domingo, 5 de maio de 2013
O inexplicável momento de nada dizer
A velha Mildred gostava de colocar uns vasos com plantas no parapeito da janela. Gillmore alertava Mildred.
"Qualquer hora um troço desses balança, cai e faz um estrago na cabeça de alguém. Se for comigo, as consequências serão graves...".
"Você está me ameaçando? Vou telefonar para a polícia".
"Dona, telefone para o escambau. Eu já lhe dei o aviso".
Um dia aconteceu. Um dos vasos com gerânios despencou e estatelou no piso da entrada, bem na hora que Gillmore saia pro trampo. O adubo negro do vaso cobriu as barras de sua calça creme e penetrou nos sapatos. Uma merda só. Gillmore olhou para cima e viu Mildred assustada, segurando um vaso que ameaçava cair.
"Eu lhe avisei", disse ele.
Gillmore abriu com força a porta do prédio de três andares, sem pilotis.
O que se ouviu depois foi o baque surdo de porta escancarada a pontapés, os gritos de Mildred e o barulho de vasos se quebrando no 279.
"Você é louco. Um homem insano aqui. Minhas azaleias, meus gerânios! Oh, meus pobres gerânios...".
Mas Gillmore continuava, firme, a destruir os jardins suspensos.
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