Divagação
"tem um melaço"
"é?"
"um gosto de baunilha, umas"
"é?"
"outra verte catarro esverdeado"
"é?"
"limão é bom, com aquele sumo. tem também as alcalinas"
"você conhece bem o riscado"
"vê...", botou pra fora uma língua imensa,
grossa como lixa de marcenaria
"tenho vasta experiência"
"é, dizem"
"sou o maior provador de p.h. de boceta do país"
"sei"
"é?"
"um gosto de baunilha, umas"
"é?"
"outra verte catarro esverdeado"
"é?"
"limão é bom, com aquele sumo. tem também as alcalinas"
"você conhece bem o riscado"
"vê...", botou pra fora uma língua imensa,
grossa como lixa de marcenaria
"tenho vasta experiência"
"é, dizem"
"sou o maior provador de p.h. de boceta do país"
"sei"
Inconsciências, a parte dolorida
muito perto
estamos uns dos outros
para sabermos
quais vidas são
consistentes,
quais não
há pessoas
destroçadas
que sorriem
velhas aflições
debaixo da pele
há trincas nos
rostos e na alma
que não fecham
nunca
mais saberemos viver com elas
estamos uns dos outros
para sabermos
quais vidas são
consistentes,
quais não
há pessoas
destroçadas
que sorriem
velhas aflições
debaixo da pele
há trincas nos
rostos e na alma
que não fecham
nunca
mais saberemos viver com elas
sexta-feira, 29 de maio de 2015
Reta posição pra se mijar na pia
ensandecidos
seguem os homens
por ninharias
estafam-se em
seus empregos-verdugos,
que drenam o sangue
do indivíduo
tropeçam,
abrutalhados,
nas próprias inconsequências
de uma vida inútil,
no grande vazio
lavadores de copos e pratos,
manobristas de uniforme,
vendedores de apólices,
mercadores de quinquilharias
fabricamos nossa própria condição e
é com este fardo, às costas,
que caminhamos, olhos encovados,
divisando maçãs e peras,
que nunca abocanharemos
seguem os homens
por ninharias
estafam-se em
seus empregos-verdugos,
que drenam o sangue
do indivíduo
tropeçam,
abrutalhados,
nas próprias inconsequências
de uma vida inútil,
no grande vazio
lavadores de copos e pratos,
manobristas de uniforme,
vendedores de apólices,
mercadores de quinquilharias
fabricamos nossa própria condição e
é com este fardo, às costas,
que caminhamos, olhos encovados,
divisando maçãs e peras,
que nunca abocanharemos
O meu companheiro em desagrado
"Pro inferno, Dusquene"
O diabo me intimará
eu continuarei a beber meu drink, ainda em casa,
sossegado
"Já é hora de termos uma conversa séria, amigo"
"O que?! Você está me desafiando"
"Pode-se dizer que sim"
"Você não tem nenhuma carta na manga. Você teve uma vida de merda"
"Mas a sua não é lá essas coisas"
"Eu sou o demo".
"Hum, camarada, perto do que eu já vi nessa vida, você está mais
pra madre Teresa de Calcutá"
"Embrulhe seus troços e vamos"
"Para onde?"
"Para baixo, ora".
"Não dá pra adiar até segunda? Hoje tenho um compromisso com Liv, no Frank's"
"De forma alguma"
"Ela tem uma bela bunda. Cê sabe?"
"Hum... Acho que dá pra negociar um prazo"
"Então, ao Frank´s?"
"É, pode ser, ao Frank's"
Levantamos e saímos, bons amigos
Haver
haveremos de ter uma parte nisto
quando os filhos crescerem,
quando o cachorro morrer de velho,
quando as mariposas vierem,
quando o gato roer o rato
e o queijo embolorar
quando a bandeira ficar a meio pau
e o pau não puder com algumas
socadas
neste instante
não precisaremos mais
nos preocupar - esperamos -
porque, quando
tudo isto vier,
estaremos longe
quando os filhos crescerem,
quando o cachorro morrer de velho,
quando as mariposas vierem,
quando o gato roer o rato
e o queijo embolorar
quando a bandeira ficar a meio pau
e o pau não puder com algumas
socadas
neste instante
não precisaremos mais
nos preocupar - esperamos -
porque, quando
tudo isto vier,
estaremos longe
Alma (é preciso uma...)
conserve sua alma,
mesmo que os imbecis ao seu lado
tentem consumi-la com tédio,
risos, ideias e palavras ocas
conserve sua alma,
mesmo que tenha que socar, chutar,
foder com alguma vida idiota,
melhor do que ver a sua ir pro ralo,
desde que a sua
realmente valha a pena
conserve sua alma
aos berros, bebendo litros
da boa e velha cerveja
que você tanto preza
e tem domínio
de causa
conserve sua alma,
mesmo que queiram fazer
de seus dias e noites uma nódoa sem fim,
porque você merece paz e silêncio,
principalmente quietude,
para descrever suas experiências
com tantos seres imprestáveis e disformes
que atravessam o
seu caminho
quarta-feira, 27 de maio de 2015
Pássaros
somos os nossos
obstáculos,
o que fazemos
de nós mesmos
aniquila
estamos acostumados
com o derredor,
somos cracas em frestas
merecemos
alguma trégua,
real,
mas...
somos pássaros
pousados nos fios de energia,
para nada,
lodo chapiscante na paisagem
obstáculos,
o que fazemos
de nós mesmos
aniquila
estamos acostumados
com o derredor,
somos cracas em frestas
merecemos
alguma trégua,
real,
mas...
somos pássaros
pousados nos fios de energia,
para nada,
lodo chapiscante na paisagem
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