Misty começou com uma tatuagem pequena, em forma de uma
pequena buceta, no lado direito do pescoço. Na verdade uma daquelas flores que
parece uma racha. Achou legal, fez uns ramos do pé da flor até o meio pescoço.
Ficou realmente legal. Mas estranho. Os pais se horrorizaram. Os amigos nem tanto. Acharam bacana o troço. Os ramos da buceta do pescoço pareciam nascer dos peitos de Misty.
Ela resolveu, então, fazer da flor única um bucetal, estendendo o jardim por toda a face direita. A mãe desmaiou. O pai a expulsou de casa. O namorado, que antes apoiara a merda toda, não aguentou o exotismo e deixou Misty com o seu roseiral de tattoo.
O
tempo passou. Ela foi ficando cada vez mais esquiva. Passou a andar com pessoas
cada vez mais esquivas também.
E,
meses depois, ao acordar de uma bebedeira, Misty olhou-se no espelho partido do
banheiro de um sujeito qualquer, a quem dera por não ter o que fazer na noite
anterior e porque precisava de um lugar melhor para dormir. O que viu não foi
bem o que queria. Aliás, não viu nada daquilo que queria.
Queria
ver seu rosto antigo. Clamava pelo seu rosto de dez meses atrás. Sem adesivos.
Sem carimbos. Sem flores-bucetas. Sem ramos, sem roseiral, sem nada. E começou
a chorar convulsivamente, a se desesperar, a morrer por dentro. O que fizera
foi um crime contra si, sua real identidade. O seu verdadeiro rosto, nunca
mais.
Três dias depois estava morta.
Cortara o ramalhete pelo talo.
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