Elfroy tinha 130 quilos. Encontrei com ele num bar, num dia excepcionalmente frio. Eu estava usando um sobretudo de lã grossa, emporcalhado, cheio de furos de cigarro e outras merdas. "Dusquene, um dia vou ter dez quilos! Pense nisso, Dusquene, dez quilos!". Eu olhei para aquela banha toda saindo na frente e pelos lados. "Tudo bem, Elfroy, sente aí que hoje estou de bom humor. Vou lhe pagar um drinque". "É isso aí", disse ele. Fui ao banheiro, mijei e voltei. Elfroy já tinha emborcado o copo de gim e ido embora. Um mês depois recebi a notícia. Elfroy havia se jogado do sétimo andar de um prédio cinza na Panisade. Imaginei o estrago no asfalto. O homem todo esparramado, que nem panqueca, ou coisa que o valha. Um ano depois o frio invernal de novo. Tirei a merda do sobretudo dos fundos do guarda-roupa. Meti as mãos nos bolsos. Num deles havia algo encrustado. Parecia papel. Desvencilhei o negócio dos fios de lã soltos. Era realmente um papel, e dobrado. Desamassei devagar. Era um bilhete. Um bilhete de Elfroy. Dizia: "Eu não disse, Dusquene, seu fdp, dez quilos, agora!"
Nenhum comentário:
Postar um comentário