sexta-feira, 5 de abril de 2013
A fé inabalável na velha amizade
Burns tinha um olho de vidro. O cara que fez a prótese sacaneou com ele. Fez o olho um pouco menor que o globo ocular.
Era constrangedor conversar com Burns. Ele me via no bar, arrastava a cadeira e sentava.
- Como vai, Dusquene?
- Tudo bem. E com você?
- Vou indo.
A conversa seguia. Eu pedia mais um drink. Burns outro. Sei lá, o músculo ocular relaxava depois de umas doses.
- O olho caiu, Burns.
- O que?
- O olho...
- Caralho! Aquele filho-duma-cadela me paga...
E a coisa ia assim, mais meia hora:
- De novo, Burns.
- Ahh?
Eu apontava para o meu olho esquerdo, que seria o olho direito falso de Burns, em imagem invertida.
- Porra, que merda! Desculpe, Duc.
- Não se preocupe. Não tem um jeito de colar?
- Você está brincando comigo, não é?
- Sei lá. Não entendo dessas coisas - eu disse - Esquece - e pedi outro drink.
A coisa foi abaixo novamente.
Dessa vez o olho de íris marrom escuro rolou pelo tampo da mesa e foi parar no chão.
- Passou perto de sua mão. Podia ter segurado.
- Desculpe, Burns, mas agarrar olho de alguém é demais para mim.
E levantei com meu drink.
Burns me olhou puto.
- Você é um cretino, Dusquene.
- Para algumas coisas realmente sou.
Antes de me dirigir ao balcão, lhe disse:
- Se eu fosse você recolheria logo esse olho. O proprietário gosta de passar um esfregão e...
Vi o olho restante de Burns aflito perscrutando o chão.
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