espere”.

“O que é isso? Você me empurrou. Você realmente quer me matar”.

“Porra, fique quieta um pouco. Cadê a enfermeira? Alguém, que seja...”

“Gina ele quer me matar! Gina, não me deixe só com esse homem! Gina! Gina!”.

“São 2 e 40 da madrugada. Vai acordar todo o hospital...”

“Gina! Giiinnaaaa! Giiiiiiiinaaaaaaaa!”

Uma enfermeira entrou no quarto, afoita.

“Quer dizer... O chamado pelo aparelho vocês não atendem, mas é só começarem os berros e logo correm...”.

“Que tem ela?”.

“Está alucinando devido a uma infecção”.

“Huum... Acalme-se, OK. Está tudo bem”.

“Você chamou sua amante, Dusquene. Estão de conluio para me envenenar”.

Não aguentei.

“Confesso ser uma das opções sobre a mesa”.

Marion arregalou os olhos e sussurrou para a enfermeira:

“Não lhe disse, Gina, estão todos combinados”.

O elemento que falta em mim


não escrevo para ninguém
nem para mim,
poderia parar de escrever agora mesmo
e não seria o fim
nem o começo de nada

o que não posso é ficar sem mulher
e sem bebida
cerveja, pelo menos,
destilados estou fora,
tenho 48

quem acredita que o mundo precisa
que ele escreva é um imbecil, um demente,
eu não preciso também ler o que as pessoas escrevem,
livros me causam náusea

páginas e páginas
sem razão alguma, sem motivo,
alegria, verve ou dor,
ou quem sabe algo menor

escrever é tedioso
- jamais me empolgo com o que leio agora -,
sei que não há nada mais a ser feito
ou dito

só poeira, às vezes nem isso 

Um pouco de culpa e um dólar apenas


as pessoas são premiadas
de muitas maneiras
e você, Dusquene?
papando mosca...

bebe uma cerveja,
é, esta noite o bar está legal,
aparentemente

até o momento
o copo enchendo e esvaziando na boa
ninguém veio puxando conversa,
enchendo o saco

alguns conhecidos apenas,
"e aí, Dusquene?", dou um "Olá, amigo"
ninguém vem sentar na mesa,
isso é legal

a vida pode ser boa
é só você confrontar a pressão dos idiotas
e deixar rolar com a bebida,
fico de olho

as mulheres dos bares
têm longas estórias tristes, de solidão,
e ancas e seios sexys,
mas hoje não, não vou investir,
não quero ouvir e foder nenhuma delas
quero apenas, e somente, beber

é isso

No lar, ardente sobre a relva fresca

"Você fica aí sentado nesse sofá, mamando uma dúzia de cervejas por noite. Você não sai comigo. Você não presta, Seymour!". "O que é isso! Tivemos aquele jantar na casa do Bullford e da Annie há três meses... Não diga que eu não sou um cara legal". "Você não liga para as minhas necessidades. Estou perdendo a vida neste apartamento. Entra dia, sai dia, e nada acontece". "Como não? E aquele atropelamento do garoto aqui bem em frente na semana passada?". "Até a Suzzy não aguentou. Foi morar com uma amiga. Pelo pai que tem...". "E você acreditou nessa história? Ela juntou os panos de bunda com aquele desgraçado magricela que vinha aqui filar o meu almoço". "Não diga isso de nossa filha única, seu imundo. Você realmente não presta". "Eu sou um bom marido pra você, Minnie". "Marido bom, é marido morto!"

Darwin em abril


então,
iremos sob o sol,
passaremos uns pelos outros,
num sadio desconhecimento,
cada qual com sua doença,
com seus tremores,
com suas obsessões

uns tomarão
cervejas em bares
de esquina
e falarão do que
fariam se...

outros irão
para casa, sós,
e esperarão a
morte, sempre atrasada

outros criarão
cães e gatos, acreditando
firmemente que fazem
um bem enorme
à Humanidade

o certo mesmo
é que cada um quer
que o outro se foda,
morra enfiado numa 
grande bola de merda seca,
ou pior

é a lei da evolução,
uma lei simples
e boa

segunda-feira, 22 de abril de 2013

Tenha fé, meu filho amado



Ruby tirou com cuidado o pássaro ferido da caixa. Tinha uma asa quebrada. Ele o encontrara num jardim a três quarteirões, se debatendo. Um gato já vinha em sua direção, quando Ruby o tirou do chão. O gato parou e pareceu dizer "ei, cara, esse lanche é meu". No caminho, Ruby o colocou numa caixa de sapato jogada no lixo.

Em casa, Ruby colocou uma tala e enfaixou a asa do animal. Depois, foi procurar umas coisas no fundo da estante. Voltou com um bom pedaço de isopor e os troços. Pegou o pássaro e o colocou sobre o isopor. Prendeu o corpo da ave com um pano ligado a alfinetes. Com o pássaro imobilizado e piando, Ruby com o alfinete que sobrara começou cuidadosamente a furar seus olhos.

O meu companheiro em desagrado


"Pro inferno, Dusquene"
O diabo me intimará
eu continuarei a beber meu drink, ainda em casa,
sossegado
"Já é hora de termos uma conversa séria, amigo"
"O que?! Você está me desafiando"
"Pode-se dizer que sim"
"Você não tem nenhuma carta na manga. Você teve uma vida de merda"
"Mas a sua não é lá essas coisas"
"Eu sou o demo".
"Hum, camarada, perto do que eu já vi nessa vida, você está mais
pra madre Teresa de Calcutá"
"Embrulhe seus troços e vamos"
"Para onde?"
"Para baixo, ora".
"Não dá pra adiar até segunda? Hoje tenho um compromisso com Liv, no Frank's"
"De forma alguma"
"Ela tem uma bela bunda. Cê sabe?"
"Hum... Acho que dá pra negociar um prazo"
"Então, ao Frank´s?"
"É, pode ser, ao Frank's"
Levantamos e saímos, bons amigos

...


é, baby,
dividiremos colchões manchados de molas ruins
copos frágeis que se quebram nas bebedeiras
iremos suar um pouco no sexo
faremos o que tiver que ser feito
deixaremos nossos filhos no mundo
e será bom ter feito tudo isso,
porque, apesar de toda luta,
mais não importa...

talvez, o último drinque, talvez
a última azeitona no prato
quem sabe?
nada

...


meu medo
é não ter tempo para coisa alguma
que valha a pena
o tempo é curto
e estamos correndo como loucos
para o quê? Não sei...

não sei o que dizer
ao velho amor
nem porque
a alegria das pessoas,
a confiança das pessoas,
me faz tanto mal

talvez porque eu não as queira ver,
talvez sejam a causa dessa angústia,
talvez eu não saiba nem isto

talvez sejam elas justamente o meu medo...

Edna Hill


Edna Hill queria foder sempre às 17h. Nem um minuto antes nem depois, o começo do troço, é logico. Deveria começar precisamente às 17h e durar, no mínimo, meia hora. E Edgar não tinha meia hora para gastar naquilo. Afinal, tinha filhos para alimentar, uma esposa para cuidar, um cão que precisava de um osso, um canário talvez. Edgar fazia bicos como encanador e preenchia os dois encanamentos de Edna também. Mas o serviço começando sempre às 17h. E às vezes não dava. Edgar não podia parar um serviço no meio para pegar outro.

Edna não entendia e cobrava. Começava a ligar pelas 15h15.

- Olhe, seu puto, não vá me faltar. Às 17h hein? Não se esqueça...

- Estou no meio de um conserto delicado aqui, querida. Posso atrasar.

- Atrasar, o caralho! Se você não chegar aqui no horário, sua mulher vai ter notícias minhas...

E desligava. E Edgar tinha que dar um jeito. Tinha que acelerar o trabalho para se conectar aos encanamentos de Edna.

E, às vezes, Edna não limpava direito um deles. Aí dava merda. Era a vez de Edgar cobrar.

- Porra, que troço é esse! Cê tem que ter mais higiene.

- Desculpe, Ed,  juro que não vai mais acontecer. Foi o salame.

- O meu?

- O salame que comi ontem? Ficou pastoso demais...

- Preciso de uma folga para me recuperar dessa.

- Nem pensar. Amanhã, aqui, no mesmo horário. Senão sua mulher...

Pugilismo ao cair da tarde



De repente, rolou uma briga no bar.

Na verdade, o dono estava tentando deter um dos clientes, que, de tanto beber, pensou que estivesse no banheiro e começou a se despir. O homem ficou irritado com o proprietário e a luta seguiu no chão. O sujeito era gordo e não queria ser dominado.

"Ele quer me currar, esse filho-duma-cadela. Quer me currar!".

"Levante suas calças, Fred. Saia do meu bar", disse Bulford.

Embora franzino, Bulford tinha força nos braços e havia imobilizado Fred com um golpe por trás.

"Me ajudem. Esse cara quer comer meu cu!".

Por fim, Fred foi jogado na calçada. Levantou todo estropiado. As calças ainda meio arriadas. Era uma imagem triste. Havia se separado de Irene há um mês. E há um mês bebia pesado.

Soube depois de cinco meses que a cirrose, misturada ao conhaque, o havia levado.

Irene continuou rebolando seu rabo de aluguel.

Blind Date



“Quem é?”

“Aqui é Rajesh Voojoo, secretário do Grande Aranda Kalapajaloo. Informo que o senhor se encontra em atraso com uma mensalidade-doação para nossa entidade”

“Como é? Quem é?”

“É o Rajesh Voojoo, secretário do Grande Aranda”

“Escuta aqui, Voodoo...”

“É Voojoo, senhor”

“Tudo bem. Que seja. Eu não sou filiado a nenhuma seita. Só contribuo com o asilo das putas, quando dou uma”

“O senhor realmente necessita da espiritualidade do Grande Aranda... Venha nos fazer uma visita. Aproveite e traga o carnê para o pagamento da mensalidade”

“Ó cara, vá se foder. Já disse que não conheço nenhum Kapalo...”

“Desculpe. Mas é o Grande Kalapajaloo...”

“Esse mesmo e...”

“O senhor precisa pagar a mensalidade para manter acesa a sua vela da vida. Senão...”

“A vela é grossa, Raj?”

“É. Por que?”

“Enfiei ela toda no cu do Grande Aranda como minha contribuição particular para a ordem”

“Mesmo assim, gostaria de lhe informar que sua mensalidade ficará em aberto em nossos arquivos. Ligarei dentro de uma semana”

“O que? Alô... alô...”

domingo, 21 de abril de 2013

Diálogo casual no fórum


"Por acaso, você gosta de pornografia?"

"Eu só escrevo sobre..."

"Seus escritos são cheios de lodo e pus"

"Normalmente os homens são feitos disto"

"Entenda, Sr. Dusquene, sua situação é muito delicada no momento"

"Diga logo que estou fodido, meritíssimo. Sem meias palavras"

"O senhor está fodido, sr. Dusquene"

"Qual é a novidade?"

"Como?"

"Acordo fodido, cago fodido, bebo a borra do café fodido. Trabalho fodido. Volto pro apê fodido. Só fodo quando estou com Gill"

"Quem?"

"Minha mulher"

"Ah... Bem, por hora está dispensado, sr. Dusquene. Volte a este tribunal quando for intimado. Mas antes..."

Deixei uma dedicatória para o juiz no meu último livro de poemas, que ele me apresentou. Continha os poemas mais indecentes que produzi até hoje.

Deixei o tribunal e fui ao Finnegan's tomar um trago.

Todo mundo gosta de uma sacanagem.

Sex on the table


os homens enlouquecem as mulheres
e elas não deixam por menos
destroem um homem em dois tempos

e vamos neste jogo louco
até o fim
até ficarmos diante de uma parede branca
babando, atordoados

é um negócio insano
homens e mulheres necessitam uns dos outros
mas vivem para infernizar uns aos outros
essa é a criação, o mandamento,
o viaduto...

bom Deus...

A melhor hora da cidade em que ela vive


vejo a cidade morta às quatro horas da manhã
as ruas parecem a pele de um imenso anfíbio negro-cinza
pisada por bêbados erradios e sujos de merda
estou bebendo um tinto de qualidade; e isto é bom
vejo os carros na pista, ao longe, na hora plena
a melhor hora da cidade: quando todos dormem e
e ela, enfim, pode respirar, ficar em paz, livre de
passos, cusparadas, gimbas de cigarro, vômitos...
existe a possibilidade de um assassinato, logo,
mas isso sempre há em qualquer lugar do mundo
nem falo das sirenes de bombeiros e polícias
nem digo do meu incômodo de fazer parte disso...
a minha bebida me basta; nada hoje de rostos
e vozes humanas: só quero esse silêncio, imerso
em álcool, como uma quietude de mim mesmo agora

Gatos em noites quentes


gatos nos telhados...
o sexo deles
é uma briga insana,
visceral,
puro dentes, garras
e raiva.

fazem o troço
como deviam fazer
homens e mulheres.
com frenesi
e desespero,
como faca,
rilhando a campa
da noite.

e a lua, vendo tudo aquilo,
todas as fodas –
as nossas e as deles –
deve pensar
"os gatos são melhores...
podem não ser os dominantes,
mas sabem o que e como fazer”

Sensação de merda no sapato esquerdo


é preciso sinceramente que haja algo melhor que isso,
do que observar esses rostos óbvios, frequentes,
à espera do próximo pagamento,
do próximo telefonema,
da próxima viagem interestadual,
do próximo fim de semana,
do próximo reality show,
para que eu consiga me apossar
das sobras de mim

não quero ter contato com 99% da humanidade
mas estou cercado desses 99%
sou um ser solitário e mal-humorado
não me dou bem com gente
só com cervejas e jogo de números

a cada dia a tensão aumenta
não consigo sequer olhar para seus rostos...

mas sempre há a perspectiva
da próxima viagem interestadual,
do próximo fim de semana,
do próximo reality show,
do próximo telefonema,
para que, enfim, esses 99%, envolvidos pelas novidades,
desapareçam por algumas esplendorosas horas

Sem título


todos temos problemas
os russos têm problema com a bebida
o Oriente Médio com as ameaças terroristas
os norte-americanos com a obesidade populacional
e também com o pesadelo do terror
os japoneses com terremotos e tsunamis

e eu aqui parado,
cervela na mão,
lendo todas as tragédias cotidianas
com a porra dessa mosca
fazendo cócegas
na sola do meu pé

Vivamos o presente em branco

"O grande problema do mundo é gente inquieta", BULLFORD

"Ela não liga pra ele. Não sabe cativá-lo. Eu DEI pra ele!", MILDRED

"Os pormenores não contam quando as coisas vão mal", DUSQUENE

"Sou um sacana", GILLMORE

"Quer uma chupetinha, benzinho?", SANDRA DEE

"Foder é uma arte. Mas nem todo mundo é pintor", DUSQUENE

"Não. Foder é suor, um instante de felicidade e lágrimas", DUSQUENE

"Sou realmente um sacana. Eeeheehh...", GILLMORE

"Ainda contarei as estrelas com você, baby", DUSQUENE

"...", ANNIE