Seguirei vivendo
esses últimos 20 anos
não sei se escrevendo,
indo a supermercados,
mas certamente botando o vinho no carro,
vendo disco voador,
virando leitor de livros de economia,
o drama dusqueniano completado...
Até que venha ela,
ela, a esperada,
ela, a aguardada,
ela com seus lábios em vermelho
me pagando o boquete final.
sábado, 30 de agosto de 2014
Essa merda entranhada em mim
meu domínio
é meu copo
estou só com este vinho tinto e a lua
É, Dusquene,
a vida sempre lhe prega uma peça
ria, sujeito indecente,
bom mesmo é vinho,
mulher e sol na
cara
não vou longe,
logo ali Mirtes cagou no meu dia
me dando mil planilhas
para contabilizar
- seja lá o que isso for.
fiz o negócio todo
fui ao vaso,
caguei,
fiz o que devia ser feito
sai do emprego
e só pensei chegar em casa
e beber...
meu domínio
é meu copo
estou só com este vinho tinto e a lua
é meu copo
estou só com este vinho tinto e a lua
É, Dusquene,
a vida sempre lhe prega uma peça
ria, sujeito indecente,
bom mesmo é vinho,
mulher e sol na
cara
não vou longe,
logo ali Mirtes cagou no meu dia
me dando mil planilhas
para contabilizar
- seja lá o que isso for.
fiz o negócio todo
fui ao vaso,
caguei,
fiz o que devia ser feito
sai do emprego
e só pensei chegar em casa
e beber...
meu domínio
é meu copo
estou só com este vinho tinto e a lua
quinta-feira, 24 de julho de 2014
a loucura desaba sempre no meio da noite fria
sonho poucas vezes e ontem sonhei que estava no corredor de um supermercado
ia tranquilo empurrando o carro, dobro um dos corredores e lá está ela: uma alienígena, oferecendo copinhos de uma marca de café
a alienígena tinha um olho retangular enorme, me perguntou:
"Gostou da viagem sr. Dusquene?"
"Que viagem?"
"Para Altam, logicamente"
"Que conversa é essa? Estamos nos ..."
a linha fina que era o lábio da alien se expandiu, um risinho talvez
(não sei como, mas eu sabia que era fêmea)
- quando ela falava a linha ia para os lados e só
tinha dois braços como nós, mas verdes e que acabavam em pinças roxas
não vi pernas, bem que tentei, o tórax, sem seios, ia direto ao chão
"Bem, o senhor pensa que está na Terra, mas está em Altam"
"Dispenso o café, quero um uísque puro duplo"
"Não há bebidas alcoólicas neste planeta"
"Ótima droga de notícia. Vou fundar a Máfia por aqui. Como é seu nome querida?"
"Styxxx"
"Sei, pornô"
"Como?"
"Deixa pra lá, Styll. Posso lhe chamar de Styll, não posso? Quando sair do serviço você não gostaria de me mostrar o seu planeta?"
"Adoraria"
"Certo. Vou dar um giro pelos corredores. Que horas você sai?"
"Daqui a 582 horas?"
"O que?!"
"Nosso dia aqui dura 1.385 horas terráqueas".
"Eu preciso realmente de uma bebida agora, Styll. Vou procurar o Al do pedaço e fundar aquela sociedade de que lhe falei"
ia tranquilo empurrando o carro, dobro um dos corredores e lá está ela: uma alienígena, oferecendo copinhos de uma marca de café
a alienígena tinha um olho retangular enorme, me perguntou:
"Gostou da viagem sr. Dusquene?"
"Que viagem?"
"Para Altam, logicamente"
"Que conversa é essa? Estamos nos ..."
a linha fina que era o lábio da alien se expandiu, um risinho talvez
(não sei como, mas eu sabia que era fêmea)
- quando ela falava a linha ia para os lados e só
tinha dois braços como nós, mas verdes e que acabavam em pinças roxas
não vi pernas, bem que tentei, o tórax, sem seios, ia direto ao chão
"Bem, o senhor pensa que está na Terra, mas está em Altam"
"Dispenso o café, quero um uísque puro duplo"
"Não há bebidas alcoólicas neste planeta"
"Ótima droga de notícia. Vou fundar a Máfia por aqui. Como é seu nome querida?"
"Styxxx"
"Sei, pornô"
"Como?"
"Deixa pra lá, Styll. Posso lhe chamar de Styll, não posso? Quando sair do serviço você não gostaria de me mostrar o seu planeta?"
"Adoraria"
"Certo. Vou dar um giro pelos corredores. Que horas você sai?"
"Daqui a 582 horas?"
"O que?!"
"Nosso dia aqui dura 1.385 horas terráqueas".
"Eu preciso realmente de uma bebida agora, Styll. Vou procurar o Al do pedaço e fundar aquela sociedade de que lhe falei"
antes a lua morta aos sábados
somos fortes, mas extremamente frágeis,
ridiculamente frágeis,
idiotamente frágeis,
mas sempre nos sábados nos fortalecemos
com alguma comiseração
e a necessidade de odiar quem nos odeia
não, não isso,
é só o esquecimento,
tudo se esquecerá...
porque iremos afinal...
mas iremos
ridiculamente frágeis,
idiotamente frágeis,
mas sempre nos sábados nos fortalecemos
com alguma comiseração
e a necessidade de odiar quem nos odeia
não, não isso,
é só o esquecimento,
tudo se esquecerá...
porque iremos afinal...
mas iremos
segunda-feira, 5 de maio de 2014
As Coisas
sempre iremos, de alguma forma,
quebrando coisas
copos, garrafas, corações e mentes
é inevitável, é da vida
saberemos muito pouco ao final,
mas teremos uma certa sabedoria
da caminhada
de alguma forma...
é inevitável
que a grande festa termine
é inevitável que o drinque
acabe, e não encontremos mais nada
no fundo do copo
no lar
na galáxia
mas teremos feito uma caminhada útil
e necessária
para uns e outros
e sairemos, ao final de tudo,
com um leve cumprimento
- de nada, obrigado.
quebrando coisas
copos, garrafas, corações e mentes
é inevitável, é da vida
saberemos muito pouco ao final,
mas teremos uma certa sabedoria
da caminhada
de alguma forma...
é inevitável
que a grande festa termine
é inevitável que o drinque
acabe, e não encontremos mais nada
no fundo do copo
no lar
na galáxia
mas teremos feito uma caminhada útil
e necessária
para uns e outros
e sairemos, ao final de tudo,
com um leve cumprimento
- de nada, obrigado.
segunda-feira, 21 de abril de 2014
Novo novo e igual
Queria avançar no tempo 400 anos para ver como serão as coisas.
Habitaremos colônias na Lua, em Marte, certamente...
Iremos a Alfa do Centauro... Voltaremos?
A cura do câncer virá...
A antecipação genética, com a escolha de quem poderá reproduzir ou não...
Eugenia, esse horror... horror...horror...
Todo o mal, todo o bem,
tudo o mais...
Ninguém ficará isento, todos serão envolvidos, atraídos.
Conduzidos, forçados?
Haverá democracia ainda?
Ocidente? Oriente?
Fé?
A certeza humana da continuidade da espécie, a todo o custo,
uma questão de sobrevivência, mesmo que muitos devam ser sacrificados.
You
Você,
que pensa que será grande daqui a alguns anos,
que pensa que realizará seu sonho sob água matinal,
que permanecerá sempre tentando,até o esgotamento,
que sobre derrotas nada falará, justificando-as todas,
que fará uma merda atrás da outra
Você,
que buscará no álcool qualquer coisa de humano, e ficará vencido,
que procurará qualquer coisa sob o solar da lua morta e nada encontrará,
que desmontará a maquete antes mesmo do primeiro tijolo cozido,
você, homem, você, você mesmo, que dormirá com os porcos, no trajeto,
e que clamará aos céus pelo aniquilamento
Você,
que imaginará ter um tesouro sob a pedra,
que vomitará bílis e desejos ao lado da gorda mesa,
que espantará pombos como bichos humilhantes,
e se servirá do último drinque no copo americano,
você, homem, você, você mesmo, que é da América,
nua, escura, úmida, calorenta, bela
como uma stripper
Você,
que perderá os culhões sob as fachadas luminosas dos supermercados,
que antecipará o pagamento da empregada por pena e asco e insinceridade,
que dormirá sob as estrelas em uma noite clara de vigília bêbada,
que deixou para trás todo o legado de 50, 60 e 70,
que esperará somente viver um pouco mais mais,
para que o urso ainda tente abocanhar o peixe,
ou algo, assim, idiota e totalmente humano,
assim é, homem, assim
que pensa que será grande daqui a alguns anos,
que pensa que realizará seu sonho sob água matinal,
que permanecerá sempre tentando,até o esgotamento,
que sobre derrotas nada falará, justificando-as todas,
que fará uma merda atrás da outra
Você,
que buscará no álcool qualquer coisa de humano, e ficará vencido,
que procurará qualquer coisa sob o solar da lua morta e nada encontrará,
que desmontará a maquete antes mesmo do primeiro tijolo cozido,
você, homem, você, você mesmo, que dormirá com os porcos, no trajeto,
e que clamará aos céus pelo aniquilamento
Você,
que imaginará ter um tesouro sob a pedra,
que vomitará bílis e desejos ao lado da gorda mesa,
que espantará pombos como bichos humilhantes,
e se servirá do último drinque no copo americano,
você, homem, você, você mesmo, que é da América,
nua, escura, úmida, calorenta, bela
como uma stripper
Você,
que perderá os culhões sob as fachadas luminosas dos supermercados,
que antecipará o pagamento da empregada por pena e asco e insinceridade,
que dormirá sob as estrelas em uma noite clara de vigília bêbada,
que deixou para trás todo o legado de 50, 60 e 70,
que esperará somente viver um pouco mais mais,
para que o urso ainda tente abocanhar o peixe,
ou algo, assim, idiota e totalmente humano,
assim é, homem, assim
Ontem, tarde, na rua mais próxima
"Beberei até a sua última gota, Dusquene".
"Espero que engasgue, sua rampeira".
"Pensava que ia ter uma boa vida, hein?".
"É. Realmente imaginava algo melhor para o meu lado".
"Cê não é melhor do que ninguém, Duc".
"Sei que não sou. Mas também não preciso ser igual a todos".
"Escrever uns poemas e textos não o tornam superior".
"Mas me salvam do ramerrão, conservam o meu nariz acima do mar de bosta".
"Você é engraçado. Saiba... NINGUÉM SE SALVARÁ!"
"Não procuro redenção alguma".
"Seu fim será igual ao dos outros camaradas".
"Mas deixarei uns troços escritos, meu ódio talvez".
"Você se acha especial, Dusquene. Muito especial..."
"Afinal, dona, cê não tem mais o que fazer?"
"E você? Que destino dá a sua vida miserável?"
"Bebo e escrevo e vice-versa".
"Sua novela nunca será publicada".
"O que eu posso fazer? Mas um editor já se interessou. Agora é aguardar".
"Conversaremos mais tarde. O cara lá de cima me bipou. Um atropelamento na Pomerode, 45. Amanhã estou de volta".
"Não venha. Me dê uma folga".
"Isso não existe para você, Dusquene. Não para você".
Mad Love
Ninguém é bom o bastante para você
Ninguém cospe um sonho tão grandioso
Ninguém é suficiente para amar você como uma perdida
Ninguém lê o seu horóscopo e faz revelações
Como vai ser seu dia a dia? E seu segredo desprezível...
Ninguém conhece ainda as palavras mágicas
Que farão você cair dessa nuvem
Para se transformar realmente numa mulher
Mas você, garota, vai sofrer muito
Se não for na minha mão, será na mão de outro
Você vai fazer tudo o que eu quiser (mas não serei seu dono...)
E vamos viver um amor bem vagabundo
Só para quebrar o gelo
Eu não tenho amigos, nem paradeiro
Não tenho um sonho, nenhum, nem durmo
Mas amo você como um cão danado, como um cão errante
Eu leio como ninguém seus desejos tão secretos
Eu já estou no seu dia a dia. Meio indefinido...
Você tem agora quem conhece as palavras mágicas
Que farão você cair dessa nuvem
Para se transformar realmente numa mulher
Mas você, garota, vai sofrer muito
Se não for na minha mão, será na mão de outro
Você vai fazer tudo o que eu quiser (mas não serei seu dono...)
E vamos viver um amor bem vagabundo
Só para quebrar o gelo
Ninguém cospe um sonho tão grandioso
Ninguém é suficiente para amar você como uma perdida
Ninguém lê o seu horóscopo e faz revelações
Como vai ser seu dia a dia? E seu segredo desprezível...
Ninguém conhece ainda as palavras mágicas
Que farão você cair dessa nuvem
Para se transformar realmente numa mulher
Mas você, garota, vai sofrer muito
Se não for na minha mão, será na mão de outro
Você vai fazer tudo o que eu quiser (mas não serei seu dono...)
E vamos viver um amor bem vagabundo
Só para quebrar o gelo
Eu não tenho amigos, nem paradeiro
Não tenho um sonho, nenhum, nem durmo
Mas amo você como um cão danado, como um cão errante
Eu leio como ninguém seus desejos tão secretos
Eu já estou no seu dia a dia. Meio indefinido...
Você tem agora quem conhece as palavras mágicas
Que farão você cair dessa nuvem
Para se transformar realmente numa mulher
Mas você, garota, vai sofrer muito
Se não for na minha mão, será na mão de outro
Você vai fazer tudo o que eu quiser (mas não serei seu dono...)
E vamos viver um amor bem vagabundo
Só para quebrar o gelo
Alma que embola o grande falo
1
Você fez por merecer a mulher tem.
2
Um cachorro é sempre um cachorro. Uma pessoa eu não sei o que pode vir a ser.
3
Qualquer bebida é melhor que nada. Desde que tenha álcool.
4
"Você precisa de um psiquiatra, Dusquene",
"É. Eu, você e metade do planeta".
"Mas no seu caso é evidente".
"Não force, baby".
5
Muitas mulheres destróem seus homens. Fazem com que eles se transformem em amebas, em seres débeis, emasculados.
6
Casamento é a pior coisa que existe antes do divórcio.
7
Qualquer mulher falando é um ser em caça.
8
Quando uma mulher gosta de outra algo está errado.
9
Ler é mortal para qualquer escritor.
10
TV aberta é sinal de insanidade.
Você fez por merecer a mulher tem.
2
Um cachorro é sempre um cachorro. Uma pessoa eu não sei o que pode vir a ser.
3
Qualquer bebida é melhor que nada. Desde que tenha álcool.
4
"Você precisa de um psiquiatra, Dusquene",
"É. Eu, você e metade do planeta".
"Mas no seu caso é evidente".
"Não force, baby".
5
Muitas mulheres destróem seus homens. Fazem com que eles se transformem em amebas, em seres débeis, emasculados.
6
Casamento é a pior coisa que existe antes do divórcio.
7
Qualquer mulher falando é um ser em caça.
8
Quando uma mulher gosta de outra algo está errado.
9
Ler é mortal para qualquer escritor.
10
TV aberta é sinal de insanidade.
O inexplicável momento de nada dizer
A velha Mildred gostava de colocar uns vasos com plantas no parapeito da janela. Gillmore alertava Mildred.
"Qualquer hora um troço desses balança, cai e faz um estrago na cabeça de alguém. Se for comigo, as consequências serão graves...".
"Você está me ameaçando? Vou telefonar para a polícia".
"Dona, telefone para o escambau. Eu já lhe dei o aviso".
Um dia aconteceu. Um dos vasos com gerânios despencou e estatelou no piso da entrada, bem na hora que Gillmore saia pro trampo. O adubo negro do vaso cobriu as barras de sua calça creme e penetrou nos sapatos. Uma merda só. Gillmore olhou para cima e viu Mildred assustada, segurando um vaso que ameaçava cair.
"Eu lhe avisei", disse ele.
Gillmore abriu com força a porta do prédio de três andares, sem pilotis.
O que se ouviu depois foi o baque surdo de porta escancarada a pontapés, os gritos de Mildred e o barulho de vasos se quebrando no 279.
"Você é louco. Um homem insano aqui. Minhas azaleias, meus gerânios! Oh, meus pobres gerânios...".
Mas Gillmore continuava, firme, a destruir os jardins suspensos.
"Qualquer hora um troço desses balança, cai e faz um estrago na cabeça de alguém. Se for comigo, as consequências serão graves...".
"Você está me ameaçando? Vou telefonar para a polícia".
"Dona, telefone para o escambau. Eu já lhe dei o aviso".
Um dia aconteceu. Um dos vasos com gerânios despencou e estatelou no piso da entrada, bem na hora que Gillmore saia pro trampo. O adubo negro do vaso cobriu as barras de sua calça creme e penetrou nos sapatos. Uma merda só. Gillmore olhou para cima e viu Mildred assustada, segurando um vaso que ameaçava cair.
"Eu lhe avisei", disse ele.
Gillmore abriu com força a porta do prédio de três andares, sem pilotis.
O que se ouviu depois foi o baque surdo de porta escancarada a pontapés, os gritos de Mildred e o barulho de vasos se quebrando no 279.
"Você é louco. Um homem insano aqui. Minhas azaleias, meus gerânios! Oh, meus pobres gerânios...".
Mas Gillmore continuava, firme, a destruir os jardins suspensos.
O que devemos fazer para impor respeito
"Eddie, sai da soleira e deixe o gato passar". "Não, mãe. Ele é porco". "Como assim?". "Não caga na caixa". "E, daí? Seu pai não costuma acertar o vaso e eu estou com ele, não estou?". "Mas pai vale mais do que esse gato, mãe". "Quem disse? Seu pai é um MERDA, Eddie. Uma grandessíssima merda seca". "Não fale assim dele". "Falo dele do jeito que eu quiser". "Vá tomar no cu, mãe!". "O que? Cê me respeite!". "Tudo bem, a senhora eu respeito, mas esse filho-duma...". O pontapé de Eddie fez o gato voar e se estatelar na mureta rosa da varanda. O animal levantou grogue e saiu mancando a perna traseira esquerda. Viu que não era uma boa hora para pedir sua sardinha para mamãe.
quinta-feira, 17 de abril de 2014
Ratos e comichões
"Max..."
"Que é..."
"Tem um rato andando no quarto".
"Porra nenhuma. Vê se dorme".
"Ele me mordeu o dedão do pé esquerdo".
"Como, se você está deitada?"
"Sei lá. Mas senti uma mordida firme. Tô com medo de olhar".
Max arqueou e olhou para os pés da mulher, descobertos.
Ela tinha pés bonitos, lembrou-se.
Era só que sobrara depois de 32 anos de casamento.
"Porra nenhuma..."
Foram dormir.
"Que é..."
"Tem um rato andando no quarto".
"Porra nenhuma. Vê se dorme".
"Ele me mordeu o dedão do pé esquerdo".
"Como, se você está deitada?"
"Sei lá. Mas senti uma mordida firme. Tô com medo de olhar".
Max arqueou e olhou para os pés da mulher, descobertos.
Ela tinha pés bonitos, lembrou-se.
Era só que sobrara depois de 32 anos de casamento.
"Porra nenhuma..."
Foram dormir.
A pálpebra meio aberta me confunde
eu sou intratável
no trabalho as pessoas me olham de esguelha
pensam que sou um alienígena
e isso é bom
quanto menos contato eu tiver com a Humanidade,
melhor para mim e para ela,
sei que sou uma bolha de raiva
e impaciência
a idiotia das pessoas me incomoda
mulheres grávidas me incomodam
pessoas no metrô me incomodam
o sol entrando pela cortina
me incomoda muito
um dia Dóris me falou:
"Dusquene, você é quase um ser humano"
gostei do elogio,
gosto de Dóris
no trabalho as pessoas me olham de esguelha
pensam que sou um alienígena
e isso é bom
quanto menos contato eu tiver com a Humanidade,
melhor para mim e para ela,
sei que sou uma bolha de raiva
e impaciência
a idiotia das pessoas me incomoda
mulheres grávidas me incomodam
pessoas no metrô me incomodam
o sol entrando pela cortina
me incomoda muito
um dia Dóris me falou:
"Dusquene, você é quase um ser humano"
gostei do elogio,
gosto de Dóris
Eu e ela em meio ao tédio infinito
o risco é sempre estarmos vivos
e nos aborrecermos mutuamente
- o que é sempre inevitável
é nos detestarmos mais a cada dia,
a cada gesto, a cada olhar, a cada visita, no caos
de tudo e todos
estamos de saco cheio
uns dos outros,
admitamos...
fora os parentes, os vizinhos,
os cachorros mijadores e cagadores,
as mulheres que vivem vidas por meio de novelas,
fora a maldita velha que tosse e tosse e tosse
enfim, fora a grande bola de merda
feita de tudo isso e
que sempre vem
em nossa
direção
por isso, baby,
fique um pouco quieta,
só olhe aquela grande lua e
estas bebidas em nossas mãos
vazias de carinho
e nos aborrecermos mutuamente
- o que é sempre inevitável
é nos detestarmos mais a cada dia,
a cada gesto, a cada olhar, a cada visita, no caos
de tudo e todos
estamos de saco cheio
uns dos outros,
admitamos...
fora os parentes, os vizinhos,
os cachorros mijadores e cagadores,
as mulheres que vivem vidas por meio de novelas,
fora a maldita velha que tosse e tosse e tosse
enfim, fora a grande bola de merda
feita de tudo isso e
que sempre vem
em nossa
direção
por isso, baby,
fique um pouco quieta,
só olhe aquela grande lua e
estas bebidas em nossas mãos
vazias de carinho
A mão na concha vulva e feérica
1.
O bom da vida é a farra.
2.
Ter um cão é muito pior do que ter mosquito no quarto.
3.
A mentira é ruim, mas preserva.
4.
Qualquer idiota consegue ser mais idiota do que parece.
5.
Shakes tem suas qualidades.
6.
As pessoas não mudam. É um fato. Quem virou santo é porque nasceu para isso. Mesmo que tenha comido umas putas.
7.
Vocé é um canalha para alguém - pense nisto.
8.
Felicidade é rotina cristalina.
9.
As mulheres... Ah, as mulheres realmente fêmeas...
10.
Foder é um estado de espírit
a penúria alheira que avança nas grades
somos feitos de nervos
carnes e ossos tão somente são
alicerce e concreto
somos constituídos é de fiações
por isso, não é errado dizer
"aquele sujeito tem uns fios soltos"
cada vez mais vemos pessoas assim
deprimidas, obcecadas, loucas, suicidas,
vagando pelas ruas,
com todas as suas carências
eu fujo desses indivíduos...
não sei você, amigo
já estou satisfeito com as minhas misérias
não preciso das de ninguém
"Dusquene, eu preciso lhe contar umas coisas..."
"Deixe para amanhã, camarada, hoje eu não estou num dia bom"
carnes e ossos tão somente são
alicerce e concreto
somos constituídos é de fiações
por isso, não é errado dizer
"aquele sujeito tem uns fios soltos"
cada vez mais vemos pessoas assim
deprimidas, obcecadas, loucas, suicidas,
vagando pelas ruas,
com todas as suas carências
eu fujo desses indivíduos...
não sei você, amigo
já estou satisfeito com as minhas misérias
não preciso das de ninguém
"Dusquene, eu preciso lhe contar umas coisas..."
"Deixe para amanhã, camarada, hoje eu não estou num dia bom"
Compaixão é sempre uma merda boa
a lua na sarjeta
que mal faz?
aquele poste só, ao longe,
iluminando
que mal faz?
aquele bêbado triste
que ali vai
que mal faz?
os pobres
que mal fazem ao mundo?
só a eles
então, camarada, tenha mais compaixão
não custa nada
tentar
nem que seja com sua mãe ou pai
ou sei lá quem
que mal faz?
aquele poste só, ao longe,
iluminando
que mal faz?
aquele bêbado triste
que ali vai
que mal faz?
os pobres
que mal fazem ao mundo?
só a eles
então, camarada, tenha mais compaixão
não custa nada
tentar
nem que seja com sua mãe ou pai
ou sei lá quem
Um cão
amo você, baby
como um cão
um cão danado
um cão de rua
triste
um cão cheio de carrapatos
com cicatrizes no focinho
seco e só
amo você, baby
como um cão
parado numa esquina
sarnento, repulsivo,
repleto de pulgas
e triste
amo você, baby
como um cão
manco e débil,
mas feroz
amo você,
ganindo
como um cão
um cão danado
um cão de rua
triste
um cão cheio de carrapatos
com cicatrizes no focinho
seco e só
amo você, baby
como um cão
parado numa esquina
sarnento, repulsivo,
repleto de pulgas
e triste
amo você, baby
como um cão
manco e débil,
mas feroz
amo você,
ganindo
quarta-feira, 16 de abril de 2014
Longe, onde ninguém me alcance
gosto de ficar só
trancar o mundo lá fora
não ter amigos é uma de minhas qualidades
sempre me achei só na planície e isso
é legal, é bom e honesto
quem gosta de gente deveria ir pro manicômio
gente incomoda, gente fala, gente fere os olhos
e, às vezes, as narinas
Blue Sue,
a gorda do banco,
se acha legal e especial, a Blue Sue,
mas é um troço terrível para se ver, para se empalmar:
toda aquela gordura e carne vazando
pelos lados e na frente
- Blue Sue, cê é uma merda! – lhe disse Seymour uma vez.
E Seymour estava certo.
trancar o mundo lá fora
não ter amigos é uma de minhas qualidades
sempre me achei só na planície e isso
é legal, é bom e honesto
quem gosta de gente deveria ir pro manicômio
gente incomoda, gente fala, gente fere os olhos
e, às vezes, as narinas
Blue Sue,
a gorda do banco,
se acha legal e especial, a Blue Sue,
mas é um troço terrível para se ver, para se empalmar:
toda aquela gordura e carne vazando
pelos lados e na frente
- Blue Sue, cê é uma merda! – lhe disse Seymour uma vez.
E Seymour estava certo.
Negociação ao cair da tarde
"Estamos abertos à proposta, homem. Queremos sua alma.
Você sabe disso".
"Sei. E daí? Qual é a proposta?"
"A proposta é você quem faz".
"Tudo bem"
"Então, qual é?"
"Calma, estou pensando qualquer coisa".
"Não tenho o dia todo".
"Ei, cara, vá se foder. Você me aparece no
meio do quarto, enquanto entorno uma birita.
E me apressa? Afinal, quem é você?"
"Maxwell"
"Maxwell de quê?"
"Apenas Maxwell. Meu pai não gosta de sobrenomes".
"E quem é papai?"
"Você sabe muito bem quem é, Dusquene".
"É. Um filho da puta qualquer"
"Não fale assim dele. Olha o respeito".
"Ó, sua bicha, sarta fora. Não quero fazer
proposta nenhuma. Não vou vender minha alma".
"Estou pagando bem: mulheres, iate, grana preta".
"Tá bom. Aí vai. Vendo minha alma por SOSSEGO.
Mil anos de SOSSEGO"
Um pouco de culpa e um dólar apenas
as pessoas são premiadas
de muitas maneiras
e você, Dusquene?
papando mosca...
bebe uma cerveja,
é, esta noite o bar está legal,
aparentemente
até o momento
o copo enchendo e esvaziando na boa
ninguém veio puxando conversa,
enchendo o saco
alguns conhecidos apenas,
"e aí, Dusquene?", dou um "Olá, amigo"
ninguém vem sentar na mesa,
isso é legal
a vida pode ser boa
é só você confrontar a pressão dos idiotas
e deixar rolar com a bebida,
fico de olho
as mulheres dos bares
têm longas estórias tristes, de solidão,
e ancas e seios sexys,
mas hoje não, não vou investir,
não quero ouvir e foder nenhuma delas
quero apenas, e somente, beber
é isso
terça-feira, 15 de abril de 2014
Eu
Eu não sou nada
E nada é um bom começo
Beber num bar qualquer é um bom começo, Dusquene
Vencer,
é coisa que sempre se perde,
eu prefiro beber um drink, meio triste,
meio imaginário,
qualquer cheiro de mulher agora vale a pena
E nada é um bom começo
Beber num bar qualquer é um bom começo, Dusquene
Vencer,
é coisa que sempre se perde,
eu prefiro beber um drink, meio triste,
meio imaginário,
qualquer cheiro de mulher agora vale a pena
Um troço sério da infâmia acesa
Ninguém pode começar um romance se trancando num apartamento para escrever. Isso é neurose. É doentio. Escrever deve ser um troço automático. Vivencial. O cara que elabora demais o texto pode ganhar no estilo, mas o que produzirá morrerá na estante fria.
Prefiro escrever o que me vem na cabeça na hora, porque sei que essa é a minha verdade, mesmo que momentânea. Não adianta o cara sentar no computador e pensar: "Hoje vou escrever o grande poema americano do século" ou "Começarei hoje uma novela espetacular".
Não falo daqueles escritores que fazem uma grande ficção. Não. Falo dos escritores comuns que pouco têm a oferecer, além de uma dura realidade, de sacanagem e poemas com mulheres e bebidas, como eu.
Afinal, o troço bom é isso mesmo.
Prefiro escrever o que me vem na cabeça na hora, porque sei que essa é a minha verdade, mesmo que momentânea. Não adianta o cara sentar no computador e pensar: "Hoje vou escrever o grande poema americano do século" ou "Começarei hoje uma novela espetacular".
Não falo daqueles escritores que fazem uma grande ficção. Não. Falo dos escritores comuns que pouco têm a oferecer, além de uma dura realidade, de sacanagem e poemas com mulheres e bebidas, como eu.
Afinal, o troço bom é isso mesmo.
Pin-ups
eu quero aquelas mulheres
todas elas
pin-ups
mulheres feitas de sonho,
mulheres que não existem mais,
mulheres que dão um alento a um homem,
repouso para o velho Dusquene de guerra
eu quero todas as pin-ups,
e ninguém mais as merece do que eu
ninguém merece mais suas cores vivas,
seus cafés bem quentes,
ninguém merece mais a comodidade
eu quero todas as pin-ups
embrulhem todas elas e mandem lá pra casa
Showtime
O cantor de rock do momento ia fazer um megashow. “O cara é bom, cê tem que assistir”. “É, talvez”. “Vai passar na TV a partir das 2 da madrugada”. “Como é o nome dele?” “É K..................”. No apartamento, liguei a TV, fui abrindo umas cervejas e deixei rolar. O troço tava demorando, abri um tinto e continuei deixando rolar. Finalmente o show começou. Jorros enormes de fumaça vermelha, azul e violeta no palco. Luzes girando loucamente, um barulho dos infernos. Entra, enfim, um sujeito esquálido, buço louro e começa a cantar espalhafatosamente uma música escrota. E eu lá, esperando o K................. E o sujeito ali berrando coisas, rebolando, acabando com o microfone e os meus tímpanos. “Porra, cadê o K.................., essa merda aí só deve estar esquentando o público pro cara. Só pode ser”, eu pensei. Quinze minutos depois aparece no pé da tela a legenda “K.................. in concert”. “Puta-que-o-pariu, não pode ser...”, eu disse, “O povo está comendo bosta”. Tive ganas de ligar pro cara que me dera a dica. Mas desliguei a droga da TV e fui dormir. Pelo menos eu estava bêbado. Pelo menos isso.
segunda-feira, 14 de abril de 2014
DRINQUE AZUL (BLUE DRINK)
Eliot Blummer
entrou no apartamento como todas as noites. Olhou em volta. Tudo igual. A mesma
poltrona surrada. O cinzeiro cheio de gimbas. O jornal holográfico-material,
lido pela manhã, largado no piso. Um cheiro indecente de algo apodrecendo
dentro, quando abriu a geladeira. Havia uma lata de cerveja esquecida. Restos
de macarrão com carne passada. Era pelo menos uma prova de que alguém ainda
vivia ali.
Ele entendia muito
bem porque Montana havia se mudado. Nem ele aguentava, às vezes. Mas seguia adiante, não sabia bem a razão disso. Talvez houvesse uma piscina com uma bela garota um dia desses. Um drinque azul numa mesa. Um alento para uma alma
torturada pelos afazeres da profissão, de precisador, uma espécie de faz-tudo em
2076.
Tirou um cigarro.
Acendeu. Foi até a janela e ficou ali, espiando o nada. Nenhuma pessoa que
passava na rua, lá embaixo, lhe chamava particularmente a atenção. Nenhuma não.
Uma mulher de capa de chuva amarela realmente se destacava entre as pessoas, na
iluminação enevoada. Andava apressada, olhando de vez em quando para trás, como
se estivesse sendo seguida por algo criminoso. Ele soube
imediatamente que ela estava em perigo.
Pegou as chaves, o
casaco e a carteira – carteiras não mudam nunca. Abriu a porta. O elevador
hipersônico ajudaria naquela ocasião, se estivesse funcionando. Desceu os
quatro andares de escada, num fôlego só. Será que daria tempo? Ou a mulher
sumiria na multidão? Iria pagar para ver. Escancarou a porta do hall do
prédio. Olhou à direita. Nada da capa amarela, dos cabelos escuros. “A
perdi”, pensou. Correu na direção por onde a mulher seguira. Não tinha tempo:
sabia que ela estava em apuros. Ele vira medo em seu rosto.
Virou, a toda, na
Every. Correu. Correu mais ainda. “Para onde? Onde ela se meteu?”. Ela andava depressa. Mas não havia dado
tempo de ir tão longe, sem que pudesse ser notada. Não com aquela capa.
Esticou-se, nada viu. “Não é dessa vez que será um herói, Blummer”, falou para
si.
Virou-se. Deu dois
passos e olhou a placa luminosa no final de uma ruela, um beco na verdade.
Entre dois quarteirões. “Beers”, era o que a placa dizia. Ele sorriu. Muito
atraente, e óbvio. Foi até lá. Subiu a pequena escada e entrou. O local estava
abafado, e com o característico cheiro de stazzi, o alucinógeno
moderado, único permitido pelas autoridades superiores.
Olhou em volta,
desanimado. Então ele viu. No final da curva do balcão, quase colada à parede
escura, estava ela. A capa jogada para trás, mas os braços cobertos e amarelos. Aproximou-se, desviando-se de uns e outros.
- Por que você não
a tira? – perguntou.
A mulher, de seus
25-30 anos, assustou-se com o intruso.
- Não posso. É
minha pele. Está grudada em mim. É meu simbionte de proteção contra variações climáticas súbitas.
- Você é um
andróide?
Ela o encarou. Suas
pupilas negras cobriram toda a superfície dos olhos. Logo retornaram ao normal.
“Está sob grande tensão nervosa”, pensou Eliot, não sabendo bem
onde encaixar nervos em um ser artificial.
- Sim. Em
fase de extermínio.
Blummer continuava de pé. Já não estava confortável ali, com aquilo. Não havia ninguém próximo, no balcão.
- O que você fez? O
Departamento não sai por aí atrás de andróides por nada. Desculpe, pelo menos é
o que dizem...
- Eu... Eu matei
meu dono.
-
Isso é impossível. Andróides são programados como antiassassinos. Andróides
salvam, não matam. É ilógico. Está...
- fora dos padrões. – Ela disse – Sou
uma MX271, Série 3, modelo básico. E, sim, eu matei meu proprietário.
- Mas como? E por que?
- Queria me desligar, permanentemente. Pretendia me
substituir por uma uMNO222 Cibertron.
- E daí? Isso
acontece sempre. Andróides são, por natureza, substituíveis.
- NÃO SÃO! VOCÊS DEVERIAM
NOS PERGUNTAR SE ESSE DESTINO NOS AGRADA!
- Vocês não
precisam decidir sobre isso...
- NÓS ESTAMOS
VIVOS! NÃO ENTENDEM... Eu o servi por cinco anos. É INJUSTO!
Os olhos de
andróide ficaram totalmente pretos. Havia tristeza ali?
- Como o matou? Seu
dono...
- De modo indireto.
Queimei de propósito, com uma sobrecarga, dois circuitos de ajuda a humano.
Captei, pelo suor emanado da pele de Newmann (o nome de meu proprietário), que
ele teria um AVC em poucos dias. Não lhe prestei os primeiros socorros.
Interferi também na linha on-line do serviço de pronto atendimento. Resultado:
ele morreu. E, agora, estou sendo caçada.
Por uns 30
segundos, Eliot viveu o embate entre duas sensações: de repulsa e de compaixão
pelo andróide. Ela baixou os olhos para o drinque
à sua frente.
- Bebida? – ele
notou.
- Só fingindo. Mas
se eu pudesse, esse era um vício que eu poderia ter.
- Venha comigo. Pode
passar a noite em meu apartamento.
MX271 ergueu os olhos e fixou-o.
- Isso jamais
ocorrerá. Eles me localizaram.
Ouviu-se atrás de
Blummer um zumbido alto. Um clarão forte atingiu a lateral da capa amarela. O
andróide fora cortado ao meio.
Pessoas corriam
desesperadas, buscando a porta do bar. Uma nuvem de gás-repulsor, com um cheiro
inexplicável, começou a tomar conta do ambiente.
Enquanto os
mecanismos do ser lentamente morriam, Eliot foi seguro pelo braço.
- Tudo bem,
cidadão? – perguntou um policial.
- Está.
- Era um maquinário
fugitivo.
- O quê?
Antes de ser puxado,
Blummer ainda pôde reparar: o drinque no balcão ficara intacto naquele
alvoroço. Era azul.
sábado, 12 de abril de 2014
Drinque Azul
1.
Nem sempre estaremos felizes como um bloco de anotações.
2.
A merda nem sempre está no vaso. Muitas vezes está na boca das pessoas.
3.
O que fede, não tem jeito.
4.
Qualquer normalidade é enganosa.
5.
Qualquer discurso é fascista. Qualquer "ISMO" é loucura.
6.
Para se ouvido, fale baixo.
7.
Poesia não existe. O que existe são escritos.
8.
Poesia é o grande esgoto do mundo. Prefiro as prateleiras cheias dos supermercados.
9.
Ficção científica é salutar. Philip K. Dick me faz desligar.
10.
Ninguém tem todos os parafusos bem apertados.
Nem sempre estaremos felizes como um bloco de anotações.
2.
A merda nem sempre está no vaso. Muitas vezes está na boca das pessoas.
3.
O que fede, não tem jeito.
4.
Qualquer normalidade é enganosa.
5.
Qualquer discurso é fascista. Qualquer "ISMO" é loucura.
6.
Para se ouvido, fale baixo.
7.
Poesia não existe. O que existe são escritos.
8.
Poesia é o grande esgoto do mundo. Prefiro as prateleiras cheias dos supermercados.
9.
Ficção científica é salutar. Philip K. Dick me faz desligar.
10.
Ninguém tem todos os parafusos bem apertados.
ainda terei um dia de sorte
ainda terei um dia de sorte
um dia os números irão colar em mim
como percevejos ou pulgas
e eu abrirei um champanhe
e brindarei comigo mesmo:
- Dusquene, você venceu!
colocarei uma boa grana no banco
comprarei uns troços
talvez até um livro
- um livro? de quem? para que?
comprarei uma espreguiçadeira
e colocarei no meio da sala
que terá também um frigobar
e ficarei, ali, quentando ao sol
- Afinal, Dusquene, você venceu!
talvez até compre um binóculo
para espreitar a vizinhança
ou a lua ou a ponta do meu caralho
- Porra, Dusquene, afinal você venceu!
mas enquanto os números não caem no meu colo
é melhor eu acordar, me vestir e encarar Wilson,
o maldito chefe com cara de águia da expedição
um dia os números irão colar em mim
como percevejos ou pulgas
e eu abrirei um champanhe
e brindarei comigo mesmo:
- Dusquene, você venceu!
colocarei uma boa grana no banco
comprarei uns troços
talvez até um livro
- um livro? de quem? para que?
comprarei uma espreguiçadeira
e colocarei no meio da sala
que terá também um frigobar
e ficarei, ali, quentando ao sol
- Afinal, Dusquene, você venceu!
talvez até compre um binóculo
para espreitar a vizinhança
ou a lua ou a ponta do meu caralho
- Porra, Dusquene, afinal você venceu!
mas enquanto os números não caem no meu colo
é melhor eu acordar, me vestir e encarar Wilson,
o maldito chefe com cara de águia da expedição
Sem saída num dia quente de maio
"Sei de umas coisas, mas acho que não vou lhe dizer, Dusquene". "Ah é? O que é, mano?". "Eu converso com o Grande Deflorador todas as noites". "E o que ele lhe diz?". "Que todas as mulheres me pertencem". "É". "E que ele somente permite que os outros as desfrutem - ou melhor, fodam - para a propagação da espécie. Mas todas me pertencem. É certo". "Então, obrigado por me emprestar a minha mulher". "Tudo bem. Mas cuide bem dela, um dia você terá que devolvê-la a mim. E quero receber o produto em bom estado, OK?". Olhei pro sujeito mais diretamente. Seus olhos estavam baços. Não sabia se ria ou lhe dava um murro. Por via das dúvidas, fiquei com a segunda opção.
Os Porquês
por que essa urgência, essa premência
para magoar?
por que as ruas estão cheias de sonhos mortos
que esbarram em pessoas tristes?
por que essa falta de?
por que a ficha jamais cai na máquina?
essa fatalidade...
por que essa falta de qualquer coisa?
tanta ironia e impiedade
por que essa carência de sentimento?
ei,
ninguém sabe a quantidade certa de uísque
que traz a tal felicidade?
será que ninguém vê o que acontece nas ruas?
E por que tantos pobres e,
principalmente,
por que tão poucos ricos
com suas piscinas, carros, mulheres,
e garagens (quero o meu quinhão deste sonho)
e possibilidades
e tudo o mais?
por que esse
abandono
e essa insônia rubra?
porra,
por que ninguém me diz
nunca
"vai cara, você consegue".
para magoar?
por que as ruas estão cheias de sonhos mortos
que esbarram em pessoas tristes?
por que essa falta de?
por que a ficha jamais cai na máquina?
essa fatalidade...
por que essa falta de qualquer coisa?
tanta ironia e impiedade
por que essa carência de sentimento?
ei,
ninguém sabe a quantidade certa de uísque
que traz a tal felicidade?
será que ninguém vê o que acontece nas ruas?
E por que tantos pobres e,
principalmente,
por que tão poucos ricos
com suas piscinas, carros, mulheres,
e garagens (quero o meu quinhão deste sonho)
e possibilidades
e tudo o mais?
por que esse
abandono
e essa insônia rubra?
porra,
por que ninguém me diz
nunca
"vai cara, você consegue".
Eloisa
estamos no frio
é, no frio, entre prédios, gente, gatos, ruas,
queremos um pouco de tranquilidade,
ver o futuro antecipado,
o presente indo mais rápido,
como se nada passasse
honestamente
como os milhares de pessoas
que cruzaram o nosso caminho,
tolamente, para nada,
vejo longe uma estrela
ela é também uma idiota qualquer
é, no frio, entre prédios, gente, gatos, ruas,
queremos um pouco de tranquilidade,
ver o futuro antecipado,
o presente indo mais rápido,
como se nada passasse
honestamente
como os milhares de pessoas
que cruzaram o nosso caminho,
tolamente, para nada,
vejo longe uma estrela
ela é também uma idiota qualquer
segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014
A Julia Newman
Nenhum corpo mortalmente insano
Viverá para contar, enquanto gritarmos
no calejado nó de nossas bocas...
no emborcar da garrafa em meio ao nada
aquele verde espectral, aquela parede morta
há muito, o quadro, a natureza morta, morta,
mais que Julia Newman em minha vida.
Se você souber onde ela está neste momento
Julia Newman... mande um toque
diga que o Otto escreveu este poema pra ela,
pra seus cabelos de trigo louros, para suas
ancas, para livrar-se do tédio do vinho passado,
para relembrar uma tarde
de pássaros sem gaiolas
Viverá para contar, enquanto gritarmos
no calejado nó de nossas bocas...
no emborcar da garrafa em meio ao nada
aquele verde espectral, aquela parede morta
há muito, o quadro, a natureza morta, morta,
mais que Julia Newman em minha vida.
Se você souber onde ela está neste momento
Julia Newman... mande um toque
diga que o Otto escreveu este poema pra ela,
pra seus cabelos de trigo louros, para suas
ancas, para livrar-se do tédio do vinho passado,
para relembrar uma tarde
de pássaros sem gaiolas
Um jorro, um vômito
Dusquene, Otto
Profissão: ...
Idade: 49 anos
Expectativa: um porre menos dramático, talvez
Viver: um ato de fé, acredito
Fé: um ato
Um mulher: a que me faça rir
Mulheres: só algumas prestam, de verdade, em essência; a maioria só serve para enlouquecer o homem
Profissão: ...
Idade: 49 anos
Expectativa: um porre menos dramático, talvez
Viver: um ato de fé, acredito
Fé: um ato
Um mulher: a que me faça rir
Mulheres: só algumas prestam, de verdade, em essência; a maioria só serve para enlouquecer o homem
Um estrondo na guerra intrínseca
falaremos de muitas coisas
coisas imprestáveis para serem ditas
e nem iremos entornar o último copo
porque não deu
teremos que nos haver com as sobras do supermercado de
cinco semanas
e não mais riremos
porque as lembranças estarão meio enevoadas nesta época
e somente teremos pena de nós mesmos e do que nos tornamos
coisas imprestáveis para serem ditas
e nem iremos entornar o último copo
porque não deu
teremos que nos haver com as sobras do supermercado de
cinco semanas
e não mais riremos
porque as lembranças estarão meio enevoadas nesta época
e somente teremos pena de nós mesmos e do que nos tornamos
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