quinta-feira, 2 de maio de 2013

Tristes dias aqueles de maio


Eu separava as planilhas no banco. Agrupava os requerimentos de pequenos empréstimos de acordo com capacidade de pagamento do solicitante. Ou seja, se o sujeito informava uma renda razoável, mais chances ele tinha de conseguir o dinheiro. Era uma merda, porque havia aqueles que nada tinham a oferecer.

Um dia uma velha entrou com dificuldade no banco. Sentou na minha frente. Disse que precisava de um dinheiro para levar o marido ao oculista e comprar uns óculos novos para ele. Havia suspeita de glaucoma.

Pedi a ela algumas informações. Renda não havia. Infelizmente, informei à mulher que o empréstimo não poderia ser concedido. Seus olhos se encheram e as lágrimas começaram a descer. Seus lábios tremiam. "O que eu vou fazer agora, meu filho?". Eu não sabia o que lhe dizer. Eu era estagiário sênior naquela época e não ganhava nem para substituir meus sapatos velhos.

Por fim, não aguentei e menti no requerimento. Coloquei uma renda que achava que seria suficiente para a aprovação do empréstimo pelo gerente. Pedi que ela assinasse uma série de recibos, que bati rapidamente, para que comprovasse aquela renda. Pedi que telefonasse dentro de três dias para ver se o emprestimo havia sido aprovado. Era uma tentativa pelo menos.

Depois de tudo, a velha olhou para mim. Sorriu. Nada disse. Apenas contorceu seu lenço e se foi.

Era uma esperança. Uma esperança apenas, mas nada.

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